A tomada de decisão é uma habilidade essencial em nossas vidas. Desde escolhas simples do dia a dia até decisões complexas que afetam nosso futuro, estamos constantemente confrontados com a necessidade de fazer escolhas. No entanto, você já parou para refletir sobre qual é o seu estilo de tomada de decisão?

Neste artigo exploraremos os cinco estilos de tomada de decisão identificados no estudo de Scott, S. G., & Bruce, R. A. (1995): Racional, Intuitivo, Dependente, Evitativo e Espontâneo. Vamos mergulhar em cada estilo e ajudá-lo a entender melhor suas características e como eles podem influenciar suas decisões.

Contexto teórico

Em 1995, os pesquisadores Susanne Scott e Reginald Bruce publicaram o artigo Decision-Making Style: The Development and Assessment of a New Measure. O objetivo era aprofundar o conhecimento científico que vinha sendo criado desde os anos 70 sobre as diferentes formas como tomamos decisões.

Para eles, enquanto uma quantidade substancial de teorias e pesquisas empíricas estavam se concentrado nos aspectos da tarefa de decisão e da situação de decisão que influenciam os resultados das decisões, menos atenção empírica tem sido dedicada às características do tomador de decisão que podem influenciar os resultados das decisões.

Nesse sentido, o estudo proposto por Scott e Bruce tratava de uma característica que recebeu alguma atenção na literatura de desenvolvimento de carreira e comportamento vocacional, mas menos atenção na literatura de tomada de decisão: o estilo de tomada de decisão. O estilo de tomada de decisão tinha sido definido como “um padrão habitual que os indivíduos usam na tomada de decisões” (Driver, 1979) ou como a forma característica dos indivíduos de perceber e responder às tarefas de tomada de decisão (Harren, 1979). Este estudo foi realizado para desenvolver uma medida apropriada de estilo de tomada de decisão, uma vez que o progresso teórico é impossível sem medidas adequadas.

Foram desenvolvidas definições conceitualmente consistentes dos diferentes estilos de tomada de decisão, focando em comportamentos em vez de traços ou características. Essas definições teóricas foram necessárias para avaliar a validade de conteúdo da escala. Em seguida, foram desenvolvidos itens comportamentais para medir os estilos de tomada de decisão. Os itens foram modificados e reduzidos para uma versão final com 25 itens. Esses itens foram administrados em quatro amostras independentes para o desenvolvimento e validação da escala.

Os resultados das análises fatoriais indicaram a existência de cinco fatores distintos de estilo de tomada de decisão: racional, intuitivo, dependente, evitativo e espontâneo. As escalas desenvolvidas apresentaram consistência interna aceitável e estrutura de fatores estável. Testes de independência entre as escalas de estilo de tomada de decisão e análises de validade concorrente foram realizados, mostrando relações esperadas entre os estilos de tomada de decisão e outros construtos relacionados.

Os 5 estilos de tomada de decisão

Vamos agora explorar cada um dos estilos para entendermos exatamente do que se tratam. Cada um deles tem características distintas e reflete diferentes abordagens e processos de tomada de decisão. Mergulhando em cada estilo, vamos te ajudar a entender melhor suas características e como eles podem influenciar suas decisões.

1. O estilo Racional: Decisões baseadas em análise e lógica

O estilo racional de tomada de decisão é caracterizado por uma abordagem metódica e analítica. Pessoas com esse estilo buscam coletar dados, realizar análises, pesquisas e considerar cuidadosamente todas as opções antes de tomar uma decisão. Eles acreditam em tomar decisões fundamentadas em fatos, números e lógica. Para eles, cada decisão é uma oportunidade de usar sua capacidade analítica para encontrar a melhor solução possível.

Uma pessoa com estilo racional pode ser vista como uma “pensadora lógica”. Ela se concentra em fatos tangíveis, considera prós e contras de cada opção e procura maximizar os benefícios enquanto minimiza os riscos. Essas pessoas são conhecidas por sua objetividade e capacidade de manter a calma mesmo em situações desafiadoras. Para elas, a tomada de decisão é um processo cuidadoso e calculado.

Um exemplo prático de um estilo de tomada de decisão racional seria o seguinte: imagine que você está considerando mudar de emprego. Um indivíduo com estilo racional começaria pesquisando as opções disponíveis, coletando informações sobre as empresas, analisando os salários, benefícios, perspectivas de crescimento e cultura organizacional. Eles fariam uma lista dos prós e contras de cada oportunidade, considerando fatores como localização, ambiente de trabalho, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, etc. Depois de coletar todas as informações relevantes, eles fariam uma avaliação lógica e objetiva para tomar a melhor decisão possível.

