Desde que o mundo é mundo, a experimentação serve como ferramenta para impulsionar grandes mudanças. Das coisas mais simples até as mais complexas, da vida pessoal a profissional, ela está lá. Já pensou que aqueles momentos em que você se arrisca a fazer uma receita nova na cozinha e um novo passo de dança na aula, escolher um material diferente para construir uma casa, comprar o lenço amarelo e não o vermelho para compor o seu look faz parte da experimentação? É isso que serve para mudar e nortear a sua vida para algum sentido e levá-lo a algum lugar.
É claro que todas essas escolhas têm chance de não dar certo, mas também ajudam você a reinventar aquela atividade, inovar, seguir outro caminho, tentar apostar na segunda opção. No mundo dos negócios, isso também se aplica. Todos os dias, a experimentação fornece oportunidades infinitas de aprender mais. O problema é que nas empresas, tudo “precisa dar certo” e o estímulo ao novo, ao experiencial, fica mais pequeno. Isso quando não há punição por não dar certo. Por isso o uso de testes, analisando resultados e implementando aprendizados é tão importante.
CASE DE SUCESSO: OS TESTES DE CULTURA DA EXPERIMENTAÇÃO DA BOOKING
A inovação do Booking ao mudar seu site e como o ambiente da empresa favorece a inovação, chegando a fazer mais de 25.000 testes por ano, é um exemplo ótimo de cultura de experimentação que deu mais do que certo.
Vamos aos fatos apontados na Harvard Business Review: no final de 2012, o diretor de design da Booking.com propôs testar um novo layout para a página da marca, que apenas apresentaria uma pequena janela perguntando para onde o cliente estava indo, as datas, o número de pessoas e, logo após, apresentação das opções “acomodações”, “voos” e “aluguel de carros”. Todo o restante do conteúdo seria eliminado.
À época, Gillian Tans, CEO da Booking.com no período, temia que essa mudança pudesse causar confusão aos seus clientes fiéis. Lukas Vermeer, chefe da equipe central de experimentação da empresa, apostou que esse teste derrubaria a métrica de desempenho crítica da empresa: conversão do cliente ou visitantes do site que fizeram reserva. Agora, você pode estar se perguntando por que Gillian não vetou a ideia. Bom, isso violaria um dos princípios básicos do Booking.com, onde qualquer pessoa da empresa pode testar qualquer coisa – sem a permissão da gerência. E, no fim, deu certo. Hoje, estima-se que a Booking.com executa mais de 1.000 testes rigorosos simultaneamente e mais de 25.000 testes por ano. Toda essa experimentação ajudou a transformar a empresa de uma pequena start-up na maior plataforma de hospedagem online do mundo em menos de duas décadas.
Mas, a Booking.com não é a única. Gigantes como Amazon, Facebook, Google e Microsoft, por exemplo, ajudaram a unidade Bing da Microsoft a fazer dezenas de melhorias mensais, aumentando a receita por pesquisa em 10% a 25% ao ano.
Todavia, ao contrário da Booking, em vez de executar centenas ou milhares de testes online por ano, muitas empresas executam no máximo algumas dezenas, sem impacto. Ou nem os faz. A razão dessa “negação” é a cultura. À medida que as empresas tentam aumentar sua capacidade de experimentação online, descobrem que os obstáculos principais são comportamentos, crenças e valores. Para inovar com sucesso, as marcas devem fazer da experimentação uma parte integrante da vida cotidiana – criar um ambiente onde a curiosidade dos funcionários seja nutrida, os dados superem a opinião, qualquer pessoa possa conduzir um teste, todos os experimentos são éticos e os líderes adotam um novo modelo de liderança.
COMO INSPIRAR UMA CULTURA DE EXPERIMENTAÇÃO
Quer saber se é possível inspirar a cultura da experimentação dentro da sua empresa? Veja seis etapas desse processo. Ao implementá-las, é possível criar um ambiente onde testes, ajustes, otimização e falhas são parte integrante do DNA da marca.
1 – Conforto nas falhas
Quando uma equipe e um líder não se sentem confortáveis ao fracasso, jamais serão capazes de conseguir criar uma cultura de experimentação. Afinal, ela inevitavelmente leva a muitas falhas.
Neste sentido, é importante entender que, em algum momento, seja possível lançar produtos e serviços que não funcionam. E tá tudo bem. A experimentação é isso e essas coisas podem ser consertadas. Se é desejo que os colaboradores se sintam à vontade com esse processo, eles também precisam se sentir à vontade com o fracasso.
2 – Pequenas apostas
Um único experimento jamais vai ditar se a empresa está fadada ao fracasso ou ao sucesso. Por isso, a dica é fazer smpre pequenas apostas que permitirão que você tenha uma ideia do que funciona ou não.
Essa metodologia ajudou a Amazon, por exemplo, que, ao longo dos anos, testou diversos produtos e métodos para ver o que repercutia nos clientes e vendedores. Ao implementar essas ações, sua empresa descobrirá o que funciona e poderá dobrar os resultados positivos.
