“Trabalhe com o que ama e não precisará trabalhar nenhum dia em sua vida”.
Certamente você já ouviu essa expressão e passou a pensar em como isso poderia ser colocado em prática no dia a dia, seja aprendendo a gostar do que faz ou trocando de emprego para trabalhar no que realmente ama.
Entretanto, não é tão fácil quanto se pensa. Trabalhar com propósito nem sempre é tão simples assim. Esse é um assunto bastante falado no mundo corporativo, mas a verdade é que poucos profissionais conseguem fazer isso na prática. Até mesmo os bem-intencionados têm dificuldades em atrelar propósito e trabalho de uma forma realmente verdadeira, de maneira que não fique somente um discurso vago. Muitas vezes, clientes ou mesmo funcionários de uma empresa não conseguem ‘comprar’ esse discurso, ficando apenas nas palavras, sem que se torne verdadeiramente concreto.
Ikigai: um conceito difundido sobre o propósito
Afinal, o que faz as pessoas quererem levantar da cama todos os dias? A resposta para essa pergunta nem sempre existe na vida de todo mundo. Isso acontece porque as pessoas ainda estão em busca do seu ikigai – em português, se assemelha à “razão de viver”.
O termo nasceu no sul do Japão, em Okinawa, local conhecido como blue zone, região que abriga uma alta concentração de pessoas centenárias. O senso de comunidade e a boa alimentação são dois fatores que contribuem, mas, além disso, a ciência também mostra que ter um plano de vida leva à longevidade.
Um estudo publicado no periódico The Lancet em 2014 analisou 9.050 ingleses com idade média de 65 anos, durante oito anos e meio, e descobriu que os participantes que sentiam que aquilo que faziam valia a pena tiveram 30% menos chances de morrer e viveram, em média, dois anos mais dos que os outros. Quando se tem um propósito, há sentido na vida e, portanto, a gratidão e a resiliência são facilitadas, já que são extremos necessários para o bem-estar, segundo Claudia Feitosa-Santana, neurocientista e pós-doutora pela Universidade de Chicago.
A busca pelo propósito carrega consigo uma jornada interna de autoconhecimento, já que ele nem sempre é óbvio. O importante é não desistir de buscá-lo, desde as coisas mais simples do dia a dia até a busca interior e ideias pessoais:
Encontrar propósitos pequenos no dia a dia, como beber uma xícara de café;
Observar a si e às versões mais antigas;
Pontuar o que já sabe que não quer, dando pistas e excluindo caminhos que não o agregam;
Respeitar processos pessoais;
Não limitar-se a um único e grandioso propósito;
Priorizar atividades que beneficiem também o outro.
No quesito mundo corporativo, quem empreende deve gostar do que faz. O ikigai, neste sentido, serve como apoio para motivar o time. Apesar de cada pessoa ser única e possuir o seu ikigai, elas fazem parte de uma mesma sociedade. Se todas estiverem vivendo em harmonia consigo, fica mais fácil ser amável com o próximo, criando um ambiente saudável de convivência pacífica em qualquer esfera dessa sociedade, inclusive dentro de uma organização.
Por que falar em propósito?
“Propósito tem a ver com sentido, é ver um sentido naquilo que você está fazendo”, diz a jornalista, pesquisadora e artista Vanessa Cancian, para Revista Gama. Em meio à década de 1980, nasceu a chamada geração Y. A partir daí, a expressão “propósito no trabalho” começou a ganhar nome. Entretanto, somente no início do século 21 foi que o termo ganhou maior proporção e sentido, culminando no discurso do empreendedor. Depois disso, os tempos de trabalho, lazer e descanso começaram a se fundir e confundir, fazendo com que jovens contemporâneos fossem obrigados a conciliar essas esferas.
Tendo seu auge na cultura millennial (ligada à geração Y), há quem diga que a época áurea do discurso do propósito no trabalho esteja em decadência. Com a crise econômica de 2008 e os problemas agravados pela pandemia, se deslumbrar com o propósito de trabalho é ofuscar-se. Uma relação cada vez menos romantizada. Segundo o psicanalista e pesquisador de cultura e comportamento Lucas Liedke, um exemplo é o home office, que inicialmente parecia um sonho, mas no fim, não foi bem assim – é um privilégio trabalhar em casa, mas tudo mudou, as condições de trabalho, a capacidade mental e emocional, o senso de comunidade…
Nesse momento, lembramos do conceito de “bullshit jobs” (“trabalhos cretinos”), criado pelo antropólogo e anarquista norte-americano David Graeber em 2018. É uma categoria de funções esvaziadas de propósito – sob o olhar de funcionários, com trabalhos que envolvem tarefas sem propósito ou onde o humano pode ser substituído por máquinas. Para reverter essa situação, o escritor Jonathan Malesic, para New York Times, afirma que
“é preciso trabalhar menos, criar mais tempo de lazer, rever a centralidade do trabalho e aprender a encaixá-lo em uma boa vida.”
