Smart Desking: uma abordagem para dados secundários

                                   

Informação e pesquisa são fundamentais para qualquer estratégia, mas o desafio hoje não é a falta de dados – é o excesso. A abundância de informações secundárias disponíveis na internet, embora seja um recurso poderoso e acessível, pode facilmente se transformar em um obstáculo, gerando confusão e desperdício de tempo. Nesse cenário, ter uma metodologia estruturada que ajude a navegar no mar de dados e a extrair insights relevantes é essencial para quem quer tomar decisões estratégicas com confiança.

Foi com esse propósito que Bruno Altieri, Gerente Sr de Planejamento Estratégico da Globo e ex-aluno da Sandbox, desenvolveu o Smart Desking. Essa abordagem, discutida no podcast Sinapses, oferece um passo a passo para coletar, filtrar e organizar dados de forma eficiente. Mais do que uma técnica, é uma abordagem prática para transformar a abundância de informações em vantagem competitiva, ajudando estrategistas a extrair valor de cada busca realizada.

 

Possibilidades e limites da pesquisa em dados secundários

A informação é um dos pilares centrais da estratégia. Decisões eficazes exigem dados sólidos e bem fundamentados, e nesse contexto, os dados secundários – informações já coletadas e publicadas por outras fontes – se destacam como um recurso indispensável. Estudos de mercado, relatórios financeiros, artigos acadêmicos e notícias oferecem uma base acessível e econômica, permitindo que profissionais obtenham insights sem precisar conduzir pesquisas originais do zero.

Contudo, essa abundância de informações também traz desafios. Com tantos dados disponíveis, a linha entre encontrar insights valiosos e se perder em um mar de informações irrelevantes é tênue. Muitas vezes, o excesso de dados gera paralisia, fazendo com que estrategistas percam tempo na tentativa de organizar informações redundantes ou superficiais. Sem uma abordagem clara, é fácil dedicar esforço a pesquisas que não agregam valor ou, pior, deixar escapar dados que poderiam ser decisivos.

Outro problema comum é a influência dos vieses cognitivos na busca e interpretação dos dados. Um exemplo é o viés de confirmação, em que há a tendência de buscar apenas informações que validam ideias pré-concebidas, ignorando evidências que apontam na direção oposta. Além disso, a falácia dos custos irrecuperáveis leva à insistência em uma linha de pesquisa infrutífera simplesmente porque já se investiu tempo e energia nela. Esses vieses podem distorcer o processo e comprometer a qualidade das decisões estratégicas.

Outro fator complicador é a tendência de confiar nos primeiros resultados de busca, que nem sempre são os mais relevantes ou precisos. Sem um método estruturado, é comum que dados redundantes e desatualizados sejam incorporados à análise, comprometendo a qualidade das decisões estratégicas. Assim, mesmo com o vasto acesso à informação, a falta de curadoria eficaz pode prejudicar a construção de uma narrativa clara e fundamentada.

Foi Reconhecendo esses desafios que Bruno Altieri desenvolveu uma abordagem prática para pesquisa em dados secundários, que ele chamou de Smart Desking. Essa metodologia visa organizar a busca e priorização de informações de maneira mais eficiente, ajudando profissionais a filtrar o que realmente importa e a evitar os riscos comuns de uma pesquisa mal estruturada. A abordagem proposta por Bruno é prática e orientada para resultados: trata-se de um caminho para extrair valor dos dados secundários sem se perder na abundância de informações disponíveis. Através de perguntas bem formuladas e de um processo estruturado de curadoria, o framework permite que profissionais direcionem seus esforços para dados que realmente importam, evitando distrações e atalhos ineficazes.

 

Smart Desking

O foco desse approach aos dados secundários está em transformar uma grande quantidade de dados disponíveis em insights relevantes, garantindo que o estrategista mantenha o controle durante todo o processo. Esse framework é dividido em seis etapas fundamentais, que orientam desde o planejamento até a análise crítica das informações. Cada etapa tem um papel essencial na construção de uma pesquisa orientada para resultados estratégicos.

