Decision systems: como organizar a tomada de decisão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em um ambiente empresarial marcado pela crescente complexidade, pelo volume massivo de dados e pela necessidade de respostas rápidas, as organizações precisam estruturar melhor seus processos decisórios. No entanto, muitas empresas ainda tomam decisões de forma desorganizada, sem clareza sobre responsabilidades, critérios ou o papel da tecnologia nesse processo. A ausência de um sistema de decisão bem definido leva a desperdício de tempo, conflitos internos e escolhas mal fundamentadas que podem comprometer a competitividade no longo prazo.

Para evitar esses desafios, é fundamental adotar frameworks estruturados que ajudem a classificar e sistematizar as decisões. Diferentes modelos oferecem uma base sólida para a governança decisória. Além disso, o avanço das tecnologias de informação e inteligência artificial permite que as empresas otimizem e até automatizem parte desse processo, tornando a tomada de decisão mais ágil e assertiva. Este artigo explora diferentes abordagens para estruturar sistemas de decisão eficazes, garantindo que as escolhas empresariais sejam feitas com clareza, embasamento e velocidade.

O Que São Decision Systems?

A tomada de decisão é um dos pilares fundamentais da gestão organizacional. Em um mundo onde empresas operam em mercados cada vez mais dinâmicos e voláteis, escolher a melhor estratégia ou ação pode ser um diferencial competitivo crucial. No entanto, muitas organizações ainda encaram a tomada de decisão como um processo intuitivo ou baseado exclusivamente na experiência dos gestores. Embora a intuição e a expertise sejam componentes importantes, decisões eficazes exigem um sistema estruturado, com critérios bem definidos, processos organizados e, cada vez mais, suporte tecnológico. Como a necessidade de estruturar a tomada de decisão está diretamente ligada à complexidade das operações empresariais modernas, sem um sistema estruturado, muitas empresas caem na armadilha da paralisia decisória, com reuniões excessivas e pouca clareza sobre quem deve tomar a decisão final. Ou então acabam adotando uma abordagem impulsiva, baseando-se em opiniões isoladas sem um embasamento sólido.

É nesse contexto que surgem os Decision Systems – sistemas e frameworks criados para aprimorar a forma como as decisões são tomadas dentro das organizações. Decision Systems podem ser definidos como um conjunto estruturado de processos, métodos e ferramentas que ajudam as empresas a tomar decisões de forma mais eficiente, reduzindo incertezas e aumentando a qualidade dos resultados. Eles combinam análises qualitativas e quantitativas, fornecendo um suporte sólido para líderes e gestores escolherem as melhores alternativas em diferentes contextos. Esses sistemas podem incluir frameworks estratégicos, modelos organizacionais e tecnologias de suporte, como business intelligence (BI), sistemas de suporte à decisão (DSS) e até mesmo inteligência artificial (IA). A ideia central é garantir que as decisões sejam tomadas com base em critérios bem definidos, utilizando os dados disponíveis de forma estruturada e evitando vieses cognitivos que podem comprometer os resultados.

Ao estabelecer um Decision System eficiente, as organizações conseguem reduzir incertezas, aumentar a velocidade dos processos internos, minimizar vieses e tornar a delegação de decisões mais fluida, garantindo que cada nível da empresa saiba exatamente quais escolhas pode e deve fazer. Além disso, o uso de tecnologia aplicada à tomada de decisão permite que gestores tenham acesso a dados em tempo real, otimizando previsões e melhorando a qualidade das respostas em momentos críticos.

Com a evolução da tecnologia, cada vez mais empresas estão adotando soluções automatizadas para auxiliar na tomada de decisão. No entanto, nem todas as decisões podem ou devem ser delegadas a sistemas inteligentes. Como veremos, decisões estruturadas e repetitivas são candidatas naturais à automação, enquanto decisões estratégicas e criativas continuam exigindo intervenção humana. O desafio das organizações é encontrar o equilíbrio ideal entre automação e julgamento humano, garantindo que a tecnologia atue como suporte sem comprometer a capacidade de adaptação e inovação dos gestores.

