A complexa ciência da estratégia de pricing

A definição de preço ótimo para um produto é uma das tarefas mais complexas em um negócio. Ela envolve uma série de variáveis que precisam ser cuidadosamente consideradas para promover o sucesso das empresas. Compreender como o preço é percebido pelos clientes é crucial, pois eles comparam os preços de compra com o valor relativo do desempenho esperado do produto e do serviço prestado pelo fornecedor. De fato, embora o preço pareça ser o fator menos subjetivo, sua percepção é altamente influenciada pela forma como é estruturado e comunicado.

Por exemplo, empresas industriais podem cobrar custos de instalação separadamente para manter a aparência de preços unitários baixos, e práticas como descontos por volume, rebates no final do ano, termos de crédito e inclusão de custos de transporte são métodos utilizados para influenciar a percepção do preço pelo cliente. A sincronização das mudanças de preço também desempenha um papel fundamental. Uma empresa que segue os aumentos de preço dos concorrentes com um atraso de algumas semanas pode ser percebida como um fornecedor de baixo custo, mesmo que as mudanças de preço entrem em vigor no mesmo dia.

Além disso, a falta de informações adequadas dificulta a tomada de decisões acertadas sobre o nível de preço, sua estrutura e o momento das mudanças. A ausência de dados internos precisos sobre custos, um ponto de referência claro no mercado ou a valorização do produto pelo cliente obriga os fabricantes a confiar em suposições ao definir o preço. Sem entender o processo de decisão de compra dos clientes, é provável que estruturem e comuniquem preços de maneira contraproducente. A incerteza sobre taxas de inflação futuras, mudanças de custos, ações dos concorrentes e reações dos clientes também complica o momento certo para ajustar os preços.

No mundo ideal dos economistas teóricos, a liberdade de definir preços não existe, pois o ponto onde a curva de demanda cruza a curva de oferta reflete os custos e capacidades coletivas de todos os fornecedores, determinando o preço. No entanto, os profissionais de marketing industrial bem-sucedidos compreendem e exploram as imperfeições do mercado real, que afetam as dinâmicas de oferta e demanda e determinam a liberdade de preços, abrindo oportunidades significativas de melhoria de lucros através de uma precificação proativa.

Ao analisar uma grande quantidade de pedidos individuais de um produto industrial específico em um mercado específico, é comum emergir uma curva de distribuição de frequência normal em relação ao preço. Esta “banda de preços” resulta de variações nos fatores de demanda e oferta. A inércia dos clientes, ou a tendência de permanecer com um fornecedor estabelecido, muitas vezes contribui para essa variação. Em algumas indústrias, obter negócios de novos clientes raramente é possível sem um incentivo substancial de preço.

A visibilidade do preço é outro fator que influencia a largura da banda de preços. Em indústrias onde todos os clientes conhecem os preços pagos pelos concorrentes pelo mesmo produto, há pouca variação de preço. Em contraste, em indústrias onde a visibilidade do preço é baixa, a banda de preços tende a ser mais ampla. Além disso, o poder de compra do cliente também é refletido na largura da banda de preços; grandes compradores limitam a liberdade do fornecedor para aumentar preços, enquanto a fragmentação do poder de mercado entre muitos pequenos clientes tende a ampliá-la.

Diferenças entre concorrentes, como custos de transporte, qualidade do produto, recursos, desempenho, serviço e eficiência de vendas, também contribuem para as variações de preço. O nível de intensidade competitiva em uma indústria afeta ainda mais essa variação e, consequentemente, o grau de liberdade disponível para a precificação proativa.

Portanto, definir um preço ótimo para um produto é um processo complexo que exige uma compreensão profunda das percepções dos clientes, das práticas de precificação dos concorrentes e das dinâmicas de mercado. A abordagem proativa na precificação, aliada ao monitoramento contínuo das condições de mercado e das reações dos clientes, é fundamental para maximizar os lucros sem comprometer a posição competitiva no mercado.

   

A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO SOBRE COMO ESTABELECER PREÇOS

Determinar o preço de um produto ou serviço é uma das decisões mais complexas e estratégicas que uma empresa pode tomar. Diversas abordagens podem ser adotadas, cada uma com suas próprias vantagens e desvantagens, e a escolha da estratégia adequada pode influenciar diretamente o sucesso financeiro e competitivo da organização. Desde as metodologias mais tradicionais e intuitivas, como a precificação baseada em custos, até as mais sofisticadas e adaptativas, como a precificação dinâmica, as empresas devem considerar uma variedade de fatores internos e externos para definir o preço que melhor atenda aos seus objetivos e ao mercado. Aqui vamos explorar, em uma perspectiva evolutiva, as principais estratégias de precificação, suas características, benefícios e desafios sobre como as empresas podem otimizar seus processos de definição de preços para maximizar lucros e satisfazer seus clientes.

