A essa altura, já deixou de ser lá um grande insight que boa parte dos negócios [especialmente os da nova economia] tem mais valor pelas suas redes do que pelo seu próprio business em si.
Muitas vezes o grande valor de um negócio não é a sua rentabilidade [como sempre foi na velha economia], mas sim ter uma grande base de clientes [recorrentes e fieis, de preferência]. Especialmente quando essa base dá para o negócio uma inteligência em termos de dados que pode ser usada para muito mais coisas do que o seu core original.
Pegue o exemplo da Amazon, que operou no vermelho por anos e anos e passou outros tantos para recuperar as perdas do inicio da operação. Ou, mais recentemente – e de forma mais ostensiva – o Uber que fez seu IPO recentemente e tem um déficit de mais de 7 bilhões de reais. Quem investe, segue apostando no winner-takes-it-all e no meio tempo, a grana segue indo para o ralo.
Agora, é difícil questionar o valor de rede que o Uber tem, com uma base global imensa, sabendo exatamente de onde para onde as pessoas vão, com que frequência, a que custo. É bem valioso.
Agora, nesses negócios, é relativamente fácil perceber o valor da rede, porque ela está posta. Porém, há negócios que quando estão no começo não se tem noção necessariamente se terá rede, como ela será, que tipo de dados dos usuários serão possíveis, como será a relação entre eles. Para muitos negócios, é quase fácil dizer que não haverá valor de rede, ponto.
E é aí que entra o interessante texto sobre “redes escondidas”, da Andreessen Horowitz (também conhecida como “a16z”), uma empresa de Venture Capital do Vale do Silício.
Eles trouxeram uma perspectiva muito legal sobre essa ideia de como detectar um possível valor de rede onde aparentemente não há. Do ponto de vista deles, que são investidores, isso é ouro, porque podem transformar a característica de uma startup percebendo logo cedo o potencial que ela tem em termos de valor de base de usuários e seus dados.
Para isso, classificaram 3 tipos de “redes escondidas”, que valem a pena explorar:
1. Redes Lentas
São redes que demoram a ter valor de rede, porque precisam de uma base muito consolidada para esse valor começar a aparecer. Ao contrário, por exemplo, de redes sociais, que tem um crescimento muito rápido e já percebe-se ali esse valor.
O exemplo que eles usam é da Lambda, uma plataforma dgital de educação e uma das startups que mais crescem atualmente. A ideia deles é que os alunos os paguem com um share do que eles vão acumulando de dinheiro nas suas carreiras. E, para isso, eles ajudam os alunos a arrumarem um bom emprego no mercado.
O efeito de rede aqui parece claro. Primeiro eles precisam formar bons alunos, achar empresas que queiram contratá-los, para formar uma boa base de alumni para serem seus cases e base de recontratação e recomendação. Isso vai trazer mais alunos, que provavelmente gerará mais bons cases e assim por diante.
Pensando que a Lambda é um programa de 30 semanas. Até a pessoa se formar, arrumar um emprego e ter algum tipo de avaliação por parte da empresa, já passou um ano. Para dar um simples loop na roda. Então, isso pode demorar muito para pegar tração. Porém, uma vez formada, é muito difícil de ser desfeita. Pense nas grandes universidades americanas, que passaram décadas construindo sua rede. Hoje parece impossível que ela se desfaça.
2. Redes Inacabadas ou Sufocadas
Redes inacabadas ou sufocadas são aquelas que tem um potencial de rede, mas demandam um caminho de ordem ou material ou “mecânica” para chegar lá. Ou seja, são businesse que precisam pagar uma espécie de pedágio até se consolidarem. E esse pedágio não tem só a ver com tempo, como no exemplo anterior.
Um exemplo de rede inacabada seria o OpenTable. No começo, eles eram um modelo de negócio simples e que não necessariamente tinha a ver com seu valor de rede. Cada restaurante pagava para eles U$200 para seus clientes poderem fazer reservas via sua plataforma. Mais objetivo impossível.
Porém, na medida em que o OpenTable tivesse uma base importante de restaurantes cadastrados, ele poderia abrir outra frente de negócio, não mais B2B, mas B2C, fazendo uma plataforma para que as pessoas encontrassem boas opções de restaurantes, sabendo onde há vagas disponíveis.
Só que para isso acontecer, eles precisaram levar 5 anos só na frente B2B, cadastrando restaurantes. Até lá, a rede estava inacabada, porque não poderia abrir para o consumidor final e completar suas 3 pontas.
A rede sufocada parte do mesmo princípio, mas o que limita ela é o quanto ela própria pode se abrir inicialmente. Um exemplo é a rede Chief, voltada para executivas mulheres em C-level. Como ela é muito restrita em termos de público, cria uma enorme lista de espera para avaliação do perfil dessas mulheres, para garantir que elas podem participar da rede. A aposta aqui não é na redução de CAC, como é comum em todo negócio que se expande e sim no aumento do engajamento da base presente, criando uma qualificação para ela que permitirá uma estratégia de aumento de preço e serviços agregados.
Ou, para ficar num exemplo conhecido, pense como foi o velho Orkut no seu começo, em que você precisava de convite para entrar e cada pessoa tinha um número limitado deles para oferecer – vendia até no mercado livre (!). É a própria rede criando travas para o seu crescimento, apostando no valor da base inicial para sustentar um crescimento exponencial em dado momento.
3. Redes Latentes
Existem redes como o Snapchat que são criadas a partir de um feature muito legal, que serve como isca para as pessoas entrarem na plataforma e acabarem ficando por lá não só pelo feature, mas pelo valor que a própria rede tem.
As redes latentes fazem o caminho oposto: elas agregam pessoas em torno de si antes mesmo de ter algo concreto para oferecer.
É como a Savvy, por exemplo, uma desenvolvedora de games que mesmo antes de lançar o próximo jogo, começa a conectar interessados e criar uma base de pessoas que querem participar dos primeiros estágios do lançamento quando ele acontecer.
Essa última é sem dúvida a rede oculta mais rara e mais complicada, tanto de criar quanto de manter.
O grande ponto é que essas redes ocultas carregam consigo vantagens igualmente ocultas. Elas demandam tempo, paciência, energia e investimento. Mas, quando estão a pleno vapor, são negócios com muito valor para as pessoas, o que, por sua vez, gera muito valor de mercado.
São negócios normalmente não tão valorizados quanto aqueles que tem um óbvio efeito de rede, mas que podem acabar sendo tão ou mais valiosos que eles.