Sim, suas más decisões mantém o seu emprego

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É um contrassenso, mas é verdade. Tomamos uma série de más decisões todos os dias. Mas talvez não seja um overstatement dizer que uma grande parte dessas decisões acabam mais mantendo do que tirando nossos empregos.

Quem suporta essa ideia é Frank Rotman, founding partner da QED Investors, uma Venture Capital especializada no mercado financeiro, que escreveu no seu blog sobre isso. Ele escreveu bem da perspectiva de investidores do mercado financeiro, é verdade. Mas nós por aqui conseguimos enxergar um paralelo total com muitas e muitas outras realidades do nosso dia a dia, que não envolvem colocar milhões de dólares em uma startup.

Ele começa com uma anedota sobre uma amiga investidora que chega para você com uma grande oportunidade, daquelas que passam na porta uma vez na vida. E a situação que compõe essa tomada de decisão tem algumas premissas:

  1. Sua amiga é uma investidora experiente e reconhecida no mercado pelo seu enorme histórico de acertos

  2. É um investimento arriscado e pode dar tudo errado. A chance disso acontecer é de 50%. Mas há 40% de chance do payback ser de 1 a 3x em 3 a 5 anos.; e 10% de chance desse payback ser de 25 a 50 vezes em 6 ou 8 anos.

  3. O investimento mínimo coloca seu patrimônio pessoal em risco

Nesse momento, você não pode pensar como um investidor pessoa física. No geral, nós brasileiros somos culturalmente avessos a risco e conservadores na forma de investir. Nós não vamos colocar nossas economias em risco em qualquer coisa com 50% de chance de dar errado, não precisa nem continuar argumentando.

Agora, pense por um instante com a cabeça de um investidor de VC. Os números são bem convidativos. Para melhorar, ele coloca um cenário em que o investimento mínimo seria 10% do seu patrimônio. Aí fica bem mais fácil de arriscar. E, ainda assim, muita gente nem consideraria. 10% de patrimônio com 50% de chance de dar errado é muito frio na barriga.

E, está aí, essas são exatamente as decisões que mantém nossos empregos. Quando escolhemos conscientemente não arriscar em nada. Qualquer coisa que tenha chance de dar muito errado já conta com a nossa imediata aversão e vamos dando um jeito de tirar todo risco da frente. Até que junto a gente tira toda possibilidade de dar muito certo também. E vamos tocando de lado, perseguindo incrementos marginais, mas faturando nossos bônus aqui e acolá.

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Essa realidade é a tônica de muitos mercados, da maioria provavelmente. O mundo corporativo não convida de maneira nenhuma ao erro. E nós somos, perdoem meu francês, bundões pra caramba também. É um ciclo vicioso de mediocridade que faz as coisas andarem tão devagar, as inovações serem tão xoxas.

Frank coloca isso em outras contas também, que nos parecem verdadeiras. Entre elas, a visão imediatista de resultados, premiando aqueles que conseguem ser eficientes em um 4 meses não em 4 anos. Ou o próprio turover, que faz as pessoas ficarem menos que isso nas empresas, não tendo porque se responsabilizarem por inovações que vão além do seu período de dois ou três anos no mesmo lugar. Fora a lentidão das empresas e a falta de autonomia que é dada aos funcionários para que realmente tenham liberdade de tomar decisões arriscadas e não verem sua estabilidade no emprego ruir pelas mãos.

Pode ser um exemplo batido, mas é impossível não mencionar Steve Jobs [RIP] aqui. Depois de sair da Apple no meio da década de 80, colocou todas as suas fichas na NeXT, computador voltado ao mercado de educação. O que aconteceu? Um belo de um flop. Uma década depois, retornando à Apple, repaginou os MACs, é verdade, mas também arriscou tudo novamente em duas coisas que a empresa não fazia, não tinha expertise e poderia ser um outros grandes flops. Só que foram o iPod e o iPhone, que mudaram para sempre a indústria da música e, especialmente, a da telefonia móvel.

O iPhone, em especial, contrariou absolutamente todos os paradigmas da indústria naquele momento, rompendo com as poderosas telecoms, mudando toda a interface de uso de um celular, abrindo o mercado de desenvolvimento de softwares dentro de sua plataforma. Coisas impensáveis até então. Arriscadíssimas, que poderiam dar errado demais.

Claro que ninguém é Steve Jobs – e nem é pra ser. E nem todo mundo trabalha investindo grana em startups tendo que decidir sobre a perda ou ganho de milhões. Mas há muitas e muitas decisões que nós tomamos no dia a dia das nossas empresas que não sem nem postas na conta de “decisões”, porque foram oportunidades que ficaram invisíveis ao nosso radar, de tanto medo que temos de inovar de forma arriscada.

E muitas delas são más decisões. Más decisões que silenciosamente podem levar a sua empresa a afundar lentamente, olhando pela janela e vendo empresas inovadoras surgindo e comendo seu mercado.

Sim, mas são exatamente essas [não] decisões mantém o seu emprego. Só tem que ver se está valendo a pena.