O futuro dos Decision Systems aponta para uma integração cada vez maior entre análise de dados e tomada de decisão estratégica. Com o avanço da inteligência artificial e da ciência de dados, empresas terão a capacidade de tomar decisões mais rápidas, precisas e personalizadas. No entanto, a dimensão humana continuará essencial, especialmente em cenários onde a subjetividade, a intuição e a criatividade são fundamentais. Para garantir uma governança eficaz, as organizações precisarão estruturar seus processos decisórios com clareza, definindo papéis, estabelecendo frameworks eficientes e utilizando a tecnologia como aliada para otimizar a tomada de decisão.

 

Classificando Decisões – A Perspectiva de Peter Drucker

A tomada de decisão raramente é um evento isolado. Em grande parte dos casos, decisões organizacionais são repetições de desafios já enfrentados anteriormente ou variações de padrões recorrentes. Compreender essa natureza cíclica das decisões é essencial para evitar desperdício de tempo, retrabalho e abordagens ineficientes. Peter Drucker, um dos mais influentes pensadores da administração, argumenta que a chave para uma tomada de decisão eficaz está em identificar o tipo de problema que estamos enfrentando. Segundo ele, as decisões podem ser agrupadas em quatro categorias principais, e a forma como lidamos com cada uma delas deve ser adaptada de acordo com suas características.

O primeiro tipo de problema identificado por Drucker é o problema verdadeiramente genérico. Nesses casos, a questão específica que surge é apenas um sintoma de algo maior e recorrente. A melhor forma de tratar esse tipo de problema não é tentar reinventar a solução a cada vez que ele aparece, mas sim criar regras e princípios claros que orientem as decisões futuras. Um exemplo clássico dentro de uma organização é a gestão de estoques. Decidir quando reabastecer um produto não é uma questão a ser debatida constantemente, mas sim um processo que pode ser resolvido com um conjunto de regras e parâmetros predefinidos. Da mesma forma, muitas políticas internas, como critérios de contratação ou procedimentos para lidar com reclamações de clientes, se encaixam nessa categoria. Uma abordagem estruturada para esses problemas permite que as empresas economizem tempo e garantam consistência nas decisões.

O segundo tipo de problema é aquele que Drucker chama de genérico, mas único para a organização. Trata-se de uma questão que pode parecer excepcional do ponto de vista da empresa ou do tomador de decisão específico, mas que, na realidade, já aconteceu muitas vezes em diferentes organizações. A fusão entre duas empresas, por exemplo, pode ser uma situação inédita para a diretoria de uma companhia específica, mas é um fenômeno amplamente estudado e documentado no mundo dos negócios. Ao reconhecer que esse tipo de problema já foi enfrentado por outras empresas, os tomadores de decisão podem se basear em melhores práticas e experiências anteriores para minimizar riscos e aumentar a eficácia da decisão. Isso demonstra a importância de aprender com o histórico de outras organizações e adaptar estratégias comprovadas ao contexto específico da empresa.

Já o terceiro tipo de problema corresponde ao verdadeiramente excepcional, verdadeiramente único. São situações que não possuem precedentes claros e exigem um alto grau de análise e julgamento. Um exemplo disso foi o apagão elétrico que atingiu grande parte do nordeste dos Estados Unidos em 1965. Na época, a falta de energia em uma área tão extensa foi algo sem precedentes, e as primeiras investigações sugeriram que era uma ocorrência totalmente excepcional. Em casos como esse, não há regras preexistentes ou experiências passadas que possam servir como referência confiável. Isso significa que as soluções precisam ser construídas do zero, exigindo criatividade, experimentação e um profundo senso de responsabilidade por parte dos tomadores de decisão. Embora Drucker ressalte que eventos verdadeiramente únicos são raros, ele destaca a importância de reconhecê-los quando surgem, para que as empresas possam dedicar os recursos necessários para lidar com eles de forma adequada.