2. O estilo Intuitivo: Decisões guiadas pelo instinto e experiência

O estilo intuitivo de tomada de decisão é caracterizado pela confiança nos sentimentos internos, intuição e experiências pessoais. As pessoas com esse estilo confiam em seu “sexto sentido” e em insights subconscientes para tomar decisões rápidas e aparentemente instintivas. Elas têm a capacidade de captar informações além do que é óbvio, confiando em seu conhecimento implícito e em suas percepções sensoriais.

Indivíduos com estilo intuitivo geralmente são rápidos em tomar decisões, confiando em sua intuição para guiar o caminho. Eles tendem a confiar em seu histórico de experiências e em seus conhecimentos acumulados para tomar decisões informadas. Essas pessoas são conhecidas por sua habilidade de ler sinais não verbais, captar nuances em situações complexas e tomar decisões com base em uma “sensação” geral.

Um exemplo prático de um estilo de tomada de decisão intuitivo seria o seguinte: imagine que você está prestes a fazer uma grande compra, como um carro. Uma pessoa com estilo intuitivo confiaria em sua intuição para fazer a escolha certa. Ela poderia visitar várias concessionárias, conversar com os vendedores, fazer test drives e, em seguida, deixar sua intuição guiá-la na escolha final. Ela levaria em consideração seus sentimentos, como se sentiu ao dirigir o carro, a confiança que teve no vendedor e outros fatores subjetivos que não podem ser facilmente quantificados.

Embora o estilo intuitivo possa parecer subjetivo em comparação ao estilo racional, ele pode fornecer insights valiosos e uma abordagem mais holística para a tomada de decisão. A intuição pode ser particularmente útil em situações complexas ou quando há uma quantidade avassaladora de informações disponíveis. No entanto, é importante equilibrar a intuição com fatos e análises objetivas, a fim de minimizar os riscos e assegurar que a decisão seja fundamentada.

3. O estilo Dependente: Decisões baseadas em orientação externa

O estilo dependente de tomada de decisão envolve buscar a orientação e conselhos de outras pessoas antes de tomar uma decisão. As pessoas com esse estilo tendem a confiar nas opiniões e conselhos de especialistas, colegas ou superiores hierárquicos para obter diferentes perspectivas e apoio antes de tomar uma decisão. Elas buscam a validação externa antes de se comprometerem com uma escolha.

Indivíduos com estilo dependente valorizam a diversidade de opiniões e acreditam que a colaboração e o compartilhamento de conhecimentos são essenciais para uma tomada de decisão informada. Eles procuram evitar tomar decisões unilaterais, buscando a participação de outras pessoas envolvidas no processo. Essas pessoas são conhecidas por sua capacidade de ouvir, considerar várias perspectivas e chegar a um consenso antes de tomar uma decisão final.

Um exemplo prático de um estilo de tomada de decisão dependente seria o seguinte: imagine que você está considerando iniciar um negócio próprio. Uma pessoa com estilo dependente buscaria a orientação de especialistas no setor, empreendedores experientes ou mentores que possam compartilhar seus conhecimentos e experiências. Ela estaria aberta a ouvir diferentes pontos de vista, aprender com os erros e sucessos dos outros e integrar essas informações em sua tomada de decisão. A opinião e a orientação de terceiros teriam um peso significativo em sua escolha final.

Embora o estilo dependente possa trazer benefícios, como a ampliação de perspectivas e a mitigação do risco de decisões unilaterais, também há desafios associados a ele. A dependência excessiva de opiniões externas pode levar à falta de confiança nas próprias habilidades de tomada de decisão e à diluição da responsabilidade pessoal. É importante encontrar um equilíbrio saudável entre buscar orientação e confiar em sua própria capacidade de tomar decisões informadas.

4. O estilo Evitativo: Adiando ou evitando a tomada de decisão

O estilo evitativo de tomada de decisão é caracterizado pela tendência de adiar ou evitar a tomada de decisão. As pessoas com esse estilo podem sentir-se sobrecarregadas pelo processo de escolha ou temer as possíveis consequências de uma decisão. Elas tendem a evitar lidar com a situação, buscando escapar da pressão ou do desconforto associados à tomada de decisões.

Indivíduos com estilo evitativo podem procrastinar, buscar distrações ou até mesmo transferir a responsabilidade de tomar decisões para outras pessoas. Eles podem ter medo de cometer erros ou de enfrentar consequências negativas, preferindo manter o status quo a arriscar-se a tomar uma decisão errada. Essas pessoas podem ter dificuldade em lidar com a incerteza e a ambiguidade, o que as leva a adiar a tomada de decisão.