Planejar. O primeiro passo é definir claramente o objetivo da pesquisa e quem será o destinatário do material final. O planejamento evita que a busca perca foco e garante que cada esforço esteja alinhado com o propósito da investigação. Assim como ir ao mercado com uma lista de compras, o planejamento serve como um guia, ajudando o estrategista a não se desviar por informações irrelevantes. Além disso, o planejamento deve incluir uma previsão do tempo necessário para a pesquisa e uma ideia inicial das fontes mais relevantes que serão consultadas.

Perguntar. A qualidade das perguntas é determinante para o sucesso da pesquisa. Boas perguntas ajudam a delimitar o escopo da busca e a identificar rapidamente quais dados são mais importantes. E, claro, fazer perguntas não é apenas sobre coletar respostas, mas também sobre gerar novas hipóteses e curiosidades que podem enriquecer a investigação. O estrategista deve se perguntar: O que eu preciso saber? Existe uma relação entre esses dados? Em que contexto a informação será utilizada? Perguntas bem elaboradas evitam buscas superficiais e garantem que a pesquisa esteja alinhada ao objetivo principal.

Procurar. Buscar dados relevantes exige mais do que simplesmente usar mecanismos de busca. É necessário saber onde e como procurar, utilizando ferramentas de pesquisa avançadas como operadores de busca, sinônimos e termos de contexto. A abordagem Smart Desking incentiva o uso de IA para potencializar a busca, convertendo perguntas complexas em termos mais eficientes. No entanto, a busca precisa ser cuidadosa: confiar apenas nos primeiros resultados ou em fontes superficiais pode comprometer a qualidade da pesquisa. Um estrategista eficiente diversifica as fontes, verifica sua confiabilidade e adapta continuamente seus termos de busca.

Peneirar. Durante a busca, muitos dados encontrados não serão úteis ou relevantes para a estratégia. Filtrar as informações é uma etapa crítica para eliminar dados redundantes ou irrelevantes. O objetivo da peneira é garantir que apenas os dados mais consistentes e alinhados com o objetivo da pesquisa sejam mantidos. Isso exige um olhar atento para identificar o que pode ser descartado e o que merece um aprofundamento maior. A capacidade de curadoria é essencial para evitar que a pesquisa se torne uma coleta aleatória de informações sem valor estratégico.

Priorizar. Após a peneira, é necessário organizar e priorizar as informações selecionadas, identificando quais dados são mais importantes para o objetivo final. Nem todas as informações relevantes têm o mesmo peso: algumas serão centrais para a estratégia, enquanto outras servirão como contexto ou apoio. A etapa de priorização permite que o estrategista concentre seus esforços nos dados mais impactantes, evitando sobrecarga de informações na hora da tomada de decisão. Ao organizar as informações em ordem de relevância, o estrategista facilita a construção de uma narrativa clara e persuasiva.

Ponderar. Por fim, é essencial avaliar a credibilidade das informações coletadas e estar atento a possíveis vieses, tanto nas fontes quanto na própria análise. Nem todas as informações disponíveis são precisas ou isentas de distorções. A ponderação envolve verificar a fonte original dos dados, identificar se houve viés metodológico ou temporal e avaliar como os dados se encaixam no contexto da pesquisa. Além disso, o estrategista precisa reconhecer seus próprios vieses cognitivos e manter uma postura crítica durante todo o processo. Essa etapa é fundamental para garantir que as decisões baseadas nos dados sejam sólidas e bem embasadas.

Essas seis etapas são uma abordagem prática e direta que busca otimizar cada etapa da pesquisa em dados secundários, tornando-a mais eficiente e focada. Com um processo estruturado, o estrategista é capaz de extrair o máximo de valor das informações disponíveis e evitar os erros comuns de uma pesquisa mal conduzida. Por meio dessas seis etapas, há um caminho claro para transformar dados em insights estratégicos, garantindo que cada decisão seja embasada nas melhores informações possíveis.

 

As grandes dificuldades: onde procurar e como avaliar a qualidade das informações?