Segundo Custódio, é preciso responder questionamentos no dia a dia que norteiam o propósito e ajudam a entender por que se fala nisso atualmente:
“O que está instituído em médio e longo prazo que nos ajuda a entender a conformação dessas juventudes? Quais são as rotinizações?”.
Como as empresas lidam com o “trabalho com propósito”?
Definir um porquê corporativo e garantir que ele oriente as decisões e operações tornou-se a base para fazer negócios e consolidar marcas. Um bom exemplo vem de encontro com o que destaca Hubert Joly, ex-presidente e CEO da Best Buy: o propósito da Best Buy foi crucial para a maneira como a empresa cresceu e evoluiu.
Isso ajudou a inspirar funcionários desanimados e impulsionou o preço das ações da empresa em 10x, desde 2012. Embora a Best Buy fosse pautada por objetivos simples de entender, sempre foi muito difícil transformá-los em realidade.
Por muito tempo, o empreendedor refletiu sobre o propósito das empresas, bem como o papel do trabalho nas buscas individuais. Embora sua filosofia convença sobre o poder dos objetivos pessoais e corporativos, as ideias de Simon Sinek, autor britânico-americano e palestrante inspirador, lembra que foi fu ndamental para a Best Buy articular seu “por quê”.
Hoje, a maioria dos líderes acredita que o objetivo maior das marcas é fazer uma diferença positiva no mundo – não apenas valorizar os acionistas. Oito em cada dez executivos, por exemplo, acham que um forte senso de propósito compartilhado aumenta a satisfação dos colaboradores, facilita a transformação de negócios e ajuda a aumentar a lealdade do cliente. A maioria também entende que trabalhar com propósito ajuda marcas a navegar em um ambiente volátil e imprevisível, proporcionando um desempenho elevado e sustentável.
5 considerações para definir um propósito corporativo poderoso
Os 5 passos utilizados pela Best Buy que deram certo para definir um propósito poderoso no mundo corporativo:
1. Procurar o propósito da empresa na interseção de quatro círculos
Para chegar a um propósito significativo, autêntico, confiável e poderoso, explore todos os quatro círculos por completo:
O que o mundo precisa.
O que as pessoas na empresa são apaixonadas.
Em que a empresa é excepcionalmente boa.
Como a empresa pode criar valor econômico.
2. Ancorar o propósito nas necessidades humanas
Conectar-se às pessoas ao invés dos produtos e serviços que você oferece para atendê-las é um ponto crucial para definir o propósito corporativo. Já dizia Simon Sinek: “é isso que separa o porquê do quê e como”. Além disso, possibilita ampliar horizontes, abrindo o mercado além do que já faz.
3. Conectar com o que você e sua equipe se preocupam profundamente
Tornar as coisas pessoais é importante para definir o propósito da empresa. Quando as paixões das pessoas se alinham com o propósito de onde trabalham, todos dão o melhor de si para seguir um propósito coletivo. Além das especificidades individuais, a maioria das pessoas geralmente deseja fazer algo bom para outra – isso se estende a colegas, clientes e todos que fazem parte do ambiente empresarial.
4. Abraçar as partes interessadas
Como garantir que todas as partes interessadas se beneficiem do propósito da empresa? Tudo começa com a identificação de quem são, do que precisam e como ajudar a atender essas necessidades. Isso reflete uma visão de negócio que vai além das quatro paredes. Nessa abordagem, o negócio é um ecossistema baseado em uma interdependência benéfica de todas as partes. Essa arquitetura tem os funcionários no centro do negócio, criando e nutrindo relacionamentos atenciosos e autênticos internamente e com os stakeholders, de uma forma que contribui para o propósito e cria ótimos resultados para todos.
5. Escolher o nível certo de ambição
O objetivo da empresa não deve ser ambicioso ou não suficiente. Deve ser apenas correto. Um propósito desconectado do negócio principal, amplo ou vago para ser aplicado a qualquer empresa, permanecerá com uma declaração vazia. No extremo contrário, dificilmente um propósito que descreva o que a empresa já faz, em vez de abordar um problema não resolvido, fará bem ou inspire alguém.
Como entender 2022 e realmente o que vai acontecer? Como analisar tudo o que virá e entender sobre propósitos? Para responder essa pergunta, é fundamental estar por dentro das tendências do universo do marketing, colocando sua marca em outro patamar e aumentando o seu conhecimento.
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