O MITO DO OPEN OFFICE E OS PERGIGOS DOS MODISMOS CORPORATIVOS

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Se tem uma coisa que o mundo corporativo faz bem é inventar moda. Vira e mexe temos alguma moda nova para acompanhar em termos de estrutura, estética, indumentária, vocabulário e assim vai longe.

E uma moda – que já nem é mais moda de tão antiga e usada – é o tal open office. A ideia de não ter salas, baias, cubículos, das paredes serem de vidro, das pessoas sentarem umas ao lado das outras, de – no limite – nem terem um lugar fixo para sentarem. São os escritórios “moderninhos”, que só se proliferam por aí. Um estudo de 2017 do International Facility Management Association mostra que 68% dos escritórios americanos tem pouca ou nenhuma barreira entre os funcionários.

A grande questão não é a moda em si. Tudo bem as coisas irem mais para um lado ou mais para o outro com as mudanças culturais, o zeitgeist e tudo mais. O duro é quando as justificativas racionais por trás dessas coisas são… bullshit!

Um paper publicado no meio de 2018 pelos cientistas Ethan Bernstein e Stephen Turban mostrou por meio de uma investigação empírica como os tais open office diminuem as interações face a face entre os colaboradores em praticamente 70%. Por outro lado, aumentam as interações eletrônicas, por email, chats, telefone etc.

A dupla explica que isso se deve não só a nossa necessidade por privacidade, mas também a nossa crença de que essa privacidade aumenta nossa produtividade no trabalho. Então, se de um lado os open offices empurram as pessoas para a interação forçada, elas encontram um jeito de se isolarem e se comunicarem de qualquer outro jeito que não seja presencial. Como disse Jeff Goldblum em Jurassic Park:

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Outra evidência é o crescente uso em escritórios de headphones sem fio – majoritariamente, os AirPods. Está se criando uma nova etiqueta corporativa orgânica nos EUA que diz que permite as pessoas andarem para lá e para cá com seus fones sinalizando que elas não querem ser perturbadas. Como elas podem estar ouvindo um audio no whatsapp ou fazendo um call – vai saber – virou o escudo perfeito anti interrupção.

A Atlantic fez uma matéria explorando o fenômeno e entrevistou algumas pessoas que dizem coisas como:

“We moved from offices to an open plan two years ago, and wireless headphones are why I haven’t quit”. One day I forgot them, and I got up and walked straight to the Apple store to buy a pair of AirPods.”

Pode parecer extremamente anti social, mas é um reflexo da defesa que as pessoas precisam criar para poderem ter de volta sua privacidade e sentirem-se mais produtivas.

E, no fim, esse é o problema e o perigo dos modismos. Na ânsia de fazer algo diferente e descolado, negligencia-se uma característica básica do ser humano e a emenda sai pior do que o soneto.