Por fim, há um quarto tipo de problema que, à primeira vista, pode parecer único, mas que na verdade representa a primeira manifestação de um novo problema genérico. Muitas vezes, organizações tratam certos desafios como exceções isoladas, apenas para perceber mais tarde que se tornaram recorrentes. Quando isso acontece, a abordagem precisa mudar. Em vez de tratar cada nova ocorrência como um caso isolado, as empresas devem se antecipar e criar um modelo ou princípio que permita lidar com futuros casos de forma mais eficiente. Um bom exemplo desse fenômeno foi a adoção do trabalho remoto durante a pandemia de COVID-19. Inicialmente, muitas empresas consideraram essa mudança como uma solução emergencial e temporária. No entanto, à medida que mais empresas perceberam que o modelo remoto funcionava bem e poderia ser adotado de forma contínua, ele deixou de ser uma exceção e passou a ser tratado como um novo paradigma de trabalho.

A categorização proposta por Drucker tem implicações profundas para a maneira como as empresas tomam decisões. A primeira e mais importante lição é que nem todo problema deve ser tratado da mesma maneira. Problemas genéricos exigem soluções padronizadas e regras bem definidas, enquanto problemas verdadeiramente únicos demandam um olhar mais analítico e experimental. Além disso, reconhecer a diferença entre um problema excepcional e a manifestação inicial de um novo problema genérico pode evitar que organizações desperdicem tempo e recursos criando soluções temporárias para desafios que, em breve, se tornarão recorrentes.

Outro ponto fundamental levantado por Drucker é a importância da previsibilidade e da preparação. Quanto mais uma organização consegue identificar padrões e antecipar desafios futuros, mais eficiente se torna sua estrutura de decisão. Para problemas genéricos, isso significa ter processos bem documentados e diretrizes claras que ajudem a garantir que as decisões sejam consistentes ao longo do tempo. Para problemas emergentes, significa monitorar atentamente as tendências do mercado e estar pronto para transformar um evento isolado em um modelo de ação sistematizado.

Por fim, Drucker enfatiza que todas as decisões, exceto as verdadeiramente únicas, devem ser tratadas com um princípio genérico. Isso significa que, sempre que possível, os tomadores de decisão devem buscar criar regras e diretrizes que possam ser aplicadas a situações semelhantes no futuro. Essa abordagem não apenas torna o processo decisório mais rápido e eficiente, mas também reduz a margem de erro e aumenta a previsibilidade dos resultados. Em contraste, decisões verdadeiramente excepcionais precisam ser tratadas de forma individualizada, sem a tentativa de encaixá-las em modelos preexistentes que podem não ser adequados para a situação.

Ao entender os quatro tipos de problemas descritos por Drucker, as organizações podem melhorar significativamente a qualidade e a eficiência de suas decisões. Classificar corretamente um problema antes de buscar uma solução evita esforços desnecessários e garante que a abordagem utilizada seja a mais adequada para cada situação.

 

A Perspectiva Organizacional – O Modelo da McKinsey

A consultoria McKinsey, em suas pesquisas sobre tomada de decisão, identificou que a ausência de processos estruturados e a falta de clareza sobre quem decide o quê são os principais fatores que prejudicam a eficiência organizacional. De forma semelhante à abordagem de Drucker a McKinsey propõe um modelo que categoriza as decisões em quatro grandes tipos, permitindo que as empresas adaptem suas estratégias para cada uma delas.

O primeiro tipo são as big-bet decisions, ou decisões estratégicas de grande impacto. Essas são escolhas raras, mas com potencial para mudar o futuro da empresa, como fusões e aquisições, grandes investimentos de capital ou mudanças drásticas no modelo de negócios. Devido ao seu impacto e risco, essas decisões exigem uma abordagem cuidadosa, que inclua uma estrutura de governança bem definida, a análise de múltiplos cenários e a mitigação de vieses cognitivos. Muitas empresas falham nesse processo ao basear suas grandes decisões em percepções subjetivas de líderes ou na insistência em validar opiniões preexistentes, sem considerar alternativas reais. Para evitar isso, a McKinsey sugere a criação de mecanismos como advocacia do diabo – onde um grupo interno desafia os pressupostos da decisão –, além do uso de análises quantitativas robustas e a fragmentação de grandes decisões em etapas menores.

