ENTENDENDO A LIDERANÇA ESTRATÉGICA – PARTE #3

Chegamos aqui ao nosso terceiro texto da série sobre a evolução das teorias sobre liderança, trazendo uma abordagem mais contemporânea e adequada aos dias de hoje. Afinal, nos cenários dinâmicos e complexos dos ambientes corporativos atuais, as abordagens teóricas sobre liderança precisaram evoluir consideravelmente, refletindo a crescente compreensão de que não existe um único modelo de liderança que se encaixe em todas as situações.

Duas das abordagens mais relevantes e contemporâneas são a liderança autêntica e a compreensão dos diversos estilos de liderança. A liderança autêntica, como defendida por Bill George, destaca a importância do autoconhecimento, valores, motivação, integração da vida e redes de apoio na formação de líderes eficazes. Enquanto isso, o psicólogo Daniel Goleman propõe que a liderança eficaz requer a capacidade de aplicar diferentes estilos de liderança, como o coercitivo, autoritário, democrático, afiliativo, visionário e de coaching, de acordo com as circunstâncias e as necessidades da equipe. Essas abordagens representam um paradigma moderno e mais flexível, que reconhece a complexidade da liderança em um mundo em constante transformação.

 

LIDERANÇA AUTÊNTICA

A ideia de liderança autêntica representa uma mudança importante na perspectiva da liderança, equilibrando o foco tanto nos líderes quanto nos liderados. Isso é uma evolução em relação às teorias que ficaram fortes nas décadas de 80 e 90 como a liderança transformacional e a liderança servil, que costumavam interpretar um bom líder apenas na sua influência sobre os liderados.

Essa perspectiva reconhece que uma liderança eficaz não pode ser alcançada apenas focando no líder ou nos liderados, mas sim na interação genuína entre eles. Ela coloca uma forte ênfase na autenticidade do próprio líder, incentivando-o a se conhecer profundamente, compreender seus valores e crenças e agir de acordo com eles. Isso equilibra a necessidade de desenvolver líderes genuínos e coerentes com suas próprias identidades.

O principal autor que trata da liderança autêntica é Bill George, professor e ex-CEO da Medtronic, uma das maiores empresas de tecnologia médica do mundo. A ideia de liderança autêntica de Bill George é baseada na premissa de que os líderes mais eficazes são aqueles que são autênticos, ou seja, que são verdadeiros consigo mesmos, que entendem e incorporam seus valores e crenças em sua liderança.

No livro “Authentic Leadership: Rediscovering the Secrets to Creating Lasting Value”, de 2003, ele introduziu o conceito de liderança autêntica ao público. Bill George argumenta que líderes autênticos são aqueles que conseguem ser verdadeiros consigo mesmos, compreender suas paixões e valores fundamentais, e aplicar esses princípios em suas decisões e ações de liderança. Ele também enfatiza a importância da integridade e da honestidade.

Em 2007, ele escreveu uma evolução do conceito no livro “True North: Discover Your Authentic Leadership” (2007). Bill George aqui argumenta que encontrar seu “norte verdadeiro” significa descobrir sua missão de vida e valores centrais, que servirão como bússola para sua liderança. Cada ponto da bússola representa um aspecto fundamental da liderança autêntica.

Autoconhecimento: O autoconhecimento é o ponto central da bússola e representa o núcleo da liderança autêntica. Envolve a compreensão e a aceitação de sua verdadeira essência, incluindo seus pontos fortes, fraquezas, paixões e peculiaridades. Ser autêntico requer honestidade consigo mesmo e com os outros, evitando a tentativa de ser alguém que não é. Um líder autêntico abraça sua autenticidade, até mesmo a vulnerabilidade, construindo conexões mais profundas e genuínas com os outros.

Princípios e Valores: Este ponto da bússola se refere aos princípios éticos e valores centrais que orientam suas escolhas e ações. Identificar e aderir a esses princípios é essencial para tomar decisões éticas e alinhadas com suas crenças mais profundas. Líderes autênticos fazem escolhas consistentes com seus valores, mesmo quando essas escolhas são desafiadoras ou impopulares.

Motivação: A motivação é o terceiro ponto da bússola e envolve a compreensão de sua missão de vida e seu propósito na liderança. Isso significa entender por que você lidera e qual é o significado de seu trabalho. Ter um propósito claro é o que dá significado à liderança e orienta suas decisões e ações. Quando você está alinhado com sua motivação intrínseca, é mais provável que permaneça focado e energizado, independentemente dos obstáculos que possam surgir.

