Grandes Estrategistas: Carly Fiorina e a ascensão da HP

Das calculadoras às impressoras aos computadores pessoais, todo mundo já deve ter topado com a marca HP em algum momento da vida.

Mas, a trajetória de sucesso dessa gigante não seria realidade se, em algum momento da sua história, ela não tivesse sido comandada por Carly Fiorina, CEO da empresa entre 1999 e 2005. Uma carreira marcada por altos e baixos, muitas lições e reflexões estratégicas e uma presença que transcendeu o mundo dos negócios.

VIDA E CARREIRA: QUEM É CARLY FIORINA?

Cara Carleton Sneed Fiorina – Carly Fiorina – nasceu no Texas, em 1954. Graduou-se em História e Filosofia Medieval na Universidade de Stanford, em 1976, estudando ainda na Sloan School of Management do Massachusetts Institute of Technology.

Na carreira profissional, começou como secretária na AT&T quando tinha 25 anos. Com 35 anos, foi nomeada como a primeira diretora feminina da empresa e, aos 40, tornou-se chefe das operações norte-americanas. Em 1999, a HP anunciou que ela se tornaria sua nova CEO – a primeira pessoa de fora a liderar a HP em seus 60 anos de história. A jornada de ascensão na carreira ilustra bem o tão falado “American Dream”. Bastante elogiada por sua postura e visão estratégica de inovação na companhia, também foi muito criticada por movimentos polêmicos, construindo uma gestão controversa entre altos e baixos.

Depois disso, Fiorina publicou três livros: sua autobiografia intitulada Tough Choices, em 2006; a obra Rising to the Challenge: My Leadership Journey, em 2016; e Find Your Way: Unleash Your Power and Highest Potential, em 2019.

Em um pedaço polêmico de sua vida pessoal, ainda atuou como comentarista da Fox News e se envolveu com o Partido Republicano, atuando em campanhas políticas e sendo pré-candidata à presidência. Certamente não é das figuras mais extremistas do partido, mas têm posições não lá muito progressistas.

Hoje, Fiorina é presidente da Carly Fiorina Enterprises, que trabalha com empresas para criar uma cultura equitativa no local de trabalho, construir equipes de alto desempenho e ensinar os fundamentos da liderança. Um marco importante: em sua trajetória empresarial, foi considerada uma das mulheres mais poderosas dos Estados Unidos durante 6 anos consecutivos, pela Fortune 500.

UM BREVE CONTEXTO SOBRE A HP

Fundada em 1939 em uma garagem, a HP (Hewlett-Packard) foi apresentada ao mercado por Bill Hewlett e David Packard, estu dantes da Universidade de Stanford. Por surgir na região do “Vale do Silício”, a empresa herdou a mais alta tecnologia, determinante para seus lançamentos e inovações. A marca se especializou em instrumentos de medida eletrônica e calculadoras financeiras e científicas. Mais tarde, em 1960, lançou seus primeiros modelos de computadores.

Nos anos 1980, a empresa recebeu maior investimento no setor de impressoras. Mas, apenas nos anos 1990 a HP se estabilizou no mercado da tecnologia. Nessa época, expandiu a linha de produtos: além de impressoras e calculadoras, a marca adotou novos mercados, com o lançamento do Omnibook 300 – PC portátil com bateria de 5 horas de duração. Já a estreia no mercado de PCs foi em 1995, com o início da série Pavilion. Essa linha continua até hoje, com desktops, notebooks e modelos tudo em um.

Packard morreu em março de 1996 e Hewlett em janeiro de 2001, deixando o comando para seus filhos. Hoje, a HP detém 7% das vendas mundiais de computadores, estando em 3º lugar no ranking mundial.

Altos e baixos: a atuação de Fiorina na HP

Fiorina assumiu seu cargo de CEO da HP em 1999. Nessa trajetória, levou a empresa a se tornar a 11ª maior empresa dos EUA. Nesse momento, o setor enfrentava a pior recessão tecnológica em 25 anos, além de pós-atentados às Torres Gêmeas e consequente crise econômica. 

Certamente o grande destaque no período de Fiorina à frente da HP foi a aquisição da Compaq Computer, que tornou a companhia a fabricante número 1 de PCs em 2001. A compra veio com brigas públicas com membros das famílias Packard e Hewlett (os filhos dos fundadores eram contra), e as demissões subsequentes renderam a Fiorina a inimizade de muitos ex-funcionários.