O segundo tipo de decisão identificado pela McKinsey são as cross-cutting decisions, ou decisões interdependentes e colaborativas. Esse tipo de decisão é extremamente comum em empresas de grande porte e envolve múltiplas áreas que precisam trabalhar juntas para tomar uma decisão coerente. Exemplos incluem definição de preços, lançamentos de novos produtos e planejamento de operações. O maior desafio dessas decisões não está na escolha final em si, mas na coordenação entre diferentes grupos envolvidos. Muitas organizações enfrentam problemas porque cada área tende a tomar decisões isoladamente, sem considerar o impacto em outras partes do negócio. Além disso, a burocracia interna pode gerar um excesso de reuniões e debates improdutivos, onde o foco se desloca da tomada de decisão para a simples troca de informações.

Para lidar com isso, a McKinsey propõe que as empresas mapeiem claramente o processo decisório, definindo responsáveis por cada etapa e estabelecendo governança clara para evitar duplicação de esforços. Isso pode ser feito por meio da criação de conselhos de decisão, onde diferentes áreas se reúnem com um objetivo claro e um prazo definido para concluir o processo. Além disso, um dos principais erros cometidos em decisões interdependentes é a falta de um fluxo eficiente de informações. Quando diferentes áreas operam de forma isolada, decisões podem ser tomadas sem considerar dados críticos que poderiam mudar completamente a escolha final. Empresas que lidam bem com cross-cutting decisions implementam sistemas de compartilhamento de informações que garantem que todos os envolvidos tenham acesso aos dados relevantes antes de tomar decisões que afetem outras áreas.

O terceiro tipo são as delegated decisions, ou decisões delegadas. Essas são decisões frequentes e de baixo risco, que podem ser tomadas por indivíduos ou pequenas equipes sem a necessidade de validação de níveis superiores. Exemplos incluem aprovações de pequenas despesas, contratações operacionais e ajustes em campanhas de marketing. O problema mais comum nesse tipo de decisão é a falta de clareza sobre quem tem autoridade para decidir, o que leva a escalonamentos desnecessários. Muitas empresas ainda operam sob um modelo de tomada de decisão centralizado, onde até mesmo pequenas escolhas precisam da aprovação de líderes seniores. Isso não só torna os processos mais lentos, como também desmotiva funcionários que poderiam atuar de forma mais autônoma.

A McKinsey sugere que as organizações adotem um modelo onde a delegação de decisões seja claramente definida. Para isso, é essencial estabelecer limites e critérios sobre quais decisões podem ser delegadas e quais exigem aprovação superior. Um dos métodos mais eficazes para isso é a criação de uma matriz de responsabilidade, como o modelo RACI (Responsible, Accountable, Consulted, Informed), que define exatamente quem deve tomar cada decisão, quem é responsável pela execução, quem deve ser consultado e quem apenas precisa ser informado. Empresas que adotam essa abordagem conseguem reduzir significativamente o número de escalonamentos desnecessários e aumentam a eficiência operacional.

O último tipo são as ad hoc decisions, ou decisões pontuais de baixo impacto. Essas são decisões que ocorrem raramente e não exigem um grande nível de formalização. São escolhas que podem ser resolvidas rapidamente e que não possuem consequências estratégicas relevantes. Por esse motivo, a McKinsey argumenta que não vale a pena investir grandes esforços na estruturação desse tipo de decisão. O foco das empresas deve estar nos outros três tipos de decisões, onde o impacto organizacional é muito maior.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao estruturar um modelo de tomada de decisão com base nesses quatro tipos, as empresas podem resolver um dos maiores desafios da governança corporativa: a sobrecarga de processos decisórios. Em muitas organizações, executivos seniores passam a maior parte do tempo resolvendo questões que poderiam ser facilmente delegadas a outros níveis, enquanto decisões realmente estratégicas sofrem com a falta de um processo bem definido. Empresas que aplicam esse modelo com sucesso conseguem criar um ambiente mais ágil e eficiente, onde cada decisão é tomada no nível certo da organização.

