Capitão Nascimento: “O conceito de estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie… Os senhores estão anotando?”
Turno: “Sim, senhor!”
Capitão Nascimento: “Vou pedir isso na prova. …em inglês strategy, Em alemão strategie, em italiano strategia, em espanhol estrategia…”
Auxiliar: “Senhor coordenador! O senhor 05 está dormindo.”
Capitão Nascimento: “Oh, Senhor 05!”
05: “Sim, senhor!”
Capitão Nascimento: “Tenha a bondade. [Entrega a 05 uma granada e puxa o pino] Senhor 05, se o senhor deixar essa granada cair, o senhor vai explodir o turno inteiro. O senhor vai explodir os seus colegas, o senhor vai explodir os meus auxiliares, o senhor vai me explodir. O senhor vai dormir, senhor 05?
05: “Não, senhor!”
Capitão Nascimento: “Estamos todos confiando no senhor. [Retorna à cadeira e guarda o pino, deixando 05 segurando a granada] Eu vou retomar o raciocínio. O conceito de estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês…”
Essa pitoresca cena de Tropa de Elite vai, finalmente, ajudar em alguma coisa sobre o entendimento do que de fato é estratégia. Pelo menos do ponto de vista de efetividade.
Propomos a seguinte reflexão: o Capitão Nascimento teve sucesso com a sua ação em sala de aula?
Respondendo de bate pronto, parece que sim. Afinal, o soldado 05 não deixou cair a granada, não explodindo, assim o turno todo, o capitão ou ele próprio. Agora, vamos aprofundar a reflexão e tentar estabelecer uma linha de raciocínio um pouco mais lógica.
Nesse sentido, só é possível saber se o capitão teve sucesso se temos clareza do seu objetivo. O fato das pessoas não terem explodido provavelmente não demonstra sucesso em si, entendendo que o objetivo dele com a granada não era esse. O que provavelmente ele estava querendo era que o soldado não dormisse mais. E nessa perspectiva, continua sendo um sucesso, já que ele efetivamente não dormiu [ao que nos consta pelo menos]
Aqui cabe mais um passo para trás: por que era importante o capitão manter o soldado acordado? Bom, entendendo que eles estavam em um ambiente de aula, é condição necessária para o aprendizado que a pessoa esteja acordada.
Porém, a condição ser necessária não significa que ela é suficiente, certo? A pessoa simplesmente estar acordada não significa que ela está aprendendo alguma coisa. Para isso, mais do que acordado, ele precisa estar atento.
Então, estamos começando a entender que o objetivo do capitão, em última instância, é fazer com que o soldado 05 mantenha a atenção nele.
Nesse sentido, será que foi um sucesso a ação da granada? Bom, provavelmente não, porque na mesma medida em que ele fez algo muito efetivo para manter o soldado acordado, ele colocou uma distração gigante na mão dele. O foco de quem tem uma granada na mão dificilmente será outro que não a granada em si. Então, se o objetivo era atenção, o sucesso é bastante questionável.
Essa ilustração, por simples que seja, traz a luz a primeira e mais central questão sobre efetividade, que é responder a pergunta: o que significa sucesso? Sucesso é manter acordado? Manter atento? Manter calado? Promover aprendizado?
Pense nesse livro que você está lendo, como uma iniciativa que precisa ser mensurada. O que pode significar sucesso para ele?
Podemos considerar que é receita, faturamento. Mas pode ser também que sucesso para nós seja a quantidade de pessoas que vamos atingir com ele. Ou pode ser solidificar um conhecimento no seu público. Ou ainda mexer com o comportamento concreto de quem está lendo. Ou pode ser simplesmente despertar o desejo nos leitores de continuar se aprofundando.
Percebam como os objetivos e intenções podem variar absolutamente. Portanto, é fundamental que, do ponto de vista de mensuração, a primeira pergunta sobre qualquer trabalho de estratégia deve ser: o que significa sucesso?
E é a partir daí que começa todo trabalho de mensuração. E todos os problemas do mundo a reboque.
O primeiro e talvez mais crítico deles seja o chamado “street light effect”, um viés cognitivo que nos faz apelar para a nossa disponibilidade mental e de recursos e não na lógica do que é necessário para resolver uma tarefa.
Fica mais simples quando se explica o street light effect a partir da anedota que inspirou o seu próprio nome. É a situação de um homem que está procurando sua carteira, bem embaixo de um poste de luz. Um amigo passa, pergunta o que está acontecendo e faz uma pergunta boba: “foi por aqui que você perdeu a carteira?”. Ao que o homem responde: “não, foi no parque, mas aqui a luz é melhor para procurar”.
E isso é muito do que fazemos no nosso dia a dia com o trabalho de mensuração.
Hoje, em plena era digital, é ponto pacífico que temos uma oferta cada vez maior e maior de dados disponíveis. Toda interação das pessoas deixa um rastro e pode compor um banco de dados. Qualquer clique, qualquer curtida, qualquer fluxo.
E essa oferta aumenta também uma demanda. A demanda por mensurarmos tudo o que fazemos e demonstrar resultado de qualquer iniciativa. Pode até ser justo que seja assim, mas temos que refletir sobre o que isso provoca na maneira como pensamos sobre mensuração.
Porque se esses dados “digitais” [vamos chamar assim para facilitar] são os que estão disponíveis, nós partimos deles. Pense por que se mede performance em redes sociais a partir de quantidades de curtidas, comentários, compartilhamentos, cliques em links etc. Talvez menos porque essas coisas significam sucesso para nós, mas simplesmente porque elas são as que estão disponíveis.
Essa é exatamente a lógica da qual partem muitos cases e videocases, que, se você espremer bem, tudo o que tem são esses dados digitais, um mosaico de um monte de tweets e um dado de vendas. Como se isso fosse mensuração.
Como dito, para fugir disso, é preciso sobretudo de lógica. Mas não só. Há métodos específicos também. Mas esse é assunto para um outro post.