Privacidade de dados: na prática a teoria é outra

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Privacidade de dados. Está aí uma pauta que raramente fica muito tempo fora da grande mídia. Tem sempre algum Facebook/Google/Microsoft/etc da vida deixando alguma brecha de segurança, permitindo que os dados das pessoas sejam vazados ou no mínimo usados de maneira errada.

Preocupados com a escalada da invasão da privacidade dos dados de seus cidadãos, governos correm para criar suas regulamentações, fechando cada vez mais o cerco para o uso desenfreado dos dados de todo mundo para todo tipo de coisa. Vide o já popular GDPR [General Data Protection Regulation] europeu que fez com que uma série de empresas precisassem se adequar, criar novos opt-ins etc.

As próprias gigantes do Vale do Silício já começam a usar o discurso de proteção de dados como um claim de comunicação, um valor para suas marcas. Como é o caso da Apple, que comunica explicitamente que é muito mais uma empresa de hardware, não está metida nessa coisa de redes sociais ou busca movida por publicidade e por isso é uma das empresas mais seguras para a privacidade dos seus usuários.

Muito bem. Mas o que as pessoas acham de tudo isso?

Bom, de acordo com uma pesquisa recente da IBM, elas estão muito preocupadas. Para ser mais preciso, 81% das pessoas entrevistadas. Mais ainda: 87% acham que empresas que lidam com dados das pessoas deveriam ser mais reguladas pelo governo e 89% dizem que empresas de tecnologia deveriam ser mais transparentes sobre seus produtos.

Quem olha pensa que a casa realmente está caindo para a turma do Vale. Mas parece ser só impressão mesmo.

A mesma pesquisa mostra que 45% das pessoas entre 18 e 24 anos aceita condições de uso sem ler sequer uma palavra dos termos. Acima de 65 anos, o número gira em torno de 15%. As pessoas não parecem estar na prática lá tão preocupadas quanto demonstram na teoria.

Até porque Amazon, Microsoft e Google estão entre as empresas mais confiáveis dos EUA.

O autor Nicholas Carr oferece uma leitura interessante disso tudo:

Many people, it seems clear, experience surveillance capitalism less as a prison, where their agency is restricted in a noxious way, than as an all-inclusive resort, where their agency is restricted in a pleasing way.

Realmente, apesar da preocupação declarada – que é até um pouco óbvia – as pessoas na prática não parecem estar muito dispostas a prescindir dos serviços das gigantes da tecnologia por conta dos dados. O que se confirma também dentro da mesma pesquisa da IBM, já que 71% das pessoas declara que os benefícios da tecnologia compensam a potencial falta de privacidade nos dados.

E, por pior que seja do ponto de vista social e ético, a verdade é que tudo isso é uma pilha de evidências que reafirma a não necessidade dessas empresas mexerem qualquer agulha para lidar de fato com a questão da segurança dos dados das pessoas. Então, realmente estamos nas mãos delas e dos governos. Porque se depender da pressão popular, tudo vai ficar exatamente como está. Se não piorar.