Em um cenário cada vez mais dinâmico e saturado de dados, a habilidade de saber onde buscar informações se tornou essencial. Nem todas as fontes são adequadas para todas as necessidades, e cabe ao estrategista entender qual plataforma ou ferramenta é mais eficiente para cada tipo de pesquisa. Por muito tempo, o Google foi soberano como principal buscador de informações, e ainda hoje é um recurso indispensável para encontrar fontes originais e verificar dados com maior precisão. No entanto, novas alternativas vêm emergindo e desafiando essa hegemonia, oferecendo formas mais contextuais e rápidas de acessar informações específicas.

Uma dessas alternativas é o TikTok, que vem se destacando como um local para buscas mais práticas, como tutoriais, dicas de viagem e orientações sobre temas do cotidiano. Em um mundo onde vídeos curtos e conteúdos visuais ganham cada vez mais relevância, buscar diretamente em plataformas sociais pode ser uma escolha mais eficaz do que acessar sites tradicionais. O TikTok e outras redes sociais permitem que os usuários obtenham respostas rápidas e contextualizadas para dúvidas práticas, trazendo uma perspectiva nova e imediata sobre os temas pesquisados. Essa abordagem é especialmente útil para quem procura experiências ou recomendações autênticas, que muitas vezes não aparecem em resultados tradicionais de busca.

Por outro lado, as IA generativas como ChatGPT e outros assistentes virtuais estão revolucionando a forma como acessamos informações gerais. Em muitos casos, essas ferramentas oferecem um ponto de partida rápido e resumido, evitando que o usuário precise vasculhar várias fontes para obter uma resposta. No entanto, a eficácia da IA é limitada quando se trata de informações altamente precisas ou de fatos verificáveis. Como as IAs são treinadas em grandes volumes de dados, elas podem produzir respostas errôneas ou “alucinações” – informações incorretas apresentadas como verdadeiras. Nesses casos, o uso do Google ainda é indispensável para confirmar e validar informações.

O Google continua a ser uma plataforma robusta para encontrar fontes originais e verificar dados. Seu papel como intermediário entre o pesquisador e as publicações acadêmicas, estudos de mercado e relatórios empresariais permanece insubstituível. Quando se trata de dados secundários que exigem maior profundidade e precisão, buscar diretamente na fonte é essencial para garantir a qualidade e a credibilidade das informações utilizadas na estratégia. Por isso, mesmo com a crescente popularidade das redes sociais e da IA, o Google segue sendo uma ferramenta-chave para quem precisa de rigor e confiabilidade.

Além de saber onde buscar, é cada vez mais relevante compreender como os dados são produzidos, checados e publicados. Não basta encontrar a informação; é preciso saber qual é a origem e a metodologia por trás dela. Quem produziu o estudo? Qual foi o contexto em que os dados foram coletados? Esses dados foram revisados e verificados? Entender a dinâmica da pesquisa e da produção de informações é fundamental para construir uma análise sólida e confiável.

Com a explosão de informações disponíveis, avaliar a credibilidade das fontes se tornou uma habilidade crítica. É essencial reconhecer a diferença entre uma fonte de autoridade – como uma publicação científica ou um relatório de uma instituição reconhecida – e uma fonte opinativa ou com viés claro. Cada fonte carrega um contexto e uma perspectiva própria, e cabe ao estrategista ponderar esses elementos ao incluir os dados em sua análise.

Portanto, a capacidade de selecionar a plataforma certa para cada tipo de busca e, ao mesmo tempo, avaliar criticamente a qualidade e a origem dos dados, será cada vez mais importante no cenário atual. No fim das contas, a eficácia da pesquisa em dados secundários depende de saber escolher o caminho certo para cada necessidade e de garantir que todas as informações usadas estejam bem fundamentadas. Ao dominar essas habilidades, o estrategista estará preparado para construir narrativas coerentes e tomar decisões embasadas, transformando o caos informacional em vantagem competitiva.

 

Smart Prompting e o papel de IA no processo de pesquisa

Com o avanço das tecnologias digitais, a inteligência artificial emergiu como uma ferramenta poderosa para otimizar processos de busca e análise de dados. No contexto da pesquisa em dados secundários, a IA pode desempenhar um papel significativo ao facilitar a formulação de perguntas, sugerir termos de busca e até converter questões complexas em pesquisas mais eficazes. No entanto, embora a IA traga benefícios, a análise crítica e a curadoria final permanecem como responsabilidade do estrategista.