Um exemplo prático de um estilo de tomada de decisão evitativo seria o seguinte: imagine que você está considerando mudar de carreira. Uma pessoa com estilo evitativo pode adiar constantemente a exploração de novas opções, alegando falta de tempo ou outras prioridades. Ela pode evitar pesquisar sobre diferentes carreiras, fazer contatos na área desejada ou tomar medidas concretas para fazer a transição. Essa pessoa pode se sentir paralisada pelo medo do desconhecido e preferir permanecer em uma situação conhecida, mesmo que insatisfatória.

Embora o estilo evitativo possa oferecer um alívio temporário do estresse associado à tomada de decisão, ele também pode levar a consequências negativas a longo prazo. Adiar decisões importantes pode limitar oportunidades de crescimento pessoal e profissional e levar a um sentimento de estagnação. É importante reconhecer e enfrentar os medos subjacentes e desenvolver estratégias para lidar com a incerteza e a ambiguidade.

5. O estilo Espontâneo: Decisões rápidas e impulsivas

O estilo espontâneo de tomada de decisão envolve decisões rápidas e impulsivas, muitas vezes baseadas em desejos imediatos, emoções ou a busca por evitar conflitos. As pessoas com esse estilo confiam em sua intuição e agem de forma rápida, sem uma análise detalhada das informações disponíveis. Elas tendem a confiar em seus instintos e seguem o fluxo do momento, buscando uma solução imediata.

Indivíduos com estilo espontâneo são conhecidos por sua capacidade de agir rapidamente em situações de emergência ou mudança repentina. Eles são adaptáveis e não têm medo de tomar riscos. Essas pessoas confiam em sua capacidade de tomar decisões no momento, muitas vezes aproveitando oportunidades sem hesitação.

Um exemplo prático de um estilo de tomada de decisão espontâneo seria o seguinte: imagine que você está planejando uma viagem com amigos. Uma pessoa com estilo espontâneo pode tomar a decisão de embarcar em uma aventura improvisada, sem um plano detalhado. Ela pode se sentir empolgada com a ideia de explorar um lugar desconhecido sem restrições ou itinerários fixos. Essa pessoa confiaria em seu instinto para tomar decisões durante a viagem, aproveitando as oportunidades que surgem e adaptando-se às circunstâncias.

Embora o estilo espontâneo possa trazer uma sensação de liberdade e diversão, é importante estar ciente dos desafios associados a ele. Decisões impulsivas podem levar a resultados indesejados, especialmente quando não há uma avaliação adequada das consequências a longo prazo. É essencial encontrar um equilíbrio entre agir de forma rápida e confiar em nossa intuição, enquanto consideramos cuidadosamente as implicações e possíveis resultados.

Uma situação, 5 abordagens

Vamos considerar uma situação de tomada de decisão em que uma empresa precisa decidir se deve lançar um novo produto no mercado. Vejamos como cada estilo de tomada de decisão abordaria essa situação:

Racional: Uma pessoa com estilo de tomada de decisão racional analisaria os dados de mercado, realizaria pesquisas de mercado, conduziria análises financeiras e examinaria as projeções de vendas para determinar a viabilidade do novo produto. Ela consideraria cuidadosamente os custos, os riscos envolvidos, as tendências do mercado e as expectativas dos clientes antes de tomar uma decisão. A pessoa racional também procuraria feedback de especialistas e colaboradores para garantir que todas as informações relevantes sejam consideradas antes de tomar a decisão final.

Intuitivo: Uma pessoa com estilo de tomada de decisão intuitivo confiaria em sua intuição e experiência passada para tomar uma decisão sobre o lançamento do novo produto. Ela pode ter um “sentimento” de que o mercado está pronto para esse tipo de produto com base em sua experiência anterior e em insights pessoais. Essa pessoa pode tomar uma decisão rápida, seguindo seu instinto e intuição sobre a oportunidade de mercado e a aceitação do produto pelos consumidores.

Dependente: Uma pessoa com estilo de tomada de decisão dependente buscaria a orientação e o conselho de outras pessoas antes de decidir lançar o novo produto. Ela consultaria especialistas da indústria, colegas, mentores ou superiores para obter diferentes perspectivas e opiniões. Essa pessoa provavelmente dependeria do feedback e do consenso de várias fontes antes de se sentir confiante o suficiente para tomar a decisão.

