Estamos em pleno período de COP na ONU, a maior e mais importante conferência sobre o clima do planeta, e o evento nos faz olhar mais para um importante termo que vem ganhando ainda mais espaço no mundo corporativo em relação às marcas e suas estratégias. Tudo resumido em apenas três letras: ESG.
Para contextualizar, lembramos que a sigla, em inglês, significa Environmental, Social and corporate Governance – melhores práticas ambientais, sociais e de governança, em português. Ser uma marca reconhecida por cuidar do meio ambiente (E), ser engajado socialmente (S) e cuidar da lisura dos processos corporativos (G) se tornou essencial no mundo dos negócios.
Ser referência quando o assunto é ética, transparência, prestação de contas e coerência entre promessa e entrega da missão empresarial. O propósito das empresas mudou em boa parte da elite do capitalismo mundial. Foi em 2019 que o Business Roundtable, grupo empresarial com presidentes das maiores companhias americanas, divulgou que romperia a ideia de que os negócios existem para dar retorno aos acionistas. Mas, sim, ao contrário: empresas são agentes de transformação, gerando valor aos stakeholders, as partes interessadas que devem estar de acordo com as práticas de governança corporativa executadas pela empresa.
Por exemplo, quando Fernanda Camargo abriu a Wright Capital, estabeleceu uma regra: só aceitaria dinheiro de quem concordasse em investir, ao menos 1% de seu capital, em negócios de impacto social, com o objetivo de resolver problemas sociais e também gerar lucro.
Um outro exemplo desse jeito de pensar, já em nível global, é a 3M. A marca criou sua política ambiental Pollution Prevention Pays em 1975, que, segundo a empresa, evitou mais de 2,5 milhões de toneladas de poluição e economizou quase US$ 2,2 bilhões.
Em nível nacional, 39 empresas brasileiras estão entre as melhores do mundo em práticas ESG, segundo o Ranking “Best For The World”, realizado em 2021. Essa lista demonstra como as marcas estão, cada vez mais, mostrando sua preocupação com o todo, envolvendo governança, sociedade e planeta, ou seja, oferecendo, além do retorno financeiro, impactos que chegam de forma positiva para todos. Ao analisar de perto o ranking, podemos perceber diferentes abordagens estratégicas sobre o tema, que fazem valer a pena uma análise mais cuidadosa.
Estratégias ESG focadas em RH
As melhores empresas para seus funcionários são as que entendem que a sua responsabilidade vai além de remunerar as pessoas de forma justa pelas horas que dedicam à organização. Mas sim proporcionar salários dignos, jornadas flexíveis, benefícios ligados ao bem-estar profissional financeiro, físico e mental das pessoas, etc.
A Loft, dedicada à inovação no mercado imobiliário, leva isso bem a sério. O mantra dos seus funcionários é Be Yourself (seja você mesmo). Internamente, a marca possui três comitês de diversidade: Pride at Loft (LGBTQIAP+), Girl Power (mulheres) e Colors at Loft (pessoas pretas, indígenas e amarelas). Atualmente, 44% dos 800 funcionários são mulheres – a meta é chegar a 50% até o fim de 2021. Para aumentar a pluralidade, há vagas exclusivas para pessoas pretas, transexuais e mulheres, além de um banco de talentos negros.
Acabar com o empréstimo caro no país é uma missão da Creditas. Mas, a marca vai além disso e tem outra missão: a empresa busca reforçar o pilar social em sua casa, parte do ESG que aplica em seu business. Mulheres são 40% dos funcionários – sequência seguida nos cargos de liderança. Por terem clientes diversos, também entendem que isso deve se refletir em sua equipe, uma vez que, para eles, a diversidade ajuda a tomar as melhores decisões.
Empresas destaques ESG pelo viés social
Empresas que são destaques em ESG pelo viés social são as que contribuem para o bem-estar socioeconômico das comunidades em que atuam, realizando, por exemplo, ações de diversidade, equidade e inclusão. Algumas empresas exemplos nesse quesito que entraram no Ranking Best For The World: 4You2 Idiomas, que ensina idiomas para pessoas na base da pirâmide social com cursos de baixo custo e a MOV Investimentos, que gerencia investimentos somente com empresas socialmente responsáveis no portfólio.
Outro exemplo é a Whirlpool, dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid. O dia a dia da multinacional ficou corrido em 2020 por causa da pandemia, já que uma parte dos operários de linhas de produção fez hora extra para desenvolver respiradores mecânicos destinados a aliviar o sofrimento de pacientes em hospitais do SUS. Mas não é só isso. O compromisso da marca com o ESG começou muito antes do termo ser tendência. Desde 2000, a empresa tem um comitê de sustentabilidade ambiental, que já trouxe resultados. Em 2015, a operação zerou o envio de resíduos industriais para aterros e, depois disso, tudo passou a ser reciclado.