3 – Teste A/B de tudo
Uma das maneiras mais fáceis de começar a fazer pequenas apostas é fazer um teste A/B de tudo. Essa ação oferece um grande benefício, pois você pode medir tudo, vendo o que dá mais certo e implementando o que cria os maiores resultados. Uma coisa é ter um pressentimento de que algo vai funcionar – outra coisa é ter os dados. Faça pequenas apostas com A/B em e deixe os dados guiarem suas decisões.
4 – Hipótese
Uma ótima forma de gerar boas ideias é criar hipóteses, algo intimamente ligado a fazer pequenas apostas e, em seguida, fazer testes A/ B.
Para encontrar boas ideias, você precisa gerar um grande volume das mesmas. Não é possível fazer pequenas apostas e testes A/B com eficácia, a menos que você tenha disponível um conjunto de ideias para escolher. Algumas dessas ideias podem ser ruins, outras não. Esse é o ponto. Se sua hipótese for verdadeira, você encontrou pelo menos parte da resposta. Se for falsa, crie uma nova e faça o mesmo processo de teste.
5 – Esforço
As primeiras falhas de testes podem ser difíceis, e os colaboradores ficarão tentados a jogar a toalha. Para combater esse instinto, é essencial apreciar publicamente todos os esforços, mesmo que resultem em fracasso.
Elogiar experi mentos, encorajar a fazer pequenas apostas e se arriscar ao fracasso, gamificar o processo com recompensa, aplaudir a coragem, mesmo que os testes deem errado, é uma forma de garantir que, posteriormente, o sucesso chegue. Se a equipe perceber as lideranças incentivando e celebrando o esforço, é mais provável que mergulhem de cabeça no projeto.
6 – Mentalidade de inovação
Quer criar uma cultura de experimentação em sua empresa? Então mantenha a mentalidade de inovação. Esteja disposto a considerar ideias diferentes, que não se alinham com os procedimentos padrão. Você não pode ignorar algo simplesmente porque nunca o fez.
Abra espaço para ideias novas e radicais. Esses são os tipos que costumam levar a grandes sucessos. Além disso, mantenha a mentalidade de teste constante. Teste coisas novas, afinal, você nunca sabe quando vai encontrar uma mina de ouro.
LIÇÕES SOBRE CULTURA DA EXPERIMENTAÇÃO
Todos aqueles que fazem parte da empresa devem valorizar as surpresas. Mesmo com os desafios diários de uma surpresa e a impossibilidade de prever quando e com que frequência ela pode acontecer, quando as empresas adotam essa mentalidade, a curiosidade prevalece e as pessoas verão as falhas como oportunidades.
Um exemplo de Stefan Thomke para Harvard Business Review: o incidente na Amazon envolvendo uma revisão do Air Patriots, jogo para dispositivos móveis. Quando a Amazon lançou uma nova versão, a equipe de desenvolvimento ficou surpresa: a taxa de retenção de usuário caiu 70% e a receita 30%. A equipe descobriu que havia sido aumentada a dificuldade do jogo em 10%.
A Amazon lançou uma solução, mas os desenvolvedores se perguntaram se tornar o jogo mais fácil poderia produzir grandes ganhos. Para descobrir, eles fizeram um teste com quatro novos níveis de dificuldade. Depois de alguns refinamentos, a Amazon lançou uma nova versão – desta vez, os usuários jogaram 20% mais e a receita aumentou 20%. Um acidente levou a um insight, que se tornou fundamental para iniciar novos experimentos.
É uma pena que esse tipo de reação seja difícil de acontecer. Na maioria das organizações, o risco associado aos experimentos torna os gerentes relutantes a investir nisso. Além disso, muitas organizações são conservadoras quanto à natureza e quantidade de experimentação. No entanto, enfatizar a importância de experimentos bem-sucedidos pode encorajar funcionários a testar diversas vezes, sem temer falhas ou sem se intimidar pelo fracasso. Afinal, é menos arriscado realizar um grande número de experimentos do que um pequeno. Fazer com que os executivos sigam essa regra não é fácil. Mas, é vital que eles entendam: se tudo o que pode ser testado online for testado, os experimentos podem se tornar instrumentos para as decisões de gerenciamento e alimentar debates saudáveis.
Conceitos como colaboração, experimentação, tolerância a falhas, hierarquia plana e liberdade de fala são figurinhas carimbadas em qualquer papo sobre inovação. E não à toa, são realmente coisas que fazem toda a diferença. Por isso, também é importante estar atento ao outro lado da moeda da cultura de inovação.
Conclusão
A experimentação tem um poder transformador. Os experimentos podem resultar em milhares de mudanças pequenas e radicais, gerando grandes benefícios a empresas e pessoas. Já dizia Vismans sobre esse processo: “Se eu tenho algum conselho para os CEOs, é este: testes em grande escala não são uma coisa técnica; é uma coisa cultural que você precisa abraçar totalmente.”
Isso nos faz lembrar que não é tão importante se o experimento em questão teve sucesso ou fracassou. O que interessa é como as decisões são julgadas sob incerteza corporativa. Isso deve ser baseado na fé ou na opinião pessoal. Ao serem colocados em prova, a empresa vai saber.