Seguindo a linha de publicações da série Grandes Estrategistas, em que contamos a trajetória de profissionais que marcam esse universo, vamos falar sobre outro nome marcante no mundo corporativo: Reed Hastings. Muito do hobbie que você tem em relação a ver filmes e séries se deve a esse homem, que revolucionou os nossos hábitos no sofá como CEO e co-fundador da icônica plataforma de streaming, a Netflix.
Foi em 1997 que Hastings e seu ex-colega da Pure Software, Marc Randolph, fundaram a Netflix. De lá pra cá, a empresa se transformou no sucesso que é hoje, algo que jamais passaria pelos melhores sonhos de Reed, que destacou não imaginar que os clientes usariam tanto esse serviço.
AFINAL, QUEM É REED HASTINGS?
Com fortuna avaliada, atualmente, em US$ 2,5 bilhões, Wilmot Reed Hastings Jr. nasceu no ano de 1960 em Boston, no estado de Massachusetts, EUA. Ele se tornou um empresário americano de sucesso e hoje é um exemplo para o universo empreendedor.
Em sua caminhada de estudos, concluiu o ensino superior na Bowdoin College, ingressando logo depois para o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA – não chegou a completar seu treinamento, decidindo entrar para o Corpo de Paz, onde destaca ter descoberto seu espírito empreendedor. Em 1988, concluiu mestrado em Stanford.
Destaque quando o assunto é filantropia, especialmente no segmento de estudos, Reed financia diversos projetos sem fins lucrativos. Em junho de 2020, doou US$ 120 milhões para financiar bolsas de estudo em duas faculdades historicamente negras e o United Negro College Fund.
UMA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL MARCADA PELA ASCENSÃO DA NETFLIX
O primeiro trabalho de Hastings foi na Adaptive Technology, em 1990. Pouco depois, deixou o cargo para fundar a sua primeira empresa, a Pure Software, em 1991. Em 1996, a Pure Software e a Atria Software viraram uma empresa só, mudando o nome para Pure Atria. Em 1997, a companhia foi comprada pela Rational Software, o que fez de Hastings seu diretor de tecnologia. Ele saiu pouco tempo depois da aquisição. No mesmo ano, juntou-se a Marc Randolph para fundar a Netflix.
O surgimento da ideia e a ascensão da Netflix
A Netflix surgiu no ano de 1997, inicialmente funcionando como uma empresa de aluguel de DVDs via correio com catálogo online. Os pedidos feitos pelos clientes ocorriam pelo site da empresa e chegavam através das entregas pelo correio. Assim, quando o usuário terminava o filme, devolvia nos envelopes. A empresa cresceu de forma relevante e adicionou em seu portfólio um novo serviço de assinatura. Com isso, os clientes poderiam alugar DVDs de forma ilimitada durante o mês, sem multas de atraso, pagando apenas um valor mensal.
Foi a partir dos anos 2000 que a empresa adotou um método de recomendação de filmes, ou seja, as pessoas que assinavam o aluguel de vendas davam suas classificações para os filmes. Isso é algo semelhante ao que já acontece na Netflix atualmente, mas ainda em um formato mais artesanal. A expansão mundial da Netflix é hoje um dos maiores fatores para o seu sucesso. Em 2017, a marca já estava em mais de 190 países e, atualmente, cerca de 73 milhões de seus assinantes estão fora do país americano. No segundo trimestre de 2018, obteve um lucro que excedeu as receitas do setor pela primeira vez.
Confira mais sobre o panorama estratégico da história da Netflix no blog.
Com a ascensão, Reed Hastings se tornou um dos nomes de respeito no meio digital. Mas ele não se considera como tal – mesmo que seja. Em reportagem do The New York Times, é citado como um executivo mais tradicional, clássico e discreto. Citação dele:
‘Elon Musk é uma pessoa 100 vezes mais interessante do que eu. Eu vou, tipo, fazer o núcleo básico, as coisas tradicionais muito bem. E ele é um dissidente em todas as dimensões. Ele é simplesmente incrível. Eu também nunca serei Steve Jobs, a pessoa criativa e brilhante. Eu sou um aspirante a Iger. Ele é um estadista’, elogiando o ex-CEO da Disney, Robert Iger – tem texto sobre esse gigante da Disney no nosso blog. É só clicar aqui para conferir.