Cerca de uma semana antes dos ataques de 11 de setembro. Fiorina anunciou que a empresa adquiriria a Compaq por cerca de US$ 24 bilhões. Nesse sentido, cerca de 15.000 funcionários foram demitidos pela sobreposição de funções das duas empresas. Em função das tão desejadas sinergias.

A Compaq liderava em PCs e era grande na área de servidores e alguns críticos dizem que a HP chegou tarde demais para fazer a mudança, com os PCs se tornando commodities rapidamente. Mas, Fiorina não queria simplesmente aumentar as vendas de PCs; ela queria tornar a HP líder em servidores e várias outras linhas de produtos, capazes de superar empresas concorrentes como IBM e Dell.  Então, a estratégia foi de aquisição para crescer no mercado em mais dimensões.

Esse foi o momento decisivo na gestão de Fiorina, e a fusão continua sendo debatida até hoje se foi um bom ou mau negócio. Virou case de MBA em Harvard. As duas empresas se fundiram, mantendo o nome Hewlett-Packard. O negócio, no entanto, não gerou os lucros esperados e, em 2005, Fiorina foi forçada a renunciar ao cargo de CEO.

 

“Deficiente em execução, mas brilhante em estratégia e visão”

Um artigo da HBR descreve Carly Fiorina como deficiente em execução, mas brilhante em estratégia e visão: 

“Fiorina tinha sido uma estrategista brilhante, colocando a empresa em condições de competir com empresas como IBM e Sun Microsystems. Um executivo me disse: ‘Carly estava olhando tão à frente que você não conseguia acompanhá-la’”, escreveu o autor Behnam Tabrizi.

Quando assumiu como CEO, Fiorina queria inovar na HP. Diante disso, surgiram as Regras de Garagem e a reformulação do ‘HP Way’ (código de cultura da empresa), ações que deram o tom de mudança estratégica desejada 

Fiorina criou quatro equipes de reinvenção, com foco em estratégia, estrutura e processos, métricas de desempenho e recompensas, cultura e comportamento, com foco no cliente. Como resultado, as 83 linhas de produtos foram reduzidas para 16. Os grupos de produtos focados em impressoras a laser e a jato de tinta, hardware de computador e sistemas empresariais foram reformulados em duas unidades de clientes e duas organizações de desenvolvimento de produtos.

Um ponto marcante nessa trajetória de mudanças estratégicas foi que Fiorina deixava exposta a sua filosofia de gestão em discursos, sempre incentivando o feedback. Por exemplo: ela pediu a cada funcionário que lhe enviasse por e-mail uma lista de 10 coisas mais idiotas que a HP fazia. Com esse exercício, obteve insights sobre áreas de melhoria, além de incentivar todos a se manifestarem.

 

5 COISAS QUE FIORINA APRENDEU SOBRE LIDERANÇA

Separamos aqui algumas reflexões e lições deixadas por Carly Fiorina aprendidas em sua trajetória na HP:

Líderes criam o novo

Gerenciar é produzir bons resultados dentro de restrições e condições. Mas, a força para a mudança deve ser mais forte do que a inclinação natural de uma organização. Ou seja, para transformar, o CEO deve ter o apoio de uma massa crítica de funcionários. 

 

Não se apaixone por um produto

Fiorina teve empregos de vendas e marketing e experiência em praticamente todos os departamentos. Diante disso, entendeu que nem sempre sua ideia ou produto pode dar certo, mesmo que você ame-os.

 

A competição exige correr riscos

Os riscos de mudar parecem ser mais reais do que os de ficar parado. Os líderes precisam estar dispostos a fazer escolhas difíceis no momento certo – antes que elas se tornem óbvias para todos.

 

Ética importa

As marcas geralmente toleram comportamentos no limite; as pessoas justificam como importante para alcançar resultados. No entanto, isso pode ser corrosivo. Fiorina diz que uma das escolhas mais importantes que fez foi demitir pessoas que não estavam se comportando com integridade.

 

O século XXI é sobre poder cerebral

Avaliar o estado do sistema educacional e investir em transformação; reconhecer que, embora a globalização tenha causado dificuldades aos trabalhadores, a segurança e a prosperidade aumentam quando um grande número de pessoas tem interesse no sucesso da economia global. O EUA prospera porque indivíduos motivados querem vir aqui e construir uma vida melhor.


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