Captar investimentos é uma forma das empresas expandirem sua atuação e se manterem competitivas no mercado. Mas, como esses investimentos tendem a ser de alto risco, os investidores tendem a ser muito seletivos sobre onde colocam seu dinheiro. É aqui que entram em cena os capitalistas de risco, responsáveis pelos aportes financeiros que vemos por aí sendo chamado de VC (Venture Capital).
São eles que avaliam uma organização antes de aportar os investimentos e escolhem a dedo as empresas que irão investir. Do outro lado, encontram empresas que também traçam estratégias e se preparam para captar seus investidores. Assim, esses capitalistas de risco podem não apenas fornecer financiamento para empresas jovens e inovadoras, mas também trazer uma parceria com profissionais experientes para desenvolver e expandir um negócio.
E o grande x da questão é que qualquer ser humano racional só investe naquilo que enxerga valor. E aí vem a pergunta de 1 bilhão de dólares: qual o critério para percepção de valor? Como isso se forma na cabeça de um capitalista a ponto de fazê-lo colocar em risco parte de seu patrimônio?
Estratégias dos VCs para investir em empresas
Com empresas maduras, o processo de estabelecimento de valor e capacidade de investimento é bastante simples. As empresas estabelecidas produzem vendas, lucros e fluxo de caixa que podem ser usados para chegar a uma medida de valor bastante confiável. Para empreendimentos em estágio inicial, no entanto, os VCs precisam se esforçar muito mais para entrar no negócio e na oportunidade.
Ou seja, o fator decisivo aqui não é uma empresa ser gigante, ou recém ter começado no ramo. E o que, de fato, os investidores procuram em uma oportunidade de investimento? Embora essencial, uma “boa ideia” não é suficiente. Vários fatores pesam nas decisões de um aporte de capital de risco, incluindo a equipe, a prova de conceito, o tamanho do mercado e os termos do investimento. O que um capitalista de risco geralmente avalia quando o assunto são empresas ofertando chances de investimentos:
Capacidade de liderança dos fundadores ou diretores. É entender o potencial de sucesso dos líderes
Qualidade ou força da equipe. Os VCs também investem em pessoas, não apenas em negócios.
Produto inovador, com diferenciais claros e fortes no mercado, algo que realmente impacte o público consumidor.
Prova de conceito, também conhecida como “tração”. Se a empresa ou startup estiver em estágio inicial, é importante ver que o negócio é realmente viável, não apenas uma ideia ou um PPT bonito.
Nicho de mercado amplo e crescente, em que as pessoas realmente estejam gastando dinheiro nesse mercado
Taxa de queima de caixa saudável. Quanto você tem atualmente e com que rapidez acabará? Se a empresa está obtendo receitas atualmente, a taxa de queima será sua receita menos os custos operacionais.
Um plano detalhado de como o capital será colocado para trabalhar. Uma previsão financeira detalhada de onde, quando e para quê o dinheiro será utilizado.
Potencial 10x maior. Como os capitalistas de risco estão investindo em empresas de maior risco, geralmente procuram múltiplos de saída de 10x. Isso ocorre porque metade de seus investimentos provavelmente valerão zero em cinco anos, e outros podem não retornar mais do que seu investimento original. Para fornecer um ROI razoável em todo o portfólio de investimentos, eles precisam procurar empresas que compensem os investimentos que não retornam tão bem (ou nada).
Ajuste da tese de investimento. Os VCs procuram empresas que se enquadrem em sua filosofia de investimento e complementem seu portfólio e marca. Isso não é porque eles são esnobes ou excessivamente seletivos; é realmente um benefício para as empresas que eles apoiam. Ao escolher investimentos que se adequem à sua filosofia de investimento, eles podem concentrar sua orientação nos setores em que têm mais experiência. Isso significa que eles estão procurando um negócio ao qual possam agregar melhor valor estratégico.
Certamente, cada situação é particular e possui suas peculiaridades, mas em geral, esses são os principais pontos que os capitalistas de risco avaliam em sua estratégia para investimentos em empresas, o que dá pistas para os empreendedores se prepararem para esse passo.
Value Investing: a estratégia de Warren Buffet
Estratégias de capital de risco existem aos montes. O que deu certo para uma marca, pode não dar certo para outra. Ou pode. O fato aqui é que Warren Buffet, célebre empreendedor, presidente da Berkshire Hathaway e um dos homens mais ricos do mundo – famoso por seus investimentos por sua fortuna e seus investimentos – decidiu apostar em uma delas e o sucesso tem sido tremendo. Ela não é melhor, nem pior do que as outras, é uma estratégia, uma das opções possíveis, utilizada por alguém de renome como Buffet.