Além disso, um fator crítico para o sucesso desse modelo é a cultura organizacional. Delegar decisões ou estruturar processos não é suficiente se os líderes não estiverem dispostos a confiar em suas equipes e se os funcionários não se sentirem seguros para tomar decisões sem a necessidade de constante validação superior. Empresas que se destacam na tomada de decisão investem na criação de uma cultura de accountability, onde os indivíduos entendem sua responsabilidade no processo decisório e se sentem empoderados para agir dentro de suas atribuições.

A abordagem da McKinsey para a tomada de decisão oferece um modelo prático e aplicável para organizações que desejam melhorar sua governança e aumentar a eficiência na tomada de decisões. Ao categorizar corretamente os diferentes tipos de decisão e estabelecer processos claros para cada um, as empresas podem reduzir a burocracia, acelerar processos e garantir que as escolhas mais importantes sejam feitas com base em análises sólidas e bem estruturadas. Nos próximos capítulos, exploraremos como a tecnologia e a automação podem ser utilizadas para aprimorar ainda mais esses processos, tornando a tomada de decisão mais ágil e precisa.

 

Cada tipo de decisão, um tipo de informação: o papel dos dados

Comparando as abordagens da McKinsey e Drucker, a principal convergência está na importância da categorização correta das decisões. Quando uma organização não classifica bem os problemas e não estabelece regras claras para cada tipo de decisão, surgem dois problemas opostos: de um lado, há o risco de centralizar excessivamente as decisões, sobrecarregando a liderança e tornando a empresa lenta e burocrática; do outro, existe o perigo de falta de governança, onde decisões estratégicas acabam sendo tomadas sem o devido embasamento ou envolvimento das pessoas certas. A solução está em encontrar um equilíbrio entre eficiência e controle, garantindo que cada decisão seja tomada no nível apropriado e com o grau correto de análise e estruturação.

Porém, outra questão que precisa ser levada em consideração é que a transformação digital trouxe mudanças profundas na forma como as empresas tomam decisões. Se no passado a tomada de decisão era baseada principalmente na experiência e na intuição dos gestores, hoje as organizações têm à sua disposição uma enorme quantidade de dados, ferramentas analíticas e inteligência artificial que podem ajudar a tornar o processo decisório mais eficiente, preciso e rápido. No entanto, essa abundância de informações também apresenta desafios. Muitas empresas enfrentam dificuldades para integrar e interpretar dados de maneira útil, sofrem com sobrecarga informacional e, em alguns casos, hesitam em delegar decisões a sistemas automatizados por medo de perder o controle. A solução para esses desafios está na estruturação de sistemas de informação voltados para a tomada de decisão, garantindo que os dados coletados sejam utilizados de forma estratégica e que a automação seja aplicada nos contextos adequados.

Os sistemas de informação desempenham um papel central na governança da tomada de decisão, permitindo que diferentes níveis da organização acessem informações relevantes no momento certo. Esses sistemas podem ser classificados em três categorias principais, de acordo com a estrutura da decisão que suportam. No nível operacional, encontramos os Sistemas de Processamento de Transações (TPS), que lidam com decisões altamente estruturadas e repetitivas, como a aprovação de pagamentos, a atualização de estoques ou a emissão de faturas. Essas decisões seguem regras fixas e, por isso, podem ser completamente automatizadas. No nível gerencial, os Sistemas de Suporte à Decisão (DSS) auxiliam em decisões semi-estruturadas, combinando análise de dados e intuição humana. Um exemplo clássico de DSS é o uso de dashboards de vendas, que ajudam gestores a decidir sobre ajustes de preços ou estratégias promocionais com base em indicadores de desempenho. Já no nível estratégico, os Sistemas de Suporte Executivo (ESS) fornecem insights mais amplos e preditivos, permitindo que líderes tomem decisões de longo prazo com base em tendências e simulações de cenários futuros.

