Decisões baseadas em evidências

 

Se você é um líder, com certeza seu dia a dia tem muito a ver com tomada de decisão. No entanto, diferente de você ter escolhido a camiseta verde para malhar em vez da azul, as decisões que as empresas e seus líderes precisam tomar todos os dias devem ser baseadas em evidências concretas de que aquela é a melhor escolha.

Ao contrário de você, que escolheu a camiseta verde porque achou que combinava mais com a sua calça, as empresas precisam ir além de decisões baseadas em achismos, intuições ou somente no feeling ou experiência de seus líderes. É justamente sobre isso que vamos falar aqui: decisões baseadas em evidências em processos de gestão.

Esse modelo de gestão engloba o uso de diversas fontes de evidências científicas e resultados empíricos como forma de entender melhor sobre diferentes assuntos e analisá-los de forma mais técnica. É um mindset muito semelhante ao que, por exemplo, a área de medicina utiliza.

Para explicar melhor, nos baseamos em um artigo clássico da HBR, que ficou famoso lá em 2006, quando foi lançado por Jeffrey Pfeffer e Robert Sutton e cada ano que passa fica mais atual.

A RECOMPENSA DE INVESTIR EM DECISÕES BASEADAS EM EVIDÊNCIAS

Cada vez mais, os gestores têm em sua lista tarefas muitas atividades complicadas. Uma delas é a significativa e recorrente pressão para tomar decisões corretas e válidas com o uso de informações incompletas e até mesmo ineficazes. Isso faz com que, muitas vezes, sejam vítimas de exageros, de curas “milagrosas” ou da adoção das “melhores práticas” de outras empresas, sem perguntar se elas funcionaram ou não. O resultado? Decisões de baixa qualidade que desperdiçam tempo e dinheiro, podendo até, na pior das hipóteses, comprometer o futuro do negócio.

Com o intuito de mudar isso, a gestão baseada em evidências significa que toda vez que alguém propõe uma iniciativa é preciso não só fazer um escrutínio mais minucioso sobre a lógica que está por trás, procurando por falhas de raciocínio. Mas também solicitar evidências científicas ou empíricas sobre a sua potencial efetividade. Isso faz com que seja absolutamente necessário que os líderes se mantenham atualizados em seus campos de atuação. Outra prática interessante nessa direção é incentivar as pessoas a experimentar novos experimentos, recompensando aqueles que aprendem com esses esforços, fazendo então a produção das próprias evidências de maneira concreta.

 

Gestão por evidências, na prática

Para ficar mais fácil de entender, vamos dar dois exemplos. De um lado, podemos imaginar um executivo de uma área de vendas, que traz para o seu gerente uma ideia de prospectar clientes em uma região diferente do país, em que eles não têm muita presença. Ele enumera uma série de clientes em potencial nessa região e o discurso é muito convincente de que é uma boa ideia. Se o gerente toma decisão baseado em evidências, o que ele deveria fazer aqui é minimamente cobrar dados concretos sobre a região, do ponto de vista demográfico, econômico, tamanho do segmento, potencial de compra, perspectivas de crescimento e estabelecer o que seria um resultado inicial suficiente para que a iniciativa fosse considerada bem sucedida, frente a um investimento necessário para chegar lá.

Esse exemplo parte de uma proposta inovadora, no sentido de ser diferente do que já é feito e, incerto de alguma maneira. Então vamos a um segundo exemplo. Imagine que a área de RH da empresa leva a diretoria a ideia de fazer um sistema de feedback 360º. É uma prática bem adotada no mercado, em grandes empresas. E isso já poderia ser considerado evidência suficiente para que o projeto fosse aceito, certo? Errado. O gestor aqui deveria cobrar evidências da eficiência desse tipo de sistema de feedback, de forma muito concreta. Empresas que adotam o feedback 360 ganham em que? Tem menos turnover? Melhor performance dos profissionais? Em que proporção? Segundo quais estudos?

Estabelecer esse tipo de prática como cultura faz com que as pessoas pensem antes de propor iniciativas e se cerquem de bons argumentos para elas.

Centenas de revistas e periódicos dedicados à gestão, dezenas de jornais de negócios, 30 mil livros impressos e milhares sendo publicados com o mesmo foco, além de pontos de web para conhecimento que seguem expandindo.