Vida Integrada: O quarto ponto da bússola enfatiza a importância de uma vida integrada, na qual você harmoniza seus compromissos profissionais e pessoais. Líderes autênticos reconhecem que a integração entre trabalho, família e outros aspectos da vida é essencial para uma liderança eficaz e equilibrada. Isso requer uma abordagem holística para o gerenciamento de tempo e prioridades, garantindo que todas as áreas da vida se complementem e se fortaleçam mutuamente.

Rede de Suporte: O último ponto da bússola se concentra nas relações e na construção de uma rede de suporte sólida. Líderes autênticos valorizam relacionamentos genuínos e confiáveis com colegas, mentores e amigos. Essa rede de suporte oferece apoio, feedback construtivo e oportunidades de aprendizado ao longo da jornada de liderança. Reconhecem que o sucesso da liderança está intrinsecamente ligado à qualidade dessas relações e ao apoio que recebem.

Ao incorporar esses princípios, os líderes podem tomar decisões mais alinhadas com seus valores, construir relacionamentos mais fortes e se tornar líderes inspiradores e impactantes.

 

OS ESTILOS DE LIDERANÇA

Daniel Goleman, um renomado psicólogo e autor, é conhecido por sua pesquisa sobre inteligência emocional e também por sua aplicação no contexto da liderança. Ele propôs a ideia de que a liderança eficaz não se limita a um único estilo, mas envolve a capacidade de utilizar diferentes estilos de liderança conforme as circunstâncias e as necessidades da equipe. Essa ideia é fundamental para entender a complexidade da liderança e sua adaptação às situações.

Retomando um aspecto da teoria da contingência, abordada no texto anterior, A importância de entender que existem diferentes estilos de liderança e que cada um deles tem seu lugar reside no reconhecimento de que diferentes desafios e contextos exigem abordagens distintas. Nem sempre um único estilo de liderança é adequado para todas as situações. A eficácia de um líder está diretamente relacionada à sua capacidade de identificar qual estilo é mais apropriado em determinado momento.

Além disso, Goleman destacou que líderes eficazes possuem um repertório amplo de estilos de liderança à sua disposição. Isso significa que eles não estão presos a uma única abordagem, mas podem alternar entre estilos autocráticos, democráticos, afiliativos, coercitivos, entre outros, dependendo do que é necessário para atingir os objetivos e manter a motivação e a produtividade da equipe.

Vamos explorar cada um dos estilos, entendendo seus pontos fortes, fracos e as situações em que mais fazem sentido.

Liderança Coercitiva: a liderança coercitiva é um estilo em que o líder exerce um alto nível de controle sobre a equipe. Nesse modelo, o líder dita as regras e espera obediência imediata. Ele toma decisões unilateralmente e raramente solicita a opinião ou contribuição dos membros da equipe. Esse estilo pode ser eficaz em situações de crise ou quando é necessária uma direção clara e imediata. No entanto, tem suas desvantagens, como a possibilidade de criar ressentimento e desmotivação entre os membros da equipe, além de não ser apropriado para situações que requerem criatividade ou participação ativa da equipe. Podemos observar sua eficácia em situações críticas, como um incêndio florestal intenso. Nesse contexto, a segurança da equipe é a prioridade máxima, e decisões rápidas e ordens claras são cruciais. O líder exerce um controle absoluto, ditando com precisão as ações que devem ser tomadas. Isso garante que a equipe siga as instruções à risca, minimizando riscos e danos.

Liderança Autoritária: a liderança autoritária envolve um líder que estabelece metas e diretrizes, mas ainda permite algum grau de participação da equipe. O líder toma as decisões finais, mas está disposto a ouvir as opiniões dos membros. Esse estilo pode ser eficaz quando a equipe precisa de liderança firme e direção clara, mas ainda deseja algum nível de autonomia. Ajuda a manter o foco e a consistência, embora possa limitar a criatividade e a inovação da equipe. Imagine uma situação em que autoridades descobrem que uma fábrica de produtos químicos está violando regulamentações ambientais, poluindo gravemente um rio próximo e representando um risco para o ecossistema local. Nesse cenário, o CEO da empresa toma decisões imediatas e enérgicas, ordenando a suspensão imediata das operações que causam a poluição, a contratação de especialistas para conter os danos e a implementação de procedimentos rigorosos para cumprir as regulamentações ambientais, que devem ser seguidas à risca por todos os funcionários. Embora as medidas tenham características de liderança autoritária, pode ser a abordagem mais adequada no momento para remediar uma situação crítica.