Evitativo: Uma pessoa com estilo de tomada de decisão evitativo pode adiar a decisão de lançar o novo produto. Ela pode se sentir sobrecarregada com a incerteza e os riscos associados à decisão, evitando enfrentar o problema. Como resultado, ela pode procrastinar e postergar a tomada de decisão até que seja absolutamente necessário, o que pode resultar em perda de oportunidades no mercado.

Espontâneo: Uma pessoa com estilo de tomada de decisão espontâneo pode tomar uma decisão rápida e impulsiva sobre o lançamento do novo produto, sem uma análise aprofundada das informações disponíveis. Ela pode ser influenciada por fatores emocionais ou pela pressão de agir rapidamente. Essa pessoa pode decidir lançar o produto com base em uma emoção positiva momentânea ou no desejo de evitar conflitos e incertezas prolongadas.

Desdobramentos e relações com saúde mental

No estudo “Decision-making styles and their associations with decision-making competencies and mental health” os pesquisadores Jozef Bavoľár e Oľga Orosová encontraram relações interessantes sobre os estilos de tomada de decisão e indicadores de saúde mental como bem-estar, estresse e depressão. Os resultados mostraram várias associações entre os estilos de tomada de decisão e esses indicadores.

Em relação ao bem-estar subjetivo, que se refere à satisfação geral com a vida e ao sentimento de felicidade, foi encontrada uma correlação positiva com o estilo de tomada de decisão denominado “vigilância”. Isso significa que as pessoas que adotam uma abordagem vigilante e cuidadosa ao tomar decisões tendem a ter um maior nível de bem-estar subjetivo. Por outro lado, foram encontradas correlações negativas entre o bem-estar subjetivo e os estilos de tomada de decisão conhecidos como “transferência de responsabilidade”, “procrastinação” e “hipervigilância”. Isso indica que as pessoas que têm uma tendência a transferir a responsabilidade, adiar a tomada de decisões ou se preocupar excessivamente têm maior probabilidade de apresentar níveis mais baixos de bem-estar subjetivo.

No que diz respeito à depressão, foi encontrada uma correlação positiva com o estilo de tomada de decisão evitativo. Isso significa que as pessoas que têm uma abordagem evitativa ao tomar decisões têm maior probabilidade de experimentar sintomas depressivos. Além disso, a ruminação (refletir repetidamente sobre pensamentos negativos) e o estilo ansioso de tomada de decisão também estavam positivamente correlacionados com a depressão. Por outro lado, os estilos de tomada de decisão vigilante e intuitivo estavam negativamente correlacionados com a depressão, o que sugere que as pessoas que têm uma abordagem vigilante e confiam em sua intuição ao tomar decisões têm menor probabilidade de apresentar sintomas depressivos.

Esses resultados sugerem que os estilos de tomada de decisão podem desempenhar um papel importante na saúde mental das pessoas. No entanto, é importante ressaltar que esse estudo se concentrou apenas na relação entre estilos de tomada de decisão e indicadores de saúde mental e não explorou amplamente a relação entre esses estilos e resultados da vida real ou sua capacidade de prever tais resultados.

Estilos são relativos, não absolutos

É importante notar que esses cinco estilos de tomada de decisão não são absolutos. Devemos ter a compreensão de que cada pessoa tem uma tendência natural ou preferência por um determinado estilo, mas também é capaz de se adaptar e utilizar diferentes estilos dependendo da situação.

Embora algumas pessoas possam apresentar características mais pronunciadas de um estilo específico, é importante reconhecer que a tomada de decisão é um processo complexo e multifacetado. Cada indivíduo tem uma combinação única de experiências, personalidade, conhecimentos e habilidades, que influenciam sua abordagem para tomar decisões.

Além disso, a natureza da decisão em si e o contexto em que ela ocorre também desempenham um papel importante na escolha do estilo de tomada de decisão. Decisões que envolvem riscos elevados ou que exigem análises detalhadas podem ser mais propensas a serem abordadas de maneira racional. Por outro lado, decisões rápidas ou aquelas que exigem respostas imediatas podem ser tomadas de forma mais intuitiva ou espontânea.

É importante lembrar que os estilos de tomada de decisão são flexíveis e podem ser desenvolvidos e aprimorados ao longo do tempo. As pessoas podem aprender a utilizar diferentes estilos de acordo com a situação, cultivando habilidades de análise crítica, intuição, busca de informações e confiança em suas próprias decisões.

Portanto, embora existam esses cinco estilos de tomada de decisão identificados, cada indivíduo é único e pode manifestar diferentes estilos em diferentes momentos. A compreensão desses estilos nos ajuda a reconhecer as diferentes abordagens para a tomada de decisão e nos permite ser mais conscientes e adaptáveis em nossos próprios processos de decisão.