Quando vemos uma grande história sendo contada, no cinema ou em um livro, sentimos alguma coisa meio mágica. É uma sensação de euforia que nos faz ficar imaginando como a pessoas pode criar uma história tão bacana, tão forte, tão emocionante, tão intrigante, tão engraçada ou tão assustadora.
Da mesma forma, a sensação é parecida quando vemos alguém fazendo uma grande apresentação ou uma excelente palestra. Ficamos embasbacados, batendo palmas mentalmente e tentando entender como aquela pessoa pode ter mandado tão bem.
E costumamos dar os louros para o talento dessas pessoas que são tão boas contadoras de histórias. E ao fazer isso, ignoramos o fato de que há muita, muita e muita técnica envolvida em construir uma história que mexa dessa forma com as pessoas.
Em 2012, Julian Friedmann deu uma palestra no TEDxEaling chamada “The Storytelling Mystery” em que refuta completamente a ideia de talento, inspiração ou total liberdade criativa para se escrever uma boa história. Ele faz questão de afirmar que, sim, há uma formula – ou melhor, várias delas – para se contar uma história. O que ele quer dizer com isso é que uma boa história não é um bicho solto. Ela precisa estar construída dentro de uma estrutura. Construída, ou melhor dizendo “desenhada” dentro de uma estrutura. É o que se chama de design de histórias.
Robert McKee talvez seja o mais conceituado teórico sobre storytelling, com seu livro Story, de 1983 e os workshops que dá até hoje para quem quer ser roteirista de cinema ou contar melhores histórias. Entre muitas formatacões, teorias e estruturas, Mckee afirma que uma história é composta estruturalmente por 5 partes:
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Incidente Incitante
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Complicações Progressivas
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Crise
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Clímax
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Resolução
INCIDENTE INCITANTE é o elemento da história que coloca toda ela em movimento. É aquilo que rompe a estabilidade do universo e faz com que os agentes tenham uma questão para lidar, para resolver. Em um filme, pode ser o assassinato de alguém, um roubo, um rompimento de relação. Em uma apresentação de negócio, pode ser um indicador que caiu bruscamente ou um novo competidor que entrou no mercado.
COMPLICAÇÕES PROGRESSIVAS é tudo aquilo que precisa ser percorrido em prol de resolver a questão iniciada com o incidente incitante. Todo o grosso da jornada de busca pela resolução acontece aqui. São chamadas de complicações progressivas, porque numa boa história o percurso é cheio de obstáculos, que vão ficando mais complexos e aparentemente mais insolucionáveis. Esse é o “bife” de qualquer filme. É onde se dão as cenas mais empolgantes de ação, de amor, de terror, as melhores piadas ou o que quer que seja. Imagine um filme, por exemplo, do 007, em que ele vai se aproximando cada vez mais do “chefão”, mas viajando o mundo e enfrentando todo tipo de perigo no caminho. Em uma apresentação de negócios, provavelmente aqui estará uma investigação ou tudo aquilo que dá sustentação para entendermos o problema que está causando a queda brusca daquele indicador do exemplo anterior.
CRISE é o que McKee chama de a complicação progressiva final. É um ponto em que todas as alternativas se esgotaram e provavelmente a próxima ação será a última, no sentido de resolver ou não a questão que se está lidando. É aquele momento derradeiro em que, em um filme romântico, por exemplo, o mocinho percebe que não consegue ficar longe da mocinha e precisa fazer alguma coisa. Ou em um filme de ação, quando o herói se vê na lona, quase sem esperança de continuar. Em uma apresentação de negócios é quando se chega na causa em si do problema, naquilo que se impõe como a grande ameaça ou a grande fraqueza que está impedindo a empresa de prosperar em determinado aspecto.
CLIMAX é o ponto de decisão da história, em que tudo se desenrola e se resolve, para o bem ou para o mal. Aqui é onde acontecem as vitórias, as derrotas, os finais felizes, os tristes, as grandes viradas ou surpresas de uma história. É quando o herói pega o vilão ou é derrotado, quando o casal fica junto ou se separa, quando a pessoa que estava lutando pela sua vida encontra a cura ou morre. Mckee bate bastante na tecla de que não se tem uma história até se ter um climax de fato. E isso faz sentido também para apresentações de negócios, em que o climax é onde está de fato a proposta, a solução, a ideia daquilo que se deve fazer para resolver a questão posta lá no começo da história, com o incidente incitante. É quando se aponta uma estratégia, um caminho.
RESOLUÇÃO é, como o nome indica, “os finalmentes”. É o momento que se segue ao desfecho em si da história. Então é quando as coisas se assentam e vemos os desdobramentos daquilo. McKee diz que é como se fosse uma cortesia para a audiência, que não merece que a história acabe bruscamente logo depois do climax. É um momento não só para ter um vislumbre do que acontece após o climax como um artifício para dar tempo para a audiência processar o que acabou de acontecer. Aqui não tem outro exemplo melhor em termos de entretenimento do que aquele último capítulo da novela em que todo mundo casa e a gente vê como fica cada personagem depois de tudo que aconteceu. Em negócios, é uma ótima hora para dar exemplos do caminho, mostrar cases, referências, possibilidades. Deixar as pessoas entenderem melhor e se acostumarem melhor com a ideia de caminho proposta.
Muito importante dizer que, sim, apesar de acreditarmos muito nessa ideia de design de histórias, não é pelo fato de você ter uma estrutura que você vai ter uma boa história. Muita coisa depende sim de criatividade, de boas referências, de sensibilidade para aquilo que causa emoção.
A grande questão é que essas coisas não se sustentam sozinhas. Uma história que não é pensada do ponto de vista estrutural tem uma chance gigante de ter apenas bons momentos, mas ser confuso, não passar sua mensagem claramente e não cumprir o que se propôs. Assim como o formato de 5 partes de Mckee, há uma série de outros. O importante não é seguir esse e sim ter um, que nos “force” de alguma forma a andar na linha e não nos perdermos no meio do caminho.