Um dos conceitos abordados por Bruno Altieri é o de Smart Prompting, ou seja, como converter perguntas em termos de busca e, assim, melhorar a eficiência das pesquisas. Muitas vezes, um erro comum na pesquisa é iniciar com termos vagos ou amplos, o que leva a uma enxurrada de resultados irrelevantes. Essa técnica permite que os termos de contexto e operadores de pesquisa refinem a busca e reduzam o tempo gasto com tentativas e erros, otimizando o processo desde o início.

Por exemplo, ao buscar informações sobre um tema complexo, como o impacto das mudanças climáticas em setores específicos da economia, a IA pode sugerir termos alternativos, identificar fontes relevantes e até recomendar o uso de operadores avançados, como “relatório:” para buscas em sites específicos ou aspas e asteriscos para localizar frases exatas. Essa capacidade de manipular os termos de busca pode gerar resultados mais precisos e relevantes, garantindo que o estrategista tenha acesso às melhores informações disponíveis.

No entanto, a IA não é infalível e apresenta algumas limitações importantes. Alucinações de IA – resultados incorretos ou inventados – são um risco real, especialmente quando a ferramenta é usada para obter respostas diretas sem validação humana. A IA é eficaz em manipular a linguagem e encontrar padrões, mas não compreende o contexto completo do mundo real. Por isso, é essencial que o estrategista mantenha uma postura crítica e utilize a IA como uma aliada, e não como uma fonte final de verdade.

Outro aspecto relevante é que a IA não elimina a necessidade de curadoria humana. Embora ela facilite a busca, cabe ao estrategista verificar a credibilidade das fontes, identificar lacunas na pesquisa e avaliar se os dados coletados são consistentes e úteis para a narrativa estratégica. A capacidade de fazer conexões complexas, interpretar nuances e adaptar a pesquisa ao objetivo final é uma competência exclusivamente humana, que não pode ser delegada à IA.

Além disso, é importante lembrar que o processo de busca em dados secundários é iterativo. À medida que novas perguntas surgem e a pesquisa avança, o estrategista pode precisar ajustar seus termos de busca e reavaliar as fontes utilizadas. A IA pode ser uma excelente ferramenta para apoiar essas iterações, mas é o estrategista quem define quando é hora de encerrar a busca e consolidar os resultados. Essa capacidade de reconhecer o momento certo para parar é essencial para evitar que a pesquisa se torne interminável e comprometa a eficiência da estratégia.

Em resumo, a ideia de Smart Prompting representa uma evolução importante na forma como realizamos pesquisas em dados secundários. A IA melhora a eficiência, mas não substitui o papel humano na curadoria e interpretação dos dados. Ao incorporar essas ferramentas de maneira estratégica, ampliamos as possibilidades de pesquisa sem abrir mão da análise crítica e da responsabilidade humana, garantindo que cada decisão seja baseada nas melhores informações possíveis.

 
 

Em um mundo onde a informação é abundante e acessível, a habilidade de filtrar, priorizar e interpretar dados com discernimento é o verdadeiro diferencial competitivo. A pesquisa em dados secundários não é apenas uma etapa preparatória para a tomada de decisões, mas sim um processo estratégico por si só, capaz de transformar fragmentos de informação em insights valiosos. A capacidade de selecionar a plataforma certa para cada necessidade e validar a qualidade das fontes garante que as análises se sustentem e levem a decisões mais sólidas e eficazes.

A abordagem prática do Smart Desking é uma resposta ao desafio de organizar esse fluxo constante de dados, mostrando que o sucesso na pesquisa não está apenas em acessar a informação, mas em saber o que fazer com ela. No final, é a combinação entre método estruturado e julgamento crítico que permite ao estrategista navegar com confiança na era dos dados, aproveitando o melhor das ferramentas tecnológicas sem abrir mão da curadoria humana.

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