Quando o tédio encontra a criatividade

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Se tem uma palavra que parece não combinar com criatividade é “tédio”. Trabalhos maçantes, repetitivos, em um ritmo monótono. Tudo isso soa como o ambiente menos favorável possível à criatividade e inovação.

Mas uma pesquisa da Research School of Management da Australian National University questiona um pouco essa impressão, mostrando na prática como estar entediado não prejudica a criatividade. Pelo contrário, até ajuda.

O experimento começa com dois grupos. No primeiro, as pessoas são convidadas a separarem grãos vermelhos e verdes dentro de um bowl, durante 30 minutos. E o segundo grupo foi estimulado a criar obras de arte com papel, cola e grãos.

Na sequência dessas tarefas, as pessoas teriam que passar 5 minutos em uma atividade criativa, tentando criar motivos pelos quais uma pessoa chegou 2 horas atrasada em uma reunião. Os critérios para avaliar criatividade foram um balanço entre originalidade e “viabilidade” da situação.

E aconteceu que as pessoas oriundas do grupo da atividade tediosa de separar grãos conseguiram não só ter mais ideias como essas ideias foram mais criativas.

Nas palavras da líder do estudo Guihyun Park:

“As pessoas querem se livrar do estado de tédio, então elas se engajam em um tipo de pensamento que busca ser mais único e orientado para novidade, o que acaba os tornando mais criativos”

Claro que Park pondera que isso não funciona nem todo o tempo nem com todo tipo de gente, mas entende o papel que o tédio pode desempenhar no processo criativo. Já mencionamos aqui como o processo de James Webb Young destinava espaço para um momento específico de não fazer nada ou fazer algo completamente diferente, para que o cérebro ganhe espaço para fazer suas conexões.

Outro bom exemplo é a designer Paula Scher, que revelou em uma entrevista como as melhores ideias de design que ela já teve foram no banco de trás de um taxi, fazendo absolutamente nada, em um estágio puro de tédio.  Segundo ela:

“A ideia para mim é encontrar esses momentos de foco total, em que eu junto os fragmentos de coisas que eu tenho pensando em momentos de tédio ou de não fazer nada – e aí a coisa acontece.”

Moral da história? Abrace seus momentos de tédio, sem compromisso de fazer nada se distrair com nada, produzir nada. Você pode ter uma grata surpresa com o resultado disso. Sua criatividade agradece.