Mas, afinal, brainstorm funciona?

 
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Essa semana a excelente newsletter Quartz Obsessions dedicou uma de suas edições para um tema pra lá de conhecido por todos nós: o brainstorming. A discussão ali é sobre se a técnica funciona ou não. E isso nos levou imediatamente a uma matéria da revista New Yorker, assinada lá em 2012 por Jonah Lehrer, autor e estudioso de neurociência pela Universidade de Columbia.

“Typically, participants leave a brainstorming session proud of their contribution. The whiteboard has been filled with free associations. Brainstorming seems like an ideal technique, a feel-good way to boost productivity. But there is a problem with brainstorming. It doesn’t work.”

Esse trecho dá um bom tom do que é a matéria, que questiona frontalmente a técnica, por uma série de motivos. Ele debate os mecanismos pelos quais grupos produzem melhores ideias. E simplesmente chega à conclusão de o brainstorming assume premissas que podem não ser verdadeiras.

O argumento se apoia basicamente em desacreditar a ideia de “não julgamento”, que é a provavelmente a regra de ouro do método. Até porque, é essa regra que permite a outra ser possível: a busca de quantidade sobre qualidade, entendendo que no meio de um monte de coisas, há de sair uma ideia genial. Não dá para ter um monte de ideias se as pessoas ficarem debatendo umas com as outras sobre cada uma delas, certo?

O argumento de Lehrer é sustentado especialmente por um estudo conduzido na Universidade de Berkley em 2003, pela pesquisadora Charlan Nemeth. A ideia do experimento foi dar um problema para dois grupos e dar a eles regras diferentes para a sua resolução. O primeiro grupo recebeu as regras clássicas do brainstorm: não julgamento e priorização de quantidade sobre qualidade. O segundo era exposto ao que eles chamaram de “condição de debate” e recebia a seguinte instrução inicial:

“Dizem que o melhor jeito de solucionar problemas é criar muitas ideias. Fique à vontade para dizer tudo o que vier à cabeça. Mas considere também que é importante debater e criticar as ideias em um grupo.”

No final das contas, os grupos da condição de debate tiveram não só mais boas ideias, como, individualmente após a sessão, conseguiram trazer mais novas ideias, em follow up feito no dia seguinte ao estudo.

A tese da professora Nemeth é que a “fricção” faz bem ao processo criativo.  Até porque, a função primordial e maior vantagem de um trabalho criativo em grupo é exatamente o quanto um é estimulado pelo outro a pensar ainda melhor. Se uma ideia vai para a mesa, ninguém pode falar nada sobre ela e já se segue a próxima, a única vantagem é o estímulo que uma ideia pode causar para gerar outra, mas não a evolução das ideias em si, que acabam ficando pobres, mal compreendidas e morrem antes de poder ganhar vida dentro de um grupo.

De qualquer forma, a turma do Quartz trouxe dois pontos de vista interessantes, para relativizarmos um pouco essa ideia de que o brainstorm está condenado à inutilidade.

O primeiro deles é que ele pode não ser o centro do processo criativo, mas ser um pedaço com uma função específica. Eles abordam a necessidade de um bom equilíbrio entre os pensamentos divergentes e convergentes, ou seja, os pensamentos que buscam associações mais livres e soltas em relação a determinado problema [divergentes] e o método que parte de um ponto específico, buscando uma solução só, que seja o mais coerente possível [convergente]. A ideia é entender que esses dois jeitos de pensar precisam estar presentes no processo criativo.

Beth Miller, diretora executiva da Creative Education Foundation, usa uma metáfora interessante para explicar isso, dizendo que é como se esses dois pensamentos representassem o acelerador e o freio de um carro. Não dá nem só para acelerar, nem só para frear. Nem para fazer os dois ao mesmo tempo. Os dois são necessários, em momentos distintos.

Nesse sentido, o brainstorm pode ser um ótimo acelerador, representante do momento de pensamento divergente do processo criativo.

O segundo ponto é como o brainstorm pode funcionar melhor preservando suas bases, mas ganhando alguns layers de estrutura e organização. Hoje existem uma série de dinâmicas que foram sendo criadas para melhorar a qualidade dos brainstorms: quantidade de participantes, tempo, momentos individuais antes dos coletivos, estímulos visuais etc. São todas maneiras de tornar o braisntorm menos “aleatório”, buscando só um monte de ideias soltas. E essas estruturas realmente ajudam, desde que preservem o que o brainstorm tem de melhor [pensamento divergente] e mtigue o que ele tem de pior: falta de senso crítico e de evolução das ideias.

Sendo assim, respondendo a pergunta do título: brainstorm funciona? Bom, sim e não.

Não: do jeito que é feito normalmente, seguindo apenas as duas regras de ouro. Sim: entendendo-se com um momento de pensamento divergente e ganhando novos contornos de dinâmicas e estruturas que combatam a falta de debate e evolução das ideias.

Vida longa e próspera a um brainstorm que saiba entender o seu valor e se reinventar.

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