Além dessa estrutura, a evolução da tecnologia trouxe novos avanços que estão transformando os sistemas de suporte à decisão. A análise de dados evoluiu significativamente nos últimos anos, passando por quatro estágios distintos. No primeiro nível, a análise descritiva fornece uma visão do passado, organizando e estruturando dados históricos para responder à pergunta “o que aconteceu?”. Esse tipo de análise é útil para entender padrões de vendas, desempenho de campanhas de marketing e eficiência operacional. Em um nível mais avançado, a análise diagnóstica investiga “por que aconteceu?”, explorando relações causais e identificando fatores que influenciaram os resultados observados. Essa abordagem permite que as empresas compreendam melhor os fatores que impactam seu desempenho e ajustem suas estratégias de acordo.

O terceiro nível é a análise preditiva, que utiliza modelos estatísticos e inteligência artificial para antecipar cenários futuros. Com base em dados históricos, algoritmos conseguem prever padrões de demanda, comportamento do consumidor e tendências de mercado, permitindo que as empresas se preparem melhor para mudanças e desafios. Por fim, no nível mais sofisticado, temos a análise prescritiva, que não apenas prevê o futuro, mas também recomenda ou executa ações com base nessas previsões. Empresas que utilizam esse tipo de análise podem, por exemplo, ajustar preços automaticamente com base em mudanças de demanda ou otimizar cadeias de suprimentos em tempo real para reduzir custos e melhorar a eficiência.

Apesar das inúmeras vantagens oferecidas pela automação e pela análise de dados, a tomada de decisão não pode ser totalmente delegada a sistemas tecnológicos sem um modelo claro de governança. O grande desafio das empresas modernas é encontrar o equilíbrio certo entre automação e supervisão humana. Algumas decisões são completamente estruturadas e podem ser tomadas por sistemas sem intervenção humana, como a aprovação de um crédito baseado em critérios matemáticos. Outras, no entanto, exigem julgamento subjetivo, como a definição de estratégias de marca, o lançamento de novos produtos ou a resposta a crises reputacionais.

 

 

 

 

 

 

 

 

Para maximizar os benefícios da automação sem comprometer a flexibilidade e a criatividade da tomada de decisão, as empresas precisam adotar um modelo híbrido. Esse modelo envolve a combinação de tecnologia e inteligência humana para diferentes tipos de decisões. Decisões operacionais repetitivas devem ser automatizadas sempre que possível, liberando tempo dos colaboradores para tarefas mais estratégicas. Decisões semi-estruturadas podem ser apoiadas por tecnologia, mas ainda exigem intervenção humana para avaliar fatores subjetivos. Já decisões estratégicas devem ser fundamentadas por análises preditivas, mas a palavra final deve continuar com os líderes da organização.

Além disso, um sistema de decisão eficiente deve contar com mecanismos de rastreamento e monitoramento para garantir que as decisões automatizadas estejam produzindo os resultados esperados. Empresas que utilizam inteligência artificial na tomada de decisão devem estabelecer métricas de acompanhamento e criar protocolos para identificar e corrigir erros antes que se tornem problemas críticos. Isso pode incluir auditorias regulares de algoritmos, testes A/B para validar modelos preditivos e o estabelecimento de regras de escalonamento para decisões automatizadas que fogem do padrão.

O futuro dos sistemas de decisão será cada vez mais orientado pela convergência entre inteligência artificial, aprendizado de máquina e governança organizacional. Empresas que conseguirem integrar esses elementos de forma eficiente terão uma vantagem competitiva significativa, sendo capazes de tomar decisões mais rápidas, precisas e alinhadas com seus objetivos estratégicos. No entanto, a transição para um modelo de decisão mais automatizado exige não apenas investimentos em tecnologia, mas também mudanças na cultura organizacional. Os tomadores de decisão precisam aprender a confiar nas recomendações geradas por algoritmos, ao mesmo tempo em que mantêm um senso crítico sobre os limites da automação.

Por fim, a tecnologia deve ser vista como uma ferramenta para potencializar a capacidade de decisão das empresas, e não como um substituto para o pensamento estratégico. A decisão automatizada pode melhorar a eficiência, reduzir erros e tornar a empresa mais ágil, mas ainda cabe aos líderes definir os rumos do negócio e garantir que a organização esteja preparada para responder a desafios imprevistos. O segredo do sucesso está na capacidade de combinar a precisão dos dados com a intuição humana, criando um sistema de decisão verdadeiramente robusto e eficaz.

