Quem não lembra do tempo de colégio em que a gente estudava álgebra, geometria, aquelas paradas doidas de trigonometria. E quem de vocês aí usa alguma dessas coisas no dia a dia? Ok, pode-se argumentar que nosso público aqui não é muito de exatas e não teria mesmo por que usar. Verdade.
Mas, Jo Boaler, professor de matemática de Stanford e Steven D. Levitt, professor de economia da Universidade de Chicago não aceitariam apenas esse argumento. Eles diriam que mesmo que você fosse de exatas, a chance de você usar essas coisas ainda é pequena. Eles pesquisaram 900 ouvintes do podcast do Freakonomics, do qual Levitt é co-autor do livro. Segundo eles próprios, um público bem nerd. E descobriram que menos de 12% usam qualquer uma dessas coisas no seu trabalho.
E o ponto é que toda essa grade curricular da matemática básica foi criada a luz do objetivo que movia as trincheiras de grande parte da Guerra Fria: a corrida espacial. Levar o homem à lua era uma demonstração de poder gigante e era uma frente de batalha entre EUA e URSS. E esse tipo de matemática era base para grande parte das questões de física e engenharia que fariam as super potências chegarem lá.
Bom, elas chegaram. Esse ano faz literalmente 50 anos que o homem foi à lua. E 30 anos que o Muro de Berlin foi derrubado. Apesar das efemérides, 2019 não está nem perto de ser o ano em que a grade curricular básica da matemática será adaptada às nossas demandas do século XXI.
Em artigo para o Los Angeles Times, a dupla de professores faz a defesa de uma mudança, em suas palavras, tão simples quanto radical: colocar data analytics no centro da matéria de matemática no ensino médio.
Segundo eles, todo aluno deveria se formar no ensino médio sabendo lidar com análise de dados, planilhas, databases, noções básicas de estatística como a distinção entre correlação e causalidade. O ensino da construção de argumentos baseados em data produziria além de tudo um pensamento mais crítico e um approach mais direto a problemas reais do mundo contemporâneo.
A dupla aponta algumas experiências de países que estão começando a dar passos nessa direção como o Reino Unido, que já incluiu Data Science na sua grade curricular básica e o Canadá, que também incluiu data e estatística. Esses dois países são membros da OCDE, o grupo dos países mais desenvolvidos do mundo. A OCDE usa o PISA [Program for International Student Assessment] para medir o nível educacional dos países e o próprio PISA lançou recentemente um framework para ensino básico de matemática e o tema de Data Literacy é parte fundamental. Não vamos nem entrar em Brasil para não sofrermos muito.
O fato é que os tempos mudaram demais. Vivemos um momento em que problemas enormes são resolvidos com base em data. Do futuro dos transportes à cura de doenças degenerativas, passando por uma infinidade de outras questões. Essa é a nova corrida espacial e nossos adolescentes estão saindo completamente despreparados das escolas para sequer começar a enfrentá-los. A revolução digital chegou na sociedade, mas precisa chegar agora nas escolas.