Walt Disney, Storyboards e Startups

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Lá nos anos 20, Walt Disney desenvolveu uma técnica que seria famosa por décadas e décadas e continua sendo usada até hoje: o storyboard. Como ele mesmo dizia:

 “Na Disney, nós não escrevemos as historias, nós desenhamos histórias.”

Storyboard é a ideia de desenhar uma série de quadros estáticos que representam todas as tomadas de um filme. Na verdade, começou sendo para animações e passou a ser usado em filmes live action também.

Resgatamos um filme antigo da Disney em que eles explicam a história do storyboard, seus usos passados e presentes, assim como seus benefícios. E nos pareceu totalmente contemporâneo com conceitos como “lean”, teste-and-learn, mvp, protótipos… tudo o que há de mais moderno na maneira de pensar startups e inovação de modo geral.

Por isso, trouxemos 5 paralelos sobre storyboards que se aplicam ao nosso mundo de business nos tempos atuais.

 

1. Blueprint

Nos storyboards de filmes, como são desenhadas todas as tomadas e colocadas em pequenos retângulos sequencialmente dentro de grandes boards, quando você olha de longe, está vendo o filme todo, de uma vez só. Isso é muito interessante para avaliar o fluxo do filme de maneira macro, entendendo se tudo está funcionando, com continuidade.

Hoje em dia, essa possibilidade de ter um retrato macro de negócios tem tido cada vez mais valor. Páginas que consolidam de forma unificada um plano [one-page strategy] ou mesmo o popular business canvas são tentativas de sistematizar e sintetizar a complexidade de um negócio, uma estratégia ou um planejamento.

 

2. Mínima História Viável

Em vários momentos, o filme retrata o storyboard como uma espécie de “mínima história viável”. Você poderia pensar que isso seria um roteiro, mas a verdade é que o cinema é uma arte visual e até que se veja algo ilustrado de alguma forma, não pode-se compreender o que será necessário para construir um filme. Então, o storyboard traz essa noção de muitos desenhos simples, que dão uma noção mais precisa de que tipo de filmagem será necessária, que tipo de locações, efeitos especiais etc.

Uma startup segue a mesma lógica, criando inicialmente aquilo que entende ser o seu produto na forma mais simples possível, avaliar sua proposta de valor com as pessoas, testar seu product market fit e, a partir daí, ir evoluindo em sofisticação e complexidade.

 

3. Protótipo

No fundo, um storyboard pode ser entendido como o protótipo de um fime. Ele demonstra tudo o que precisará estar em tela de um jeito bastante “caseiro”, exigindo apenas sketchs em pedaços de papel. E como é desenhado para ser flexível, com os cards presos em boards com pins, é algo que permite com que os desenvolvedores vão alterando suas ideias na medida em que vão compreendendo melhor sua própria criação.

Isso vai completamente ao encontro de um protótipos de produtos, serviços e, especialmente, apps. Pensando em como se desenvolve aplicativos hoje, todo o UX é pensando de maneira esboçada, com ferramentas que nos permitem criar novos elementos, exclui-los ou muda-los de lugar. Testando algo ainda nesse estágio já é possível aprender muito sobre como o produto precisará acontecer na prática. De um jeito barato e com construção conjunta e orgânica.

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4. Diversidade de olhares

Algo interessante que o vídeo aborda é como o storyboard é uma maneira de tirar apenas do diretor e seus pares [de fotografia e/ou de arte] a ideia visual das cenas e suas composições. Afinal, o próprio artista que desenvolve o storyboard pode contribuir com os seus olhares e suas ideias, enriquecendo assim todo o processo criativo.

E não há nada tão contemporâneo em empresas quanto a ideia de montar equipes multidisciplinares, ou squads, para tirar de uma só pessoa ou área a direção do desenvolvimento de um projeto. Diversidade de olhares é algo que naturalmente tem o poder de crescer as ideias e torna-las mais interessantes.

 

5. Pitch

Um outro lado muito interessante do storyboard é que ele sempre vem acompanhado de uma espécie de