O QUE GAME OF THRONES TEM A ENSINAR SOBRE ESTRATÉGIA

 
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[Esse texto contém spoilers. Leia por conta e risco]

Game of Thrones é um prato cheio para quem gosta de estratégia. Seja ela política ou militar, é possível fazer análise de uma série enorme de eventos que são excelentes exemplos de boas estratégias.

E as batalhas são especialmente legais para isso, porque são eventos com começo, meio e fim muito rápidos, em que é possível olhar para o todo de maneira mais simples [sem tantas tramas políticas que demandam muito contexto].

Talvez a maior batalha de todas é a de Winterfell, em que os vivos lutam pela sua sobrevivência contra os mortos. É uma batalha épica, cheia de reviravoltas e uma verdadeira aula de estratégia. Especialmente sobre o que não fazer.

O Washington Post conversou com Jesse Tumblin – do Departamento de História da Universidade de Boston e especialista em história militar – sobre a Batalha de Winterfell e sua análise do que foi pensado e executado pelo exército dos vivos.

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E as críticas não foram poucas, com especial destaque para o desperdício de um valioso asset como a horda dos Dothraki logo nos primeiros momentos, com uma ideia destrambelhada de ataque inicial. Ou o posicionamento despropositado das tropas ATRÁS das trincheiras de fogo, o que realmente parece incompreensível até para leigos em estratégia militar.

Outra dura crítica é do canal Invicta, especializado em fazer mini docs sobre História. Além de fazer eco às críticas de Jesse Tumblin, eles vão mais longe e se perguntam porque os vivos deixaram o problema chegar tão perto dos seus portões.

Desde o primeiro episódio da série há evidências de que a “Longa Note” poderia estar se aproximando. E com o passar das temporadas isso vira um fato mais do que concreto. Em vez de serem propositivos em um ataque, preferiram esperar os mortos chegarem nas barbas da fortaleza de Winterfell, tendo que se defender da maneira como puderam.

Na análise, eles propõe ideias interessantes como a “Estratégia Fabiana”, cunhada pelo general Fabius Maximus de Roma, no seu lendário confronto com Aníbal, evitando ao máximo um confronto direto contra um exército maior, criando pequenos ataques, fazendo recuos e ganhando tempo para um ataque definitivo. Nós falamos mais disso no nosso curso online.

Mas fora os evidentes erros do comandante Snow, tem uma coisa interessante em tudo isso que é perceber a diferença entre estratégia e planejamento. Aqui na escola fazemos uma separação bem clara desses conceitos. Estratégia como o a escolha central sobre como vencer um determinado jogo. E o plano como as ações coordenadas de todos os recursos para colocar em prática essa escolha.

As críticas de Jesse Tumblin são da ordem do planejamento. Ele mostra como uma série de ações do exército dos vivos é equivocada e não funciona de forma efetiva para conter os mortos. Como o uso dos Dothraki ou as trincheiras. São elementos de ação coordenada, são parte de um plano. Já o Invicta questiona antes de tudo a estratégia macro, de ser reativo em vez de pro ativo. Essa escolha é da ordem da estratégia, da maneira como eles pensaram em vencer a batalha.

Agora, dentro a batalha em si, o que vemos é uma estratégia que funciona APESAR dos grandes erros de planejamento. Porque a escolha de atrair o Rei da Noite para o Corvo de Três Olhos e derrotá-lo numa batalha um a um se mostrou vencedora. Porém, isso só funcionou na base do puro improviso, porque as ações para que isso acontecesse de forma coordenada foram um desastre. A própria defesa do Corvo contava com muitos poucos homens.

Uma decisão estratégica pressupõe a concentração de recursos nela, o que não foi o caso nem de longe. No fim, foi eficaz, mas não foi eficiente. Isso costuma ser mais um indício de sorte do que boa estratégia.

GoT à parte, há importantes lições aqui sobre a diferença entre panejamento e estratégia, eficiência e eficácia. Muitas vezes, vale a pena sair dos grandes livros e cases clássicos de negócios para aprender estratégia de um jeito diferente.

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