Saber quanto vale uma empresa é uma pergunta essencial para seus líderes ao se portar diante do mercado. Conhecer um negócio e saber o quanto vale transmite importantes motivações relacionadas aos investimentos, que direcionam o planejamento de empreendimentos. Por isso, o valuation surge como uma ótima ferramenta para estimar o valor real de uma organização.
De maneira geral, o cálculo do valuation considera uma série de variáveis, que tornam palpáveis as estimativas. Existem diferentes maneiras de aplicação do valuation, que formulam diferentes perspectivas de avaliação e chegam a valores monetários distintos, sendo o Fluxo de Caixa Descontado (FDC) a mais conhecida.
Um dos motivos para fazer o valuation é entender esses aspectos que podem valorizar ou desvalorizar a empresa no mercado, tomando decisões e traçando estratégias para maximizar essa valorização.
Todos esses pontos, de certa forma, convergem para uma questão muito relevante na avaliação das empresas: o potencial de crescimento, na medida em que o seu valor é uma função da expectativa de geração de caixa no futuro. Em outras palavras, é o valor atual da empresa, descontado a uma taxa que reflita seu risco (WACC) em um potencial investimento, ajustada ao seu crescimento (g):
Para não ficarmos num papo financeiro demais, temos claro que a taxa de crescimento da empresa é uma parte fundamental da equação que aumenta o seu valor de mercado. Então, como atuar de forma gerencial para fazer essa taxa de crescimento subir?
O exemplo do GMV
Como exemplo, vamos tomar o caminho de desdobrar um dos principais indicadores que podem ajudar uma empresa a crescer seu valor de mercado: o GMV. Significa Gross Merchandise Volume – Volume Bruto de Mercadorias.
O GMV é, basicamente, a medida do valor total das vendas da empresa dentro de um período de tempo. Sendo bem direto: é como a empresa faz dinheiro. Dessa forma, é um indicador usado para calcular o volume bruto das mercadorias de uma loja virtual, inseridas no segmento e-commerce, por exemplo.
Você pode achar um pouco estranho falar de GMV em serviços e produtos digitais, já que esse indicador é bastante usado em negócios que vendem produtos físicos. Porém esse conceito pode ser usado em empresas comuns, sobretudo aquelas que têm seus modelos de negócio baseados em marketplace, onde existem dois lados: oferta e demanda.
A fórmula do GMV é: GMV = Preço de venda x Unidades Vendidas
Imagine que você tenha uma loja virtual que vende artigos esportivos. Sua sessão de garrafas de água para treino é a mais popular, e você vende todas a R$ 50, e tem 300 garrafas em estoque. Considerando que o GMV é o preço da venda multiplicado pelo número de produtos, temos o seguinte resultado:
GMV = 50 x 300 = R$ 15.000
Dessa forma, o GMV pode ser calculado em vários períodos de tempo, mensalmente, trimestralmente e anualmente, por exemplo. Com o acompanhamento deste indicador de valuation, é possível ter muito mais visibilidade nas suas transações ao longo do ano.
Sempre importante citar que ainda é preciso incluir nos cálculos, para ser mais fidedigno, coisas como descontos de produtos, custos de devoluções e outros que possam estar envolvidos, como os impostos. O panorama fica ainda mais completo se atrelarmos outras métricas ao GMV, como o Custo de Aquisição de Cliente (CAC), Life Time Value (LTV) e o churn.
Isso tudo pode virar KPIs a serem mensurados e melhorados.
AS 6 ALAVANCAS DE CRESCIMENTO
Uma análise da gigante EY-Parthenon, repercutida pela Harvard Business Review, levou em consideração dados trimestrais de milhares de empresas em centenas de indústrias durante um período de 20 anos, identificando 6 fatores críticos que respondem pela maior parte da variabilidade nas avaliações de mercado. O modelo também pode ajudar os líderes a entender mudanças na forma como o mercado valoriza qualquer uma dessas empresas ao longo do tempo.
Os 6 fatores são:
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Previsões de crescimento da receita da empresa;
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Previsões de crescimento na margem de lucro empresa;
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Padrões de caixa devolvido aos acionistas;
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Mudanças no índice de endividamento da empresa;
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As condições econômicas no setor da empresa;
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Volatilidade do mercado nas áreas geográficas em que as principais empresas do setor competem.
Vamos ver um exemplo, abordado pela HBR, comparando 6 indústrias diferentes. Mostramos a contribuição de cada fator para a mudança de avaliação:
A análise destaca que receita e margem de lucro são geralmente as duas variáveis mais importantes das quatro que as empresas podem controlar, embora não de maneira uniforme e equilibrada. Como mostra o gráfico acima, o valor das empresas de mídia interativa e serviços é impulsionado principalmente pela receita, enquanto o das empresas de semicondutores é impulsionado principalmente pela margem. O negócio hoteleiro depende muito da margem e do caixa devolvido aos acionistas.
Embora a importância relativa do crescimento da receita para as gigantes da tecnologia seja bem compreendida, o conhecimento de que a indústria de elevadores é igualmente impulsionada pelo crescimento é muito menos conhecido. Entre os pesquisados, há empresas no ramo de elevadores que não sabiam que seu foco nas margens de curto prazo estava prejudicando tanto a avaliação da empresa quanto sua capacidade de gerar retornos de longo prazo.