Cost-Based Pricing

Uma das abordagens mais clássicas e rudimentares utilizadas por empresas para determinar o preço de seus produtos ou serviços é a precificação baseada em custos. Essa estratégia se concentra em calcular o preço de venda adicionando uma margem de lucro aos custos totais de produção e operação. Em sua essência, a precificação baseada em custos envolve a soma de todos os custos associados à fabricação ou prestação de um produto, como matéria-prima, mão de obra, custos indiretos de fabricação e despesas gerais. Sobre esse custo total, adiciona-se uma margem de lucro desejada para determinar o preço final de venda.

Uma das principais vantagens da precificação baseada em custos é sua simplicidade e clareza. É uma metodologia direta que pode ser facilmente compreendida e aplicada, especialmente por pequenas empresas e startups. Além disso, garante que todos os custos sejam cobertos, proporcionando uma margem de lucro previsível. Porém, ao focar exclusivamente nos custos internos, a precificação baseada em custos pode ignorar fatores externos como a percepção de valor pelo cliente e a dinâmica competitiva do mercado. Isso pode resultar em preços que não são competitivos ou que não maximizam o potencial de receita da empresa.

Competition-Based Pricing

Uma outra forma de pensar em preço é, obviamente, não olhar apenas para si próprio e considerar o mercado. Em contraste com a precificação baseada em custos, essa abordagem leva em consideração as dinâmicas externas do mercado e as estratégias de precificação adotadas pelos concorrentes diretos. A ideia é ajustar seus próprios preços de forma a se alinhar, superar ou manter competitividade em relação aos concorrentes no mercado. Essa abordagem é particularmente relevante em indústrias onde a competição é intensa e os consumidores têm fácil acesso a informações sobre os preços dos produtos ou serviços oferecidos.

Ao ajustar os preços para acompanhar ou ficar abaixo dos concorrentes, as empresas conseguem atrair clientes que estão sensíveis ao preço e que valorizam a economia em suas decisões de compra. Além disso, essa abordagem pode ser uma maneira eficaz de reduzir o risco de perder clientes para competidores que oferecem preços mais atrativos. No entanto, ao seguir cegamente os preços dos concorrentes, as empresas correm o risco de entrar em uma guerra de preços, onde as margens de lucro podem ser erodidas rapidamente. Além disso, essa estratégia pode limitar a capacidade da empresa de diferenciar seu produto ou serviço com base em outros atributos além do preço, como qualidade, inovação ou serviço ao cliente.

Value-Based Pricing

Por isso, atualmente um dos principais métodos de precificação é aquele baseado no valor percebido pelo cliente. Essa abordagem reconhece que os clientes estão dispostos a pagar um preço que corresponda ao valor que percebem receber do produto ou serviço. Em outras palavras, não se trata apenas de cobrir custos e adicionar uma margem de lucro ou estar equiparado ao mercado, mas também de entender profundamente as necessidades, desejos e percepções dos clientes em relação ao que estão comprando. Isso pode significar, por exemplo, precificar um produto premium que oferece características únicas ou benefícios superiores, o que justifica um preço mais alto para os consumidores que valorizam esses atributos. Ou o contrário: saber que está entregando um produto muito simples, funcional, sem grandes diferenciais, e cobrar um preço baixo, mais adequado à proposta de valor.

Essa estratégia não apenas ajuda as empresas a capturar o valor máximo do cliente, mas também pode diferenciar a oferta da empresa no mercado competitivo. Em vez de competir apenas com base no preço, as empresas que adotam a precificação baseada no valor percebido podem construir uma vantagem competitiva sustentável ao fornecer uma oferta que os clientes considerem superior em termos de benefícios percebidos. Empresas de setores como tecnologia, luxo, saúde e serviços financeiros frequentemente adotam essa estratégia, oferecendo produtos e serviços que são percebidos como premium pelos clientes que valorizam qualidade, exclusividade ou experiência superior.

No entanto, implementar a precificação baseada no valor percebido não é sem desafios. Requer uma compreensão profunda do mercado e dos segmentos de clientes, bem como a capacidade de comunicar de forma eficaz os benefícios diferenciados que justificam o preço mais alto. Além disso, o valor percebido pelo cliente pode variar significativamente entre diferentes segmentos de mercado, exigindo uma abordagem personalizada para diferentes grupos de clientes.