A estratégia de investimento adotada por Buffet para alcançar esse patamar foi a Value Investing, que aposta no potencial de valor das empresas a longo prazo, e não em seu preço de mercado atual, nem seu volume de transações na bolsa. Em resumo, quem aplica o conceito não “segue a manada”. O objetivo é investir em empresas das quais o investidor gosta e confia, investindo e lucrando com o crescimento. Esse processo foi desenvolvido inicialmente pelos economistas Benjamin Graham e David Dodd, dois professores da Columbia Business University, no final dos anos 20.
A premissa inicial é descobrir empresas que, apesar de consistentes, estão sendo negociadas na bolsa por um valor abaixo do que deveriam e comprar as ações, investigando os indicadores das companhias, que vão determinar o crescimento ou não de receitas e valorização, no longo prazo. A empresa de Warren Buffet, por exemplo, comprou uma quantidade significativa de ações da Coca-Cola. O motivo? Buffet gosta muito de Coca-Cola e acredita que as pessoas sempre vão continuar consumindo a bebida. Errado não parece estar, né?
Claro que não é tão simples e superficial assim a decisão, mas este é um ótimo exemplo de como o value investing tem valores intrínsecos na análise: o investidor precisa se identificar de alguma forma com a empresa para entender e avaliar seu potencial no futuro.
Em 2021, Buffet fez essa análise e entrou com mais força em empresas como a petroleira Chevron e a tele Verizon, que sofreram bastante durante a pandemia. Por outro lado, reduziu sua participação na Apple, que viu suas ações dispararem em tempos de isolamento social (ainda representa cerca de 40% da carteira da Berkshire). Também investiu, no fim de 2020, no IPO da Snowflake, startup de armazenamento em nuvem. Ou seja, ele se cerca de boas opções e, na soma dos fatores, raramente perde dinheiro.
Como os capitalistas de risco tomam decisões
Nos últimos 30 anos, o capital de risco se tornou impulsionador do valor econômico. Apesar disso, pouco se sabe sobre o que os VCs realmente fazem e como eles criam valor. Recente pesquisa da Harvard Business Review com 900 VCs ao redor do mundo questionou como eles obtêm negócios, qual estrutura investimentos, como gerenciam marcas de portfólio pós-investimento, como se organizam e gerem seus relacionamentos com sócios limitados (que fornecem o capital que os VCs investem).
As respostas geraram insights preciosos, em resumo:
A primeira tarefa de um VC é conectar-se com startups que buscam financiamento.
Empreendedores que não estão conectados aos círculos sociais e profissionais certos têm mais dificuldade em obter financiamento. Poucos negócios são produzidos por fundadores que batem o caminho até a porta de um VC sem nenhuma conexão.
Mesmo que empreendedores tenham acesso ao VC, as chances de financiamento são baixas. A pesquisa descobriu que as empresas consideram, em média, 101 oportunidades. 28 levarão a uma reunião com a gerência; 10 serão revisadas com parceiros; 4,8 terão interesse; 1,7 passarão para a negociação; e apenas uma será financiada.
Poucos VCs usam técnicas padrão de análise financeira para avaliar negócios. A métrica mais usada é o dinheiro devolvido do negócio como um múltiplo do valor investido – tal do ROI.
Em geral, os negócios são estruturados para que os empreendedores que atingem marcos específicos mantenham o controle e colham recompensas monetárias. Se eles perderem, no entanto, os VCs podem trazer novos administradores e mudar de direção.
Quando questionados sobre o que mais contribuiu para o sucesso ou o fracasso de suas empresas de portfólio, os VCs destacam as lideranças como fator decisivo.
Depois que os VCs colocam dinheiro em uma empresa, se tornam ativos, interagindo com 60% das empresas pelo menos uma vez por semana e com 28% várias vezes por semana.
Como essas descobertas podem ser usadas na prática? Os resultados da pesquisa mostram que, como os VCs dependem de suas redes para obter oportunidades, os empreendedores devem pesquisar quem pertence à rede de um VC para tentar obter uma introdução de alguém nela. Como a equipe de gestão pesa muito nas decisões de investimento, os empreendedores devem pensar cuidadosamente sobre como se apresentar da melhor maneira possível quando atenderem a um VC. Como eles olham para mais de 100 oportunidades para cada um em que investem, devem estar preparados para lançar seus investimentos para muitos VCs.