Empresas que possuem produtos ESG
São aquelas organizações que não possuem o ESG na veia, ou seja, não carregam isso em sua essência, mas, buscam entregar iniciativas nessa direção. Não soa tão legítimo, mas ainda assim é um movimento bastante interessante.
Um bom exemplo é o Itaú. Em abril de 2020, a cúpula do banco anunciou o Todos pela Saúde, fundo para a doação de R$ 1 bilhão para ajudar o SUS no combate à Covid-19. A doação ajudou a filantropia brasileira a arrecadar mais de 5 bilhões de reais nos cinco primeiros meses, segundo dados da ABCR. Semanas depois do pontapé inicial, empresas como Braskem, Suzano e Coteminas e Malwee entraram na campanha. Até mesmo os funcionários do banco doaram como pessoa física. Mais de um ano depois, o projeto já arrecadou mais R$ 500 milhões de outras fontes de financiamento.
O segredo para o bom desempenho em ESG do Grupo Boticário de cosméticos e produtos de beleza, está na equação entre geração de valor social e produtos feitos com um impacto mínimo no meio ambie
nte. Um exemplo, entre tantos que a marca pratica, em parceria com a Raízen, é a produção de um perfume de álcool ecológico, feito do bagaço da cana-de-açúcar. A marca pretende ampliar a fórmula para todos os produtos a partir deste ano.
Marcas com ESG no DNA
Há marcas que desde sempre [ou quase] carregam esse tipo de práticas de governança, social e ambiental nos seus DNAs. E usam isso como parte integrante da sua estratégia, para se posicionar no mercado. Neste caso, não basta apenas se dizer, é preciso provar, e elas fazem isso de forma absoluta.
Um grande exemplo, conhecido de todos nós, é a gigante de cosméticos Natura, que sempre recebeu um enorme destaque por suas iniciativas sustentáveis na Amazônia. Destacam-se campanhas como “Amazônia Viva” – onde a companhia contribuiu com a conservação de dois milhões de hectares da floresta amazônica, em que vem investindo US$ 400 milhões desde 2010; “Mais Beleza, Menos Lixo” – campanha sustentável para gestão de resíduos; e “Cada Pessoa Importa” – promoção de diversidade e inclusão, bem como divulgação e prática de uma renda justa a todos os seus colaboradores.
O Grupo Gaia, conjunto de empresas que atuam no mercado financeiro e imobiliário, é um grande exemplo de empresa que focou em criação de produtos imobiliários e de seguros para agronegócio sustentável, além de emissão de títulos com compromisso ambiental e outras iniciativas. Em abril, a marca anunciou o Planeta Securitizadora, companhia que assumiu a atuação financeira do grupo. O grande objetivo foi replicar o compromisso ambiental para novos produtos, em especial os voltados para o crédito rural. Como securitizadora, a empresa assumiu o papel de converter dívidas de produtores, distribuidores de insumos e cooperativas em títulos comercializáveis no mercado de capitais.
Empresas que já nascem ESG
Dentro do universo ESG, há aquelas marcas que já nascem focadas em cumprir os parâmetros ESG, com um modelo de negócio totalmente voltado para o termo desde que iniciaram sua trajetória no mundo corporativo.
A startup de comida brasileira Fazenda do Futuro criou seu negócio voltado para um ESG completo, que abrange governança e sociedade, mas, principalmente, meio ambiente. Seu produto principal são as famosas carnes feitas em laboratório – proteínas que imitam o gosto das carnes animais usando apenas ingredientes vegetais. O objetivo principal foi um só: evitar um problema ambiental sério, causado pelo consumo de carne animal. Um negócio inteiro criado em cima de como colaborar de forma positiva e demonstrar que o ESG está na veia da empresa.
O compromisso ESG é uma realidade que as empresas precisam adotar
Acionistas, investidores e consumidores estão cada vez mais atentos para investir ou consumir em locais que adotem os critérios ESG e que promovam ações que causem impactos positivos no planeta.
Em uma nova etapa do capitalismo consciente, ser ESG é fazer o básico, mas, ao mesmo tempo, se diferenciar. Empresas que prestam atenção às questões ambientais, sociais e de governança não sofrem um obstáculo na criação de valor. Uma proposição ESG forte se correlaciona com retornos de ações mais elevados, tanto da perspectiva de inclinação quanto de momentum.
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2022 promete ser super tranquilo de entender. A gente só precisa saber se a inflação veio pra ficar. Se as pessoas sairão mais altruístas da pandemia. Se o TikTok continuará crescendo desse jeito. Se o tal metaverso vai dar as caras. Isso sem falar de streaming, trabalho híbrido e 5G. De eleição, Copa do Mundo e podcast. De comportamento, mídia e tecnologia. Do mundo e do Brasil.
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