As indústrias de semicondutores e de pneus são semelhantes: a margem é extremamente importante para as empresas de ambas as indústrias, mas a percepção é que não é bem assim que muitos CEOs de empresas de pneus geralmente pensam. E embora seja amplamente entendido que a margem e o dinheiro devolvidos aos acionistas importam muito no setor hoteleiro, pode ser menos óbvio ver o retorno aos acionistas ser responsável por grande parte da avaliação das empresas de carnes embaladas.
A questão sensível que a pesquisa traz à tona é: em pelo menos metade desses casos, os principais fatores de avaliação não são óbvios. A percepção geral e feeling dos líderes das empresas desses segmentos nem sempre correspondem com a realidade apontada pelos dados coletados de forma mais ampla e que ilustram um cenário com mais critérios. Ter boas análises disponíveis e saber o que realmente impulsiona a avaliação de uma empresa, dá poder aos gerentes para saberem no que focar para entregar os resultados que mais importam no fim das contas.
Imagine que você seja um novo CEO de uma empresa de carnes embaladas no início de 2013, sem uma análise desse tipo. Você descobre que o mercado está recompensando você pelo forte crescimento da margem de lucro, então é aí que você se concentra. À medida que a importância do crescimento da margem diminui e a do crescimento da receita aumenta, os retornos sofrem. Você ouve com atenção os analistas e jornalistas financeiros; você examina as previsões econômicas. No final de 2017, você se concentra na receita. Depois de alguns trimestres, as coisas começam a melhorar. Mas então a importância da receita diminui à medida que o dinheiro devolvido aos acionistas começa a dominar, e os retornos totais sofrem mais uma vez.
Vemos, repetidas vezes, a administração operando com base no que estava impulsionando sua avaliação dois ou três anos antes, ou em alguns casos muito mais tempo. É a estratégia de negócios equivalente a um time esportivo tentando ganhar um campeonato com a cartilha do ano passado – e pior, uma cartilha projetada para a equipe do ano passado. É impossível ser ágil e assertivo sem uma boa análise do que está emperrando ou acelerando as alavancas de crescimento da empresa diante do mercado.
UM FRAMEWORK ÚTIL
Não é todo dia que os negócios em geral poderão contar com as análises de empresas com a calibre da EY. Porém, há um jeito mais fácil de olhar para a empresa e ver as áreas fundamentais, a fim de ter uma atuação gerencial para que essas alavancas de crescimento possam ser mexidas. É a Roda de Crescimento Patrimonial, um framework útil para a situação:
Vamos olhar mais de perto cada sessão da Equity Growth Wheel:
Estratégia de Crescimento
Um comprador vai querer ver a estratégia da empresa e apoiar o plano de negócios, pois estes itens são o que impulsionam o desempenho futuro e devem inspirar confiança em seu caso de investimento. Eles vão querer saber que a participação patrimonial apoiará a transação e os laços em pessoas-chave para o futuro.
Proposta de Mercado & Propriedade Intelectual
Os compradores estarão profundamente interessados na proposta de mercado da companhia, especialmente seu valor para os clientes e quão diferenciado ele é. Eles vão querer que ele seja apoiado por uma propriedade inteletctual forte que pode ser alavancado para aumentar as margens e fornecer a base para escalar o negócio de forma eficaz, continuando a fornecer serviços de alta qualidade.
Vendas & Marketing
Se você tem uma proposta forte e valiosa, operando em um mercado em crescimento, então processos eficazes de vendas e marketing impulsionarão o crescimento. Demonstrar isso será importante para os compradores e sustentará sua confiança em sua trajetória de crescimento ascendente.
Relacionamento com clientes
Os compradores adoram clientes blue chip onde você tem relacionamentos de nível sênior e com quem você trabalha por um longo tempo, idealmente com receita recorrente. Isso representa estabilidade e reduz riscos no futuro, especialmente se a receita estiver bem espalhada por muitos clientes sem alta concentração em poucos players.
Entrega & Tecnologia
Quanto melhor a prestação de serviços for gerenciada, com garantia de qualidade efetiva, aproveitando o conhecimento interno, devidamente apoiado pela tecnologia, mais confiança os compradores terão na plataforma.
Operações
Os investidores prestarão muita atenção à rentabilidade do projeto e à confiabilidade da sua previsão, então você precisa ter certeza de que tem um controle realmente firme sobre os números, com relatórios de gestão claros e ações corretivas quando necessário. Demonstrar que você está no controle do negócio manterá a confiança durante todo o processo de transação.
Liderança
A qualidade, capacidade, profundidade e amplitude da equipe de gestão são fundamentais para a construção da confiança para investir. Não há área mais crítica para a confiança dos compradores do que a liderança.
Desenvolvimento de Talentos
Você é um negócio onde os ativos críticos são pessoas, então você precisa demonstrar ao seu comprador que seus processos de pessoas são eficazes e que você é capaz de recrutar, reter e desenvolver o talento necessário para proporcionar crescimento futuro.
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