ESTRATÉGIA: O QUE TEMOS A APRENDER COM O US ARMY?

 

Já falamos aqui sobre uma técnica para combater o viés de otimismo, o pre mortem. É a idea de se fazer um exercício projetivo do fracasso completo da sua estratégia e fazer a “autopsia” desse hipotético cadáver. Assim, evita-se o famoso “empolgou”, presente em tantos e tantos processos de planejamento estratégico.

Se essa é uma perspectiva mais cognitiva da questão, há também uma outra, que é a militar.

Em um artigo para a Harvard Business Review co-escrito com Jay Galeota, o Tenente General reformado do exército americano Rick Lynch traz a noção de que, no âmbito militar, sempre [ou quase] que alguma decisão de campo precisa ser tomada muito em cima do fato e uma ação militar precisa ser improvisada, isso representa uma falha de planejamento, uma falha em antecipar os movimentos que levaram a essas circunstâncias.

Como isso resulta diretamente em perdas de vidas, os militares vêm há anos e anos desenvolvendo técnicas para encontrar falhas nas estratégias militares ANTES de elas serem executadas. É o que eles chamam de “pressure-test”. E ele lista no artigo quatro delas, que podem ser muito úteis para ambientes de negócios.

1. Situational awareness

Grosso modo, situational awareness [SA] é atingido quando os militares acessam determinado ambiente de diversos pontos distintos e garantem que tem perspectiva sobre todo o campo.

Pode ficar mais simples de entender isso imaginando efetivamente um local físico de conflito, mas em business SA pode ser atingido fazendo um exercício de “realidades alternativas”.  Quando você passa a imaginar cenários hipotéticos do que pode acontecer no seu mercado que mudaria o seu curso de ação.

“E se a minha tecnologia virar comodite? E se entrar um novo competidor jogando o preço lá embaixo? E se pintar uma nova legislação que restrinja parte da minha proposta de valor?”

São exemplos de questões que ajudam a construir SA e garantem que você não será pego de surpresa. Claro que não é possível prever absolutamente tudo no mundo, mas algumas dessas questões prioritárias bem mapeadas podem fazer toda a diferença para ninguém ser pego de surpresa.

Indo mais além, Rick sugere que se tenha gatilhos mapeados para todas essas realidades alternativas prioritárias e que quando o gatilho for acionado, já haja ações de conteção pré-definidas, para que ninguém saia batendo cabeça sobre o que fazer.

2. Gamificação

No meio militar, jogos são amplamente difundidos, como maneira de prever na prática como será o conflito no campo. É comum que diferentes times sejam formados para lidar com uma situação específica de combate, contra outro time. Isso ajuda muito a entender como pode ser a cabeça do outro lado e tudo o que precisa ser feito para evitar situações desvantajosas no momento da ação.

No ambiente de negócio, os chamados “war gamings” também são conhecidos e praticados. Na mesma perspectiva, equipes diferentes são formadas na empresa para tentarem solucionar determinado desafio. Cada uma delas, por exemplo, veste o chapéu de um player diferente para entender como solucionaria as situações que são colocadas na mesa pelo grupo que está propondo o jogo.

Ao final, colhe-se os aprendizados de todos os lados e isso vira insumo para um planejamento estratégico mais sólido, que conta com a visão não só da empresa, mas dos potenciais movimentos do outro lado também, podendo antecipar uma série de questões importantes para o sucesso da empreitada.

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3. Diversidade

A última dica tem a ver com pessoas. E pessoas em conjunto. É a ideia de que as empresas podem ter “forças-tarefas” formadas por pessoas de diferentes backgrounds e especialidades, mas todas com algo em comum: capacidade analítica e de resolução de problemas.

Essas equipes podem fazer toda a diferença para não gerar um olhar enviesado ou departamentalizado para determinadas questões e, na troca entre eles, podem surgir com ideias novas e frescas sobre como lidar com os desafios da empresa.

4. Perspectiva de fora para dentro

Para fazer esse ponto, Rick começa dando o exemplo da aviação no âmbito militar, que sempre foi usada para mapear campos de batalha e ampliar a visão sobre deslocamento de tropas. Até que no começo do século XX os aviões passaram a ser armas de fato nas guerras.

E isso nos leva a ideia de sempre questionar o que nos nossos negócios podem se deixar de ser encarados como custos ou processos e sim como novas linhas de negócio. Empresas que fazem conteúdo para se comunicar com seu público podem passar a produzir conteúdo para outros? Determinada operação que serve apenas para reduzir custo para a sua própria empresa pode passar a ser comercializada da porta pra fora?

O pensamento aqui é como entender quais são os assets da sua empresa que podem te fazer sobreviver e se reinventar diante de mudanças drásticas de cenário.


Algumas visões aqui podem parecer militarizadas demais, mas a verdade é que estratégia militar existe há muito, mas muito, mais tempo do que estratégia aplicada a negócios. Certamente temos algo a aprender com esses caras e vale a pena por em prática parte das suas ideias.

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