Storytelling como ferramenta poderosa para comunicar Estratégia

Chega um momento da parte estratégica de qualquer projeto, campanha, negócio ou ideia em que é preciso apresentá-la a outras pessoas. É a hora de traduzir todo o conceito abstrato de estratégia que está na sua cabeça para um público – seja um cliente, a equipe de trabalho, seus líderes ou liderados, sócios etc.

E a forma de tornar tudo isso concreto é utilizar a linguagem para dar forma a esse raciocínio. Isso pode ocorrer em forma de vídeo, áudio, texto, apresentação com slides, diagrama visual, entre outras coisas. Desde que elas tenham a capacidade de deixar claro para as pessoas a sua ideia, os desdobramentos que você deseja, como colocar essa estratégia em ação, fazer a equipe dar andamento às tarefas e por aí vai.

Afinal, vamos lembrar: estratégia é algo muito abstrato, muito conceitual, “invisível”. No limite, é apenas uma lógica de raciocínio que dá racionalidade às escolhas que serão feitas sobre como a empresa vai utilizar seus recursos. Então, é natural que seja algo difícil mesmo de comunicar.

É aqui que o storytelling ganha seu protagonismo e faz toda a diferença na transmissão desse conhecimento. A habilidade de contar histórias é um grande trunfo para comunicar a sua estratégia. Porque, entre outras coisas, ela oferece uma linha de raciocínio reta, que faça sentido e conecta de forma lógica uma informação na outra. Tende a não deixar ‘buracos’ na forma de pensar, ‘prende’ o interlocutor na sua narrativa e, assim, busca atingir o seu objetivo com a apresentação.

Afinal, além de fazer sentido na sua cabeça, precisa principalmente fazer sentido na cabeça dos destinatários da mensagem.


A transmissão de uma ideia

O curador do TED Talks, Chris Anderson, aborda o assunto em um de seus vídeos. Ele usa o exemplo de uma apresentadora que está ansiosa por palestrar no TED e que, por 18 minutos, consegue entrar em sincronia com a plateia e gerar os mesmos padrões de ondas cerebrais que seus ouvintes. Mesmo em meio a bilhões de neurônios, uma ideia é gerada através da conexão de alguns desses neurônios dentro da mente da palestrante e conforme ela vai apresentado, as suas palavras, gestos e expressões conseguem transmitir e gerar essa mesma conexão na mente da plateia.

As ideias são conexões que podem ser mais ou menos complexas, mas que interferem diretamente na forma como visualizamos o mundo, interpretamos as coisas e reagimos a determinadas situações. Saber transmitir uma ideia pode mudar drasticamente a forma de pensar e de agir de uma pessoa. Por isso as ideias são uma força poderosa e capaz de moldar a cultura humana.

O papel principal de um apresentador, em quaisquer contextos, em cima do palco ou fora dele, é fazer brotar uma ideia na cabeça das pessoas que estão assistindo. E para isso ele destaca algumas abordagens.

A primeira é foco total: limitar a plateia a apenas uma grande ideia. Para isso é necessário resumir o conteúdo, para conseguir explicar, dando exemplos que deixem mais claro a absorção da ideia. Essa grande ideia tem que ser o fio condutor da apresentação, sendo que tudo que você falar precisa ter alguma conexão ou remeter a ela de alguma forma.

A segunda questão é dar à plateia razão para querer te ouvir. Antes de começar a criar/brotar ideias na plateia, você precisa da permissão delas para isso. E qual é a principal ferramenta para isso? A curiosidade. Faça perguntas intrigantes e provocativas, para deixar claro porque algo não faz sentido e precisa ser explicado.

Aí sim, faz sentido apresentar a sua ideia, parte por parte, por meio de conceitos que sua plateia já compreende. Usar a linguagem para costurar conceitos que já existem na mente das pessoas. E isso não é a nossa linguagem e sim a linguagem deles, como eles entendem. Por isso, metáforas podem ser fundamentais em mostrar como as partes se encaixam. Nesse sentido, é válido testar a apresentação com alguns amigos para ver quais partes eles não entendem tão bem e ajustar ela.

E, por fim, cabe sempre uma reflexão sobre o quanto vale a pena compartilhar a ideia. Perguntar sinceramente para nós mesmos: quem essa ideia beneficia? Por que isso faz sentido? Se a resposta for que só beneficia você e a sua própria agenda, não vale a pena ser compartilhada, pois a plateia tende a ignorá-la. Porém, se a ideia tem o potencial de iluminar o dia de alguém, mudar a perspectiva, inspirar a fazer algo diferente, então se tem o ingrediente principal para uma ótima apresentação: que essa ideia será um presente para todos.

O storytelling é uma técnica eficaz para fazer essa comunicação de ideias. E como aborda o animador e roteirista Andrew Stantoncriador de filmes como Toy Story, Nemo e Wally-E, contar histórias é ter diretrizes, não regras rígidas ou dicas rápidas e engessadas. Praticamente é conectando a emoção com a ideia ou mensagem, fazendo que isso seja o ponto chave de toda a história, ou seja, existe uma mensagem central e todo o enredo gira em torno de comunicar ela.

Como comunicar melhor sua estratégia?

Georgia Everse, executiva de marketing e comunicação com mais de 30 anos de experiência, compartilhou há alguns anos na revista de negócios HBR, 8 maneiras de comunicar uma estratégia de maneira eficaz. Esse texto traz bem uma visão empresarial, inclusive focada no ambiente interno (funcionários) de como transmitir a estratégia para que todos possam se manter engajados dentro da empresa.

Um dos pontos é exatamente o incentivo a contar uma história. Porque as pessoas têm dificuldade para lembrar de fatos e números, mas uma facilidade muito maior para lembrar de histórias e de seus significados. 

E outra questão que faz todo sentido para a comunicação seja de fato eficaz é não sair contando uma história de qualquer maneira, mas sim posta dentro de uma estrutura narrativa. E, apesar de existirem inúmeras estruturas já criadas e mapeadas, a autora sugere uma em três pontos: inspirar, educar e reforçar.

Inspirar porque a mensagem deve transmitir o progresso, avanço, benefício que está sendo gerado ou alcançado por meio da estratégia. Educar explicando de forma detalhada, e de preferência em pequenos grupos, para que a estratégia seja realmente compreendida e que as pessoas envolvidas possam tirar suas próprias conclusões e se sentirem responsáveis pela implantação. E reforçar para aumentar a absorção e não cair no esquecimento. É necessário repetir a mensagem, porém de formas variadas para colaborar na conexão entre o propósito e a estratégia (e não virar apenas “mais do mesmo”).

Outro ponto interessante que ela aborda é a empatia. Colocar seu chapéu de “pessoa real” para evitar o papo corporativo vazio e sem significado. A fala precisa ser de pessoas para pessoas. E até por isso precisa ser mais ampla do que a típica mensagem transmitida pelo CEO. 

Já outro artigo do Mit Sloan Management Review já desce um pouco mais especificamente em estratégia e na tomada de decisão sobre as prioridades, trazendo algumas técnicas para comunicá-las com eficácia. Na visão dos autores, a comunicação da estratégia é mais eficaz quando segue alguns passos:

  1. Limite as prioridades estratégicas: além de ser mais objetivo, demonstra que houve um trabalho de seleção e análise, ao invés de simplesmente divulgar/comunicar todas as ideias/estratégias.

  2. Forneça uma explicação concisa do que significa cada prioridade: ou seja, para cada estratégia que foi priorizada no item anterior, cabe uma explicação de porque ela foi uma das escolhidas.

  3. Esclareça como a prioridade será cumprida: tão importante quanto “o que será feito”, se deve explicar “como será feito”, pois isso demonstra um domínio da situação. Utilizar exemplos também ajuda nessa etapa.

  4. Explique por que uma prioridade é importante: complementando o passo anterior, explicar o porquê de cada prioridade, principalmente se elas não têm um impacto direto nos resultados financeiros.

  5. Meça o progresso para alcançar prioridade: manter um acompanhamento ajuda a não deixar que as prioridades caiam no esquecimento. Além disso, medir o progresso reforça a importância da prioridade.

  6. Defina metas específicas para o futuro: ao apresentar prioridades/metas claras e com datas, a reputação da pessoa/empresa entra em jogo. Ao apostar a reputação no atingimento de resultados, diminuem as chances da prioridade ser descartada. E quando ela é cumprida, aumenta a credibilidade.

Essas são algumas das técnicas e abordagens, mas o assunto é muito amplo, complexo e é possível se aprofundar muito mais. Mas o importante é incorporar a ideia de que comunicar estratégia e pensamentos abstratos é uma tarefa muito difícil – e o domínio das técnicas de storytelling é talvez o caminho mais curto e eficaz para lidar com isso.


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