Dynamic pricing

Reconhecendo essa dificuldade e apelando à ciência de dados para lidar com ela, atualmente vemos muitas iniciativas de precificação dinâmica. Ao contrário das abordagens estáticas de precificação, como custo, concorrência ou valor percebido pelo cliente, o dynamic pricing adapta os preços em tempo real, levando em conta fatores como oferta e demanda, sazonalidade, horário do dia, localização geográfica, perfil do cliente e até mesmo ações dos concorrentes. O exemplo mais visto no dia a dia é o de aplicativos de transporte. Mas setores como hotelaria, entretenimento e serviços digitais também são exemplos onde o preço é comumente utilizado para ajustar os preços conforme as condições do mercado mudam. Ao adotar essa estratégia, as empresas podem não apenas otimizar a receita, mas também melhorar a experiência do cliente ao oferecer preços competitivos e relevantes com base nas circunstâncias específicas do momento.

Essa estratégia se beneficia do uso de tecnologias avançadas de análise de dados e algoritmos sofisticados para capturar insights em tempo real sobre o comportamento dos clientes e as condições de mercado. Um dos principais objetivos do preço dinâmico é otimizar a receita e maximizar a lucratividade, ajustando os preços para refletir o valor percebido pelo cliente em momentos específicos. Isso pode resultar em preços mais altos durante períodos de alta demanda ou escassez de estoque, e preços mais baixos para atrair consumidores durante períodos de menor demanda ou para liquidar estoques excedentes. No entanto, essa abordagem também não está isenta de desafios e considerações éticas. Além de requer uma compreensão profunda dos dados do cliente, capacidade analítica robusta, o método pode gerar preocupações sobre equidade e transparência, especialmente quando os consumidores percebem variações significativas nos preços de um dia para o outro ou de um cliente para outro. Há um desafio de comunicação envolvido, para mitigar qualquer reação negativa dos clientes.

   

COMPOSIÇÃO DE PREÇO EM DINÂMICAS DE PORTOLIO

No contexto de um portfólio diversificado de produtos e serviços, a estratégia de precificação desempenha um papel crucial na maximização da receita e na gestão eficaz das expectativas dos consumidores. Uma abordagem especialmente eficaz para isso é o Good-Better-Best (Bom-Melhor-Melhor), que oferece uma série de opções aos consumidores, alinhando diferentes níveis de valor percebido com preços variados.

No cerne do G-B-B está a ideia de oferecer aos clientes uma variedade de opções que variam em funcionalidades e preço, permitindo que cada segmento do mercado encontre uma solução adequada às suas necessidades e orçamento. Essa abordagem não é apenas sobre capturar diferentes segmentos de clientes, mas também sobre criar um impacto psicológico positivo, onde os consumidores são guiados a fazer escolhas informadas e se sentem empoderados pelo leque de opções disponíveis.

A oferta inicial, denominada “Good”, geralmente serve como a opção de entrada, projetada para atrair consumidores sensíveis a preços que podem estar inicialmente hesitantes em comprar o produto ou serviço principal. Esta versão “Good” pode ser simplificada em termos de funcionalidades ou características, mas ainda assim oferece um valor suficiente para atrair um segmento mais amplo de mercado.

Por outro lado, a versão “Better” aprimora a oferta básica, adicionando funcionalidades adicionais ou melhorias significativas que justificam um preço mais alto. Essa camada intermediária visa capturar consumidores que valorizam um nível moderado de qualidade e estão dispostos a pagar um pouco mais por recursos adicionais que melhoram a experiência ou o desempenho do produto.

O ponto mais alto da pirâmide é a oferta “Best”, que representa o ápice em termos de funcionalidades e valor agregado. Esta versão premium não apenas atende aos consumidores que buscam o melhor desempenho e os recursos mais avançados, mas também posiciona a marca como líder no segmento de mercado de alto valor. A estratégia “Best” é frequentemente acompanhada por um preço mais elevado, mas é suportada por um conjunto de benefícios tangíveis que justificam a despesa adicional para os consumidores dispostos a investir no melhor disponível.

Ao oferecer clareza nas escolhas e um caminho claro de upgrade, as empresas podem influenciar o comportamento de compra dos clientes, incentivando-os a considerar não apenas o preço absoluto, mas também o valor percebido em relação às diferentes ofertas disponíveis. Claro que a implementação bem-sucedida do G-B-B não se limita à precificação e segmentação do produto. Ela também exige uma estratégia de comunicação eficaz que eduque os consumidores sobre as vantagens de cada opção e os guie na escolha da oferta que melhor atenda às suas necessidades específicas. Ao alinhar cuidadosamente a estratégia de precificação com a proposta de valor de cada segmento de produto, as empresas podem não apenas aumentar a receita, mas também fortalecer o relacionamento com os clientes ao oferecer soluções personalizadas e adaptadas às suas preferências individuais.