É fato que existe muita informação para qualquer gerente consumir, ou seja, há provas suficientes para que decisões sejam tomadas com base em evidências confirmadamente seguras.

Aumento da responsabilidade

A tomada de decisão faz parte de um negócio diariamente, seja ela certa ou errada, impactando de forma imediata no desempenho organizacional. Por isso, o gestor precisa entender que é de sua responsabilidade garantir que o processo esteja de acordo com os mais altos padrões de qualidade.

Neste sentido, aderir a um movimento garante considerar as melhores evidências disponíveis ao tomar decisões, sempre atentando-se para os seguintes pontos:

  • Dados organizacionais

  • Especialização profissional

  • Valores e preocupações das partes interessadas

  • Insights de pesquisas científicas

Um processo de tomada de decisão baseado em uma abordagem estruturada e orientada pelas evidências aumenta a transparência e, portanto, a responsabilidade. Como resultado, o gestor não apenas aumentará o desempenho organizacional, mas também sua posição, reputação e perspectivas de carreira como profissional.

Tornando-se uma empresa de líderes baseados em evidências

Sabemos como é difícil para a liderança fazer seu trabalho. As demandas por decisões e as informações entregues, muitas vezes, são incompletas e sem sentido, e até mesmo os melhores executivos cometem erros e sofrem críticas. Nesse quesito, podemos compará-los aos médicos, que enfrentam uma decisão crítica após a outra, onde não é possível fazer a escolha correta sempre.

Porém, a diferença básica é que hospitais que adotam a medicina baseada em evidências tentam superar os impedimentos para usá-la fornecendo treinamento, tecnologias e práticas para que os funcionários possam levar os resultados dos melhores estudos à beira do leito. Se uma cirurgia deve ou não ser feita mediante determinado diagnóstico, isso é decidido de acordo com estudos científicos que demonstram a efetividade do procedimento.

O equivalente deve ser feito no gerenciamento das empresas. Mas é crucial perceber que a gestão baseada em evidências envolve uma mentalidade distinta, que colide com a maneira como muitos líderes e empresas operam. Ela apresenta a di sposição de deixar de lado a crença e a sabedoria convencional (as tais meias-verdades) e substituí-las pelo compromisso de reunir fatos para tomar decisões informadas e inteligentes.

Se pedir evidências de eficácia toda vez que uma iniciativa for proposta, as pessoas vão começar a absorver isso como uma cultura. Se dedicar um tempo para analisar a lógica por trás dessa evidência, aqueles à volta se tornarão mais disciplinados. Se tratar a organização como um protótipo inacabado e incentivar experimentos, testes e estudos, recompensando o aprendizado dessas atividades, a organização vai desenvolver sua própria base de evidências.

VAI FAZER A DIFERENÇA?

Uma das lições mais importantes aprendidas é que praticar o movimento de gestão baseado em evidências faz a diferença. Veja este simples estudo, citado pela HBR:

“um experimento na Universidade de Missouri comparou grupos de tomada de decisão que se levantaram durante reuniões de 10 a 20 minutos com grupos que se sentaram. Aqueles que se levantaram levaram 34% menos tempo para tomar decisões, e a qualidade foi tão boa quanto. Se as pessoas devem se sentar ou se levantar durante as reuniões, pode parecer uma pergunta totalmente boba à primeira vista. Mas faça as contas. Veja a gigante de energia Chevron, que tem mais de 50.000 funcionários. Se cada funcionário substituísse apenas uma reunião de 20 minutos por ano por uma reunião em pé, cada uma dessas reuniões seria cerca de 7 minutos mais curta. Isso economizaria quase 6.000 horas por ano.”

O que queremos dizer com isso? Que basear-se em estudos e dados pode ajudar um gestor a tomar decisões mais inteligentes em prol de pessoas, colaboradores, parceiros e a própria empresa.

Se levada a sério, a gestão baseada em evidências muda a forma como o gestor pensa e age, permitindo o desempenho do trabalho de forma eficaz. Neste sentido, enfrentar os fatos concretos e a verdade sobre o que funciona ou não, entender as meias-verdades que envolvem a gestão e rejeitar o absurdo que muitas vezes passa por bons conselhos ajudará organizações a ter o sucesso almejado.


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