Como a Netflix reinventou o RH?
Houve uma época em que executivos da Netflix escreveram uma apresentação em PowerPoint sobre as estratégias de gestão de talentos da organização. Só não imaginavam que um simples documento de apresentação interna se tornaria viral: foi visto por nada mais, nada menos do que 5 milhões de vezes na web. As pessoas acharam a abordagem da Netflix ao talento e à cultura surreal, o que demonstra porque a marca é tão bem-sucedida. A empresa se baseou em cinco princípios fundamentais nesse material, listados em artigo na HBR:
Contrate, recompense e tolere apenas adultos totalmente formados.
Diga a verdade sobre o desempenho.
Os gerentes devem construir grandes equipes.
Os líderes possuem o trabalho de criar a cultura da empresa
Os gerentes de talentos devem pensar primeiro como empresários e inovadores e, por último, como pessoas de RH.
A cultura da reinvenção aplicada por Hastings na Netflix
Em 2020, Hastings lançou a obra A regra é não ter regra: a Netflix e a cultura da reinvenção. O livro, que conta com a participação da especialista no mundo dos negócios Erin Meyer, destaca sobre a cultura que transformou a Netflix em um exemplo de criatividade e adaptação, explicando como seus princípios fizeram da plataforma um exemplo de inovação e sucesso. A leitura explica onde a companhia errou e acertou, bem como destaca a liberdade que todos dentro da organização tinham – que é ótima, desde que colocada de forma responsável, assim como Hastings o fez.
Também elencamos aqui algumas das principais lições que se pode aprender na produção:
Ofereça feedback a qualquer hora, em qualquer lugar
A maioria das pessoas reluta em fazer críticas construtivas a seus colegas e chefes. Mas, na Netflix o pensamento é outro: “É o mesmo que ser desleal à empresa se você não falar quando discordar de um colega ou tiver um feedback que possa ser útil”. Desde que o feedback seja dado com intenção positiva e forneça uma solução, deve ser dado a qualquer hora e lugar.
Pague às pessoas mais do que esperam
“Entrevistar abertamente e dar à Netflix os dados salariais beneficia a todos nós”. A Netflix acredita que, para atrair e reter talentos, é preciso pagá-los mais do que outra pessoa. Isso às vezes significa dar salários mais altos do que poderiam aceitar, muitas vezes antes mesmo de pedirem mais.
Vale a pena confiar nas pessoas
“A Netflix trata os funcionários como adultos que podem lidar com informações difíceis. Isso cria um sentimento de comprometimento e adesão.” Hastings afirma que, quando você dá aos funcionários acesso a informações que normalmente são reservadas para executivos seniores – como as finanças – eles sentem maior senso de responsabilidade. Por lá, é proibido manter segredos.
Defenda a ideia brilhante que seu chefe não gosta
Teve uma ideia muito boa, mas seu líder não achou? Persista. Anos atrás, os usuários da Netflix não tinham a capacidade de baixar o conteúdo. Mas Todd Yellin, vice-presidente de produto, e seu pesquisador sênior de UX, Zach Schendel, descobriram que 70% dos consumidores do YouTube na Índia usavam a função de download, e consumidores na Alemanha também confiavam nisso. Portanto, se a Netflix quisesse competir no exterior, precisava revisitar a ideia de download. Os gestores de Schendel e Yellin não concordaram, mas eles persistiram e mostraram suas descobertas a Hastings, que deu luz verde. Agora, você pode baixar conteúdo da Netflix.
Assuma seus erros
Hastings diz que os funcionários têm o poder de fazer grandes apostas sem aprovação. Se eles falharem, no entanto, é preciso falar. Ou seja, na Netflix, se o seu projeto falha, você deve compartilhar com a empresa a avaliação do que deu errado e do que você aprendeu. “Quando você expõe suas apostas fracassadas, todo mundo ganha”, destaca Hastings.