   

A COMPLEXA RELAÇÃO ENTRE MARCA E PREÇO

Para fechar, cabe uma reflexão sobre um dos temas mais complexos de pricing, que é o papel do asset intangível da marca na formação de preços de uma empresa.

Nesse sentido, é importante reconhecer primeiramente o caminho inverso, ou seja, que o preço funciona como um fator de posicionamento de marca. Marcas que optam por um posicionamento de preço baixo, como Walmart, utilizam essa estratégia para se diferenciar no mercado. Ao oferecer preços mais acessíveis consistentemente, Walmart se estabelece como uma opção econômica e conveniente para os consumidores, capturando um segmento específico que valoriza economia e praticidade.

Por outro lado, há marcas de luxo que utilizam o exato contrário, fazendo do preço um elemento que ajuda a compor a sua distinção para o restante. Mas para nem ir para o extremo do mercado de luxo, podemos pensar em marcas mais do dia a dia como a Toyota, que opta por um preço mais alto para reforçar sua imagem de qualidade e confiabilidade. A montadora japonesa construiu ao longo dos anos uma reputação de produzir veículos duráveis e de alto desempenho. Esse histórico permite à marca justificar um preço premium, posicionando-se como uma escolha confiável para consumidores que priorizam esses atributos, mas sem apelar ao grande mercado de luxo.

No fundo, a grande questão aqui é o “sweet spot”. Como entender quanto a força e o valor percebido da marca – não do produto – podem ser “colocados” no preço pelas empresas, de forma que capturem toda a receita que elas tem possibilidade de capturar a partir da percepção de valor que dispõe. Porque ao mesmo tempo que ao acertar nessa conta você trabalha com uma captação de receita ótima, errar a mão pode trazer prejuízos significativos.

Por isso, as estratégias de precificação não podem ser dissociadas da estratégia de branding de uma empresa. O preço não apenas define onde uma marca se posiciona no espectro de mercado, mas também comunica implicitamente suas promessas de valor aos consumidores. Marcas que conseguem alinhar estratégias de preço com percepções de valor têm uma vantagem competitiva significativa, criando um ciclo virtuoso onde a percepção de alta qualidade justifica preços mais altos, e preços mais altos reforçam a percepção de alta qualidade.

Marcas que alcançam um status elevado conseguem influenciar significativamente a disposição dos consumidores em pagar mais por seus produtos. Um exemplo clássico é a Apple, que não apenas estabelece preços premium para seus dispositivos, mas também cultiva uma percepção de valor único e inovação que os consumidores estão dispostos a pagar.

Quando uma marca alcança esse status de alta valorização, ela se torna um ativo estratégico significativo para a empresa. Além de permitir uma estratégia de preços premium, marcas fortes desfrutam de uma lealdade de cliente mais profunda e sustentável. Isso não apenas aumenta as margens de lucro, mas também fortalece a posição da marca no mercado, tornando-a menos vulnerável à concorrência baseada exclusivamente em preços.

 
 

Concluindo, a definição de preços em um contexto empresarial é uma tarefa que exige uma compreensão abrangente das percepções dos clientes, das práticas dos concorrentes e das dinâmicas do mercado. Uma abordagem proativa e bem-informada na precificação pode não apenas maximizar os lucros, mas também consolidar a posição competitiva da empresa. A complexidade deste processo reflete a necessidade de estratégias de precificação flexíveis e adaptáveis, que considerem tanto os fatores internos quanto os externos. Dessa forma, as empresas podem navegar pelas incertezas do mercado e ajustar seus preços de maneira estratégica e eficaz.

Em última análise, a interseção entre marca e preço é crucial para a estratégia de precificação. A forma como uma marca é percebida pode determinar significativamente a disposição dos consumidores em pagar preços mais altos, enquanto o preço, por sua vez, contribui para a construção e reforço da imagem da marca. Alinhar a estratégia de preços com a proposta de valor da marca pode criar um ciclo virtuoso que beneficia tanto a percepção do cliente quanto os resultados financeiros da empresa. Portanto, a precificação deve ser vista como uma ferramenta estratégica essencial, integrada à identidade e aos objetivos de longo prazo da marca, permitindo que as empresas capturem o máximo valor de seus produtos e serviços.

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