 


 

A tomada de decisão eficiente não acontece por acaso. Como vimos ao longo deste artigo, a estruturação de sistemas de decisão é essencial para evitar incertezas, reduzir erros e garantir que cada escolha organizacional seja feita com embasamento sólido. Modelos como o de Peter Drucker ajudam a classificar problemas e definir a melhor abordagem para resolvê-los, enquanto a estrutura proposta pela McKinsey esclarece os diferentes tipos de decisões dentro de uma organização e como cada uma deve ser gerida. Além disso, o avanço da tecnologia e da análise de dados transformou radicalmente a forma como decisões são tomadas, permitindo maior precisão e agilidade, sem que isso signifique abrir mão do julgamento humano.

No entanto, um bom sistema de decisão não depende apenas de frameworks ou tecnologia – ele exige também uma cultura organizacional que valorize clareza, accountability e aprendizado contínuo. Empresas que estruturam sua governança decisória, delegam corretamente e integram ferramentas tecnológicas sem abrir mão da inteligência humana tendem a ser mais ágeis, inovadoras e resilientes. No fim das contas, decidir bem é um diferencial competitivo, e as organizações que conseguirem equilibrar dados, estratégia e adaptação terão uma vantagem clara no futuro dos negócios.

Inscreva-se nas nossas newsletters

Receba conteúdos sobre estratégia toda semana no seu email
Compartilhe a publicação

dec

decisionmaking

decisao

decisões eficazes

decisões

decision making

Outras coisas bacanas que a gente publicou ou leu e você também pode gostar

Assumindo a liderança como estrategista

Ver mais

Storytelling: Contando Histórias Fortes

Ver mais

Como Negociar com Efetividade

Ver mais

Migrando do Marketing para a Estratégia em agência

Ver mais

Procuram-se Gerentes de Estratégia

Ver mais

Pensando estrategicamente a carreira

Ver mais

Por que estratégia é um conceito tão confuso?

Ver mais

Teoria dos jogos e pensamento estratégico [Parte #2]

Ver mais

Teoria dos jogos e pensamento estratégico [Parte #1]

Ver mais

Dá retorno investir em futebol?

Ver mais

Como fazer um bom diagnóstico de estratégia?

Ver mais

[Case] McCain: quando o básico bem feito funciona

Ver mais

ter
29
abr 2025

Masterclass: Smart Desking

com Bruno Alrieri, Gerente Sr de Planejamento Estratégico da...

seg
05
mai 2025

Live Recording: CX

Com Anny Atti, Carlos Borges, Matheus Noronha, Thais dos San...

ter
20
mai 2025

Masterclass: Decoding Drop Culture

com Leonardo Ribeiro, Gerente de Marca LATAM na Natura ...

seg
02
jun 2025

Live Recording: CRM

Com Anny Atti, Carlos Borges, Matheus Noronha, Thais dos San...

ter
17
jun 2025

Masterclass: Mandando Bem na Hora da Entrevista

com Rafael Prieto, Executive Strategy Director da David ...

seg
07
jul 2025

Live Recording: Future Proof ESG

com Carol Gentil, Chief Strategy Officer da Beyond Impact ...

ter
29
jul 2025

Masterclass: Gerenciamento Estratégico de Erros

com Lígia Paes de Barros, Head de Estratégia da The Juju Bra...

seg
11
ago 2025

Sprint: Augmented Strategy

com Daniel De Tomazo e Felipe Senise, fundadores da Sandbox ...

Assine nossas

Inscreva-se na nossa newsletter e receba novidades, conteúdos exclusivos e ofertas especiais direto no seu e-mail. Não perca nada!

Assine nossas

Inscreva-se na nossa newsletter e receba novidades, conteúdos exclusivos e ofertas especiais direto no seu e-mail. Não perca nada!

Preencha as informações para baixar o programa completo

Quero receber novidades