Os maiores sucessos de VCs de todos os tempos
A CB Insights, empresa privada com uma plataforma de análise de negócios e banco de dados global que fornece inteligência de mercado, analisou 45 dos maiores sucessos de VCs de todos os tempos para saber mais sobre o que eles têm em comum. Aqui, destacamos 4 empresas dessa lista: WhatsApp, Alibaba, Hero e Spotify.
A compra do WhatsApp por US$ 22 bilhões pelo Faceboo k foi a maior aquisição privada de uma empresa apoiada por capital de risco em 2014. Também foi uma grande vitória para a Sequoia Capital, o único investidor de risco da empresa, que transformou o investimento de US$ 60 milhões em US$ 3 bilhões.
O sucesso da Sequoia foi construído em sua parceria exclusiva com os fundadores do WhatsApp, que foi a única investidora na rodada da Série A de US$ 8 milhões em 2011, que avaliou a empresa em US$ 80 milhões E Também foi a única investidora na rodada subsequente da Série B. A Sequoia sabia do futuro brilhante do WhatsApp, mesmo quando o aplicativo foi escalado para centenas de milhões de usuários com receita insignificante.
Quando o Facebook adquiriu o WhatsApp por US$ 22 bilhões, a Sequoia havia investido um total de US$ 60 milhões em cerca de 18% da propriedade. Sua participação valia mais de US$ 3 bilhões, um retorno geral de 50 vezes.
Alibaba
Em 2014, o Alibaba vendeu US$ 22 bilhões em ações no que foi, e ainda é, o maior IPO registrado. 14 anos antes, em 2000, a empresa de telecomunicações SoftBank havia investido US$ 20 milhões em 34% do Alibaba. Embora seu IPO tenha sido avaliado em US$ 167,6 bilhões, sua estreia no mercado público deu ao Alibaba um valor de mercado de US$ 231 bilhões – e avaliou a participação do SoftBank na empresa em mais de US$ 60 bilhões.
O Alibaba era um modelo pré-receita e pré-negócio quando o SoftBank investiu. Em 2014, o prospecto de IPO do Alibaba listou o SoftBank como o maior acionista com uma participação de 34,1%. Hoje, o Softbank Group é indiscutivelmente o maior investidor do mundo em empresas privadas.
Delivery Hero
O serviço de entrega Delivery Hero abriu o seu capital em 2017 com avaliação de US$ 5,1 bilhões. Foi um grande momento para um dos ex-rivais e maiores investidores da Delivery Hero, a Rocket Internet, que adquiriu uma participação de 30% na empresa dois anos antes, em 2015. Essa participação custou cerca de US$ 560 milhões, resultando em um retorno de papel de quase 3x sobre o seu investimento. No final de 2016, a Rocket vendeu a Foodpanda para Delivery Hero, seu antigo rival. A venda foi financiada pela emissão de novas ações da Delivery Hero para Rocket, aumentando a sua participação para 37%. Mais tarde, isso se traduziu em um retorno de 7,5 vezes mais ao vender a empresa em dificuldades para a mais forte.
Em vez de competir, a Foodpanda uniu forças com a empresa para obter uma vitória maior. A fusão deu à Delivery Hero uma posição mundial no setor de takeaway. Em 2017, a marca cresceu em todas as regiões, com a receita na Europa evoluindo em 44% no primeiro trimestre de 2017.
Spotify
Muitos investidores se saíram bem no IPO do Spotify em 3 de abril de 2018, quando a plataforma de streaming foi avaliada em US$ 29,5 bilhões. A então pequena empresa sueca de capital de risco e investidora Creandum saiu com um retorno de 80x em seu investimento. No total, a Creandum investiu cerca de US$ 4,5 milhões na empresa para uma participação de aproximadamente 6%. Na saída, sua participação na empresa foi avaliada em US$ 370 milhões.
Já conhece o Sinapses, podcast da Sandbox? No segundo episódio da trilogia sobre os pilares fundamentais do conceito de estratégia, Felipe Senise e Daniel de Tomazo conversam sobre competição, como uma condição de existência da disciplina. Além disso, mergulham na análise do mercado de streaming como um estudo de caso aplicado, mas motivados pela recente queda de assinantes da Netflix. Conheça, siga, ouça e, por que não?, dá 5 estrelinhas lá pra gente 😀