Vivemos em um tempo de alta proliferação criativa. Não só estamos tentando ter ideias o tempo todo, como criamos métodos e hacks de como ter mais e melhores ideias. Estão aí as inúmeras metodologias de inovação e tantos estudos sobre o que faz as pessoas serem mais criativas. Nós mesmos vivemos postanto aqui tanto uns como outros.
Agora, uma discussão que talvez fique um pouco à margem é sobre QUAIS ideias escolher. Que tpo de critério é usado para dizer queuma ideia é boa e a outra não. O que uma ideia vale a pena ser implementada ou não.
Saiu na revista da Harvard Business review um artigo sobre essa questão, que resume um estudo científico conduzido na conceituada Erasmus, a escola de negócios da Universidade de Rotterdan.
A ideia foi tentar expandir o que normalmente se coloca na academia como bons critérios de avaliação de uma ideia, o clássico tripé originalidade-viabilidade-potencial. Até porque, normalmente ele é pensado na perspectiva de lucratividade que uma ideia pode trazer. Mas de fato uma ideia pode não necessariamente gerar lucratividade de forma mais direta e contribuir para questões intermediárias como satisfação do cliente, imagem da marca, lealdade etc.
Além disso, é preciso ter uma noção mais clara da quantidade de recursos necessários para a implementação de uma ideia. Afinal, talvez uma ideia menos brilhante e com menos impacto potencial, mas igualmente com menos barreiras de desenvolvimento, pode ser mais útil do que uma que seja genial e vai custar uma vida para ficar de pé. É a noção de eficiência: quão bem uma ideia converte os recursos necessários para a sua implementação em diferentes tipos de benefícios?
E é exatamente por isso que é necessário desenvolver critérios mais objetivos para avaliar por que sim e por que não uma ideia. E como um processo de avaliação mais rigoroso, que leva tudo isso em conta, pode ser também ele próprio muito custoso em termos de recursos, há que se buscar soluções mais amplas e automatizadas. E é nessa esteira que o estudo vai para campo.
O princípio foi usar uma base de dados públicas do Starbucks, chamada My Starbucks Idea, em que o gigante do café abre as portas para os seus clientes darem as ideias que quiserem, para que possam ou não ser implementadas pela empresa.
Os pesquisadores fizeram um dataset com todas as ideias de 2016, limparam a base para tirar reclamações ou sugestões que não eram ideias de fato. Chegando a um universo de 117 ideias, em que eles colheram metadados como o próprio ranking das avaliações feitas também de forma pública na plataforma.
Então, submeteram as ideias para avaliação de profissionais, a partir de 5 inputs [recursos necessários como tempo, dinheiro, treinamento, pesquisa etc] e 5 outputs [potenciais benefícios como lealdade, satisfação, imagem de marca etc]. Constrastando isso com a clássica análise de produtividade DEA, chegaram a um score que dizia se a ideia deveria ou não ir para frente.
Quando foram fazer o check com a realidade, ou seja, se o Starbucks realizou ou não determinada ideia, perceberam que muitas ideias que aparentemente eram muito boas de acordo com esses critérios, não foram implementadas. Uma, por exemplo, era a ideia de criar a possibilidade de enviar um “gift drink” para um amigo por sms. A ideia pontuou muito alto nos outputs, muito baixo nos inputs, uma boa avaliação no DEA. Mas o Starbucks não fez.
E, claro, há muitos fatores envolvidos na implementação ou não de uma ideia. Um dos que fazem mais sentido é que ela pode simplesmente não fazer parte da estratégia da empresa. Apesar de ser redondinha, não constrói a estrada que a empresa acredita que ela deve trilhar para vencer o jogo. E esse é um motivo mais do que justo para não dar vida a uma ideia.
Porém, há pelo menos duas vantagens enormes no modelo proposto nesse estudo:
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Saber o que NÃO fazer. Fazendo parte da estratégia ou não, uma ideia ruim é uma ideia ruim em qualquer circunstância. Se dentro do modelo ela cai como altamente custosa e com poucos benefícios percebidos, descarta-se sem muita cerimônia.
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Criar critérios claros para as pessoas entenderem o que a empresa considera uma boa ideia. É notório que a criatividade florece quando tem parâmetros bem estabelecidos. Além do que também é mais do que comprovado pela academia que feedbacks esclarecedores do porque da aceitação ou recusa de uma ideia fazem as pessoas se motivarem mais a ter novas ideias
No fim das contas, o modelo sendo perfeito ou não [e não é, longe disso], oferecer uma base criteriosa de avaliação de ideias e tornar isso algo público e usado na prática, pode fazer uma diferença enorme no que será implementado por uma empresa e na própria motivação dos colaboradores por trás delas. Se ajuda menos a acertar na mosca, ajuda muito a evitar um belo mico.