Um termo comum que usamos na Sandbox em cursos de storytelling é a tal “death by powerpoint”. É uma brincadeira dos especialistas para remeter àquelas apresentações maçantes, com longos e chatos slides que nos matam pouco a pouco de tédio. Só que como toda brincadeira, isso pode acabar ficando sério.
Em 2003, uma equipe de 7 astronautas foi enviada ao espaço na espaçonave Columbia para estudar os efeitos da microgravidade em humanos e animais como aranhas. Infelizmente, não conseguiu voltar, por falhas mecânicas na espaçonave, que se desintegrou na reentrada na Terra.
O problema já tinha sido detectado momentos após a decolagem. Porém, após estudos feitos pelas equipes de engenharia de NASA e Boeing, decidiu-se que as falhas não afetariam a reentrada. Depois da tragédia, um dos pontos da investigação foi feito pelo professor de Yale Edward Tufte, que analisou a estrutura e o conteúdos da comunicação feita pela equipe de engenharia, com foco especial nos slides usados para conduzir a reunião. E os aprendizados dessa análise são fascinantes.
Como a análise é bem detalhada, separamos 3 pontos que mais nos chamaram atenção na análise de James Thomas a partir do slide acima, trazendo alguns erros fatais [aqui, literalmente] que não podemos cometer nunca, em nenhum tipo de apresentação, sob pena de errar grosseiramente na tomada de decisão, como nesse caso da NASA.
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Falta de clareza: o título do slide usa termos vagos e não aponta de forma assertiva a recomendação. E esse é o lugar que todo mundo olha primeiro e que enviesa todo o resto que vem pela frente. Naquilo em que colocamos destaque, precisamos ser absolutamente claros em relação ao ponto que queremos fazer.
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Falta de hierarquia de informações: falando em destaque, outro ponto que falhou muito foi a maneira de hierarquizar as informações. Não fica claro no slide o que se refere ao que e informações muito importantes para a decisão ficaram jogadas no canto do slide. A mania de tentar colocar tudo em um slide gera a ilusão de síntese, mas na prática gera esse tipo de confusão.
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Falta de especificidade nas evidências: além de tudo, o slide traz termos super vagos como “significativo” ou “suficiente”, que ficam abertos à interpretação. Um slide [ou uma apresentação como um todo] trabalha a ideia de conteúdo e ilustração, fazendo um ponto, mas mostrando as evidências daquele ponto de maneira concreta e não subjetiva. Mata a cobra, mas mostra o pau também.
No fundo, slides não são questão de design e sim da potência de um estímulo visual que pode desorientar toda uma importante decisão.