Liderança Democrática: a liderança democrática é caracterizada pela tomada de decisões de forma colaborativa, com o líder buscando ativamente as opiniões e contribuições dos membros da equipe. As decisões são frequentemente tomadas em grupo, o que promove a participação ativa da equipe e pode gerar soluções mais criativas e eficazes. Isso melhora o moral e o engajamento da equipe, mas pode ser um processo mais lento e requer esforço para alcançar o consenso. A liderança democrática brilha em cenários que requerem criatividade e colaboração, como equipes de pesquisa e desenvolvimento trabalhando em projetos de inovação. Aqui, o líder promove discussões colaborativas e envolve os membros da equipe na tomada de decisões. Isso estimula a criatividade, já que as perspectivas diversas contribuem para soluções mais inovadoras e eficazes.

Liderança Afiliativa: a liderança afiliativa concentra-se na construção de relacionamentos e na promoção de um ambiente de trabalho harmonioso. O líder se preocupa com o bem-estar emocional dos membros da equipe e busca criar laços fortes. Esse estilo é eficaz em promover a lealdade e a coesão da equipe, especialmente em momentos de crise ou quando a moral precisa ser elevada. No entanto, pode não ser apropriado em situações que exigem decisões difíceis ou feedback construtivo. A liderança afiliativa é valiosa quando equipes enfrentam conflitos interpessoais que afetam o desempenho e a moral. O líder se concentra em construir relacionamentos e criar um ambiente harmonioso. Ele investe tempo em resolver conflitos, auxiliando os membros da equipe a se reconciliarem e reconstruírem a confiança, melhorando assim a dinâmica de trabalho.

Liderança Visionária: a liderança visionária envolve a articulação de uma visão inspiradora do futuro e a motivação da equipe para trabalhar em direção a essa visão. O líder fornece inspiração e direção, ajudando a alinhar a equipe em direção a metas claras e significativas. Isso pode ser altamente motivador e orientado para objetivos, mas pode não fornecer orientação prática sobre como alcançar a visão. Portanto, pode não funcionar bem em situações em que a equipe precisa de orientação detalhada. A liderança visionária é particularmente adequada para startups que buscam inovar e disruptar uma indústria estabelecida. O fundador compartilha uma visão inspiradora do futuro, motivando a equipe a trabalhar incansavelmente para alcançá-la. Isso cria um senso de propósito compartilhado, orientando os esforços da equipe em direção a objetivos ambiciosos.

Liderança de Coaching: a liderança de coaching é centrada no desenvolvimento individual dos membros da equipe. O líder age como um coach, fornecendo orientação, feedback e apoio para o crescimento pessoal e profissional de cada membro. Esse estilo promove o desenvolvimento contínuo dos membros da equipe, aumentando suas habilidades e motivação. Pode levar a um alto desempenho a longo prazo, mas pode ser demorado e não é eficaz quando decisões rápidas são necessárias. A liderança de coaching desempenha um papel essencial quando, por exemplo, um funcionário talentoso aspira a avançar em sua carreira e desenvolver suas habilidades. O líder atua como um coach, fornecendo feedback constante, orientação personalizada e oportunidades de aprendizado. Isso capacita o funcionário a crescer e atingir seu potencial máximo, beneficiando tanto o indivíduo quanto a organização como um todo.

Esses são os principais estilos de liderança de acordo com Daniel Goleman. Cada estilo tem seu lugar e aplicação adequada, dependendo das circunstâncias e das necessidades da equipe e da organização. Líderes eficazes são capazes de adaptar seu estilo de liderança para atender às demandas em constante mudança do ambiente de trabalho.

 
 

Ao final dessa trinca de textos sobre liderança, percebemos que as abordagens começaram totalmente no “eu” do líder e depois começaram a migrar intensamente para o “outro”, dos liderados. Duas formas bastante desequilibradas de enxergar uma relação que é cada vez mais de mão dupla.

À medida que exploramos essas perspectivas mais contemporâneas, entenderemos como líderes autênticos são formados e como a versatilidade na aplicação dos estilos de liderança pode ser uma habilidade valiosa para líderes que desejam enfrentar os desafios variados do cenário empresarial atual. Cada abordagem traz insights valiosos para orientar líderes e gestores em sua busca por liderança eficaz, incentivando a reflexão sobre quem são como líderes e como podem se adaptar para liderar com sucesso em diferentes contextos e desafios.

Portanto, nestes textos buscamos criar essa compreensão, analisando as nuances e aplicabilidades de cada abordagem, a fim de capacitar os líderes a se tornarem mais eficazes e adaptáveis em suas jornadas de liderança.

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