Pratique o ‘Teste do Guardião’
Quando viu a cultura da Netflix mudar depois que a empresa demitiu 1/3 de sua equipe, Hastings percebeu que a maneira mais eficaz de inovar era manter apenas “os guardiões”, como um “Teste dos Guardiões” – só fica de fato quem se encaixa nesse quesito. Hastings afirma que essa é uma maneira de manter a densidade de talentos alta o suficiente para permitir que os elementos culturais funcionem. A Netflix não tem cota de demissão ou sistema de classificação. Assim, os gerentes não sentem pressão para reduzir suas equipes em uma determinada porcentagem.
Dê contexto, não instruções
A Netflix não quer que seus líderes tomem todas as grandes decisões e controlem as situações de alto risco para seus subordinados diretos. Quer que eles definam o contexto, para que os funcionários se sintam capacitados e informados para fazer o julgamento por si mesmos – mesmo quando há milhões de dólares em jogo.
Curtiu saber mais sobre a cultura da Netflix? Então, provavelmente você curte também estratégias de negócios. Puxa a cadeira, pega a pipoca e vem com a gente ver quais peças estão se movendo no tabuleiro dos streamings e quais as próximas jogadas que podemos prever.
LIÇÕES DE NEGÓCIOS DE HASTINGS
Não é novidade que a Netflix domina o mercado de entretenimento. Neste cenário, é seguro dizer que Hastings tem cartas na manga quando se trata de inteligência de negócio. Veja algumas delas:
O marketing pode amortecer as fraquezas do negócio
“Um bom marketing acontece quando você pega algo que a maioria das p essoas considera fraco e reposiciona para que pensem como uma força”. O ponto fraco do início da Netflix era que os clientes esperavam um dia pela entrega. No entanto, segundo Hastings, o truque foi focar nos recursos que atraiam os consumidores, como os preços baixos.
Mire um nicho no mercado
Quando há uma dor, você quer ser como a aspirina, não como as vitaminas. A aspirina resolve um problema muito particular que alguém tem, enquanto as vitaminas servem o mercado geral do ‘é bom ter’. Neste caso, a Netflix é uma aspirina, de acordo com Hastings. Daí é que surge parte de seu sucesso: é melhor ter uma função específica e atingir quem procura tal serviço ou produto do que não se focar em um nicho.
Cultura participativa é cultura vencedora
“Tentamos constantemente incentivar os funcionários a pensar em como melhorar a cultura, não como preservá-la”. A cultura da Netflix não é novidade. A empresa investe em valores, como comunicação, curiosidade e coragem e em uma gestão parcialmente horizontal.
Olhe para trás: será que você faria diferente?
Hastings destacou que, se tivesse feito algo diferente em sua trajetória, teria começado mais tarde. “Quando lançamos, quase não havia aparelhos de DVD, então, nos primeiros anos nós apenas lutamos. Mas, como empreendedor, você precisa sentir que pode pular de um avião porque está confiante de que pegará um pássaro voando. É um ato de estupidez, e a maioria dos empresários vai respingar porque o pássaro não aparece, mas algumas vezes ele aparece. A maioria das ideias empreendedoras parecerá malucas, estúpidas e antieconômicas, e então se tornarão certas.”
O pensamento de primeiros princípios
O sucesso dos negócios de bilhões de dólares se revela, segundo Hastings, por meio de uma antiga estratégia de tomada de decisão: o pensamento de “primeiros princípios”. O termo, implantado por Aristóteles, destaca que aprendemos mais ao entender os princípios fundamentais de um assunto. Hastings usou esse pensamento para escalar a Netflix de um serviço de aluguel de DVD no final dos anos 1990 para um dos serviços de streaming mais populares do mundo.
Essa estratégia é muito usada para resolver problemas complexos e gerar soluções inovadoras, ajudando a melhorar a qualidade do raciocínio. E como pensar para resolver problemas complexos? Com o pensamento dos primeiros princípios. Saiba mais lendo sobre esse assunto no blog.
Quer montar uma estratégia de sucesso para o seu negócio, seguindo as premissas de Hastings? Então, você precisa entender sobre o pilar principal do processo estratégico: os dados.
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