O paradigma do Open Strategy

Dá para dizer que estratégia é um bicho que se reinventa a todo momento, quase como as estações do ano. Só que ainda mais rápido. Por exemplo, em termos de dinâmica corporativa, antes estratégia costumava envolver uma abordagem mais rígida, de cima para baixo. Entretanto, com o protagonismo que os processos de inovação têm ganhado, o conceito de Open Strategy ganha mais o centro do palco e cria uma nova maneira de trazer ideias estratégicas para as empresas.

Hoje já se vê grandes corporações como Daimler, IBM e Linux usando esse tipo de estratégia de forma mais consistente, enquanto outras gigantes, como Amazon, Google e Mozilla usam de forma mais pontual.

Mas, afinal, o que exatamente é uma estratégia aberta? Como usar e por que um negócio deve apostar nisso?

 

O que é Open Strategy?

A ideia da estratégia aberta dá às partes interessadas, sejam internas ou externas, mais participação no desenvolvimento do processo, ao mesmo tempo em que proporciona o acesso a informações para todos os envolvidos, algo que geralmente não seria “necessário” para contribuir.

Resumindo, a estratégia aberta possibilita que participantes externos também se envolvam no processo, sejam eles empresas que compartilham informações com terceiros, organizações que obtêm tecnologia de outras marcas ou aquelas que solicitam a atores externos soluções para seus problemas internos.

Esse tipo de estratégia se mostra bastante eficaz em casos onde as circunstâncias são dinâmicas e precisam ser ajustadas de maneira ágil, contando com mais olhares do que os internos, que tendem ao vício natural.

 

Como usar a Open Strategy?

Para entender essa ideia é fundamental pensar em estratégia como algo dinâmico, capaz de mudar para se adequar às necessidades de uma determinada situação. Nesse sentido, é importante ouvir ao máximo os stakeholders, para entender o que está acontecendo e agir sobre isso rapidamente. Muitas vezes, de dentro dos muros das empresas, fica difícil ter o pulso certo do que está acontecendo e as mudanças demoram a surgir. Aqui, uma infraestrutura de comunicação também é útil àqueles espaços onde as novas ideias são valorizadas.

Ao mesmo tempo, é bom lembrar que manter uma estratégia aberta e dinâmica requer muita gestão interna. Grandes projetos podem se beneficiar de plataformas de trabalho conjunto que utilizam sistemas de votação, canais de mídia social e outras ideias baseadas em fóruns. Essas plataformas podem organizar as ideias e as contribuições de alguns a centenas de milhares de membros.

 

Algumas desvantagens de apostar na estratégia aberta

Nem tudo são flores e, como qualquer outro tipo de conceito, este também tem suas falhas. Além da evidente questão do sigilo, que logo vêm à mente de todos, por ser algo muito dinâmico, a abordagem de open strategy apresenta algumas outras desvantagens e até mesmo dificuldades ao ser implementada. 

Uma estratégia aberta busca atingir uma comunicação rápida e eficaz entre as partes interessadas e, diante disso, tem custos consideráveis, com o intuito de configurar e manter uma infraestrutura de comunicação de alto funcionamento.

Isso faz com que elementos distintos (escopo, objetivos etc.) devam ser bem destacados às partes interessadas a todo instante, também trazendo desafios de comunicação e engajamento. Se isso não acontecer, o risco é grande da iniciativa ficar desorganizada e pouco produtiva.

 

NA PRÁTICA: COMO IMPLEMENTAR UM PROCESSO DE OPEN STRATEGY

Um artigo da Harvard Business Review ensina que a estratégia em uma empresa pode ser desenvolvida através de três fases: determinar a direção que deseja tomar (fase de geração de ideia), trabalhar os detalhes exatos de estratégia (fase de formulação) e mobilizar a equipe em torno da estratégia (fase de execução), envolvendo diferentes números e pessoas, com quantidades e dados distintos:

 

Ideias

Em geral, as empresas se beneficiam com a inclusão de uma grande multidão de participantes externos diversos no primeiro estágio, porque isso oferece um novo pensamento e legitima uma nova ideia, ajudando os executivos a se unirem em torno de uma direção específica. Aqui, os participantes não precisam de muitas informações da empresa para fazer com que as ideias fluam, tornando mais fácil manter o sigilo.

Formulação

Durante a segunda fase, a abertura requer a liberação de uma quantidade substancial de informações para obter resultados valiosos. Como resultado, a maioria das empresas vai envolver sua própria equipe ou selecionar um grupo de pessoas de fora que assinam acordos de não divulgação, escolhido a dedo.

 

Execução

Aqui, as empresas precisam compartilhar o conhecimento específico, o que torna o sigilo difícil. Felizmente, os benefícios da abertura superam os perigos. Embora os concorrentes possam aprender seus planos, neste estágio eles estão comprometidos com os seus próprios. O sigilo também é menos problemático, pois os principais participantes devem ser funcionários e parceiros, em vez de pessoas estranhas.

Um exemplo de estratégia aberta, com essas três fases, segundo os autores Christian Stadler, Julia Hautz, Kurt Matzler e Stephan Friedrich von den Eichen para Harvard Business Review, é a topcoder.com, plataforma para crowdsourcing de talentos digitais com base em projetos. A empresa solicitou em 2014 um aconselhamento técnico sobre como coletar dados úteis da fotografia de bisões, convidando os participantes a desenvolverem um algoritmo para usar dados estruturados e não estruturados, como carimbo de data/hora ou GPS de fotos publicadas online, para desenvolver procedimentos que ajudaram a identificar os padrões de migração dos rebanhos de bisões.

Embora parecesse um concurso organizado por conservacionistas, na verdade foi uma manobra da Comunidade de Inteligência (IC) dos EUA para usar a sabedoria da multidão para ajudar com um tipo muito diferente de problema: rastrear militares russos que operam no território contestado da Crimeia, bem como os movimentos diários de veículos militares hostis através das fronteiras.

Se essa comunidade tivesse representado um desafio direto para os programadores, eles teriam atraído atenção indesejada. Os espiões russos poderiam ter sabotado o concurso, por exemplo. Ao enquadrar seu desafio como um exercício de conservação da natureza, o IC poderia obter o conhecimento de que precisava sem ser detectado.

Esse exemplo nos mostra que empresas podem usar métodos abertos para alavancar diversas perspectivas de um grande número de participantes de dentro e de fora de suas organizações, mantendo sigilo parcial ou total. Claro que é um exemplo extremado, de guerra, mas a origem da estratégia é justamente no meio militar.

Com esse processo bem definido e alinhado para suas realidades, as empresas não precisam mais ter medo de apostar em open strategy.

Até porque a estratégia corporativa é somente o ponto de partida de algo muito maior, por isso, ela deve seguir sendo sempre dinâmica (ou aberta, como vimos), com o intuito de levar em consideração as transformações das circunstâncias, como mudanças de mercado, base de clientes, escopo e fatores externos. Lembrando que os elementos iniciais podem não ser mais importantes em dado momento, e estratégias emergentes podem tomar seu lugar à medida que as circunstâncias mudam. E esse certamente é o modo mais saudável de encarar qualquer processo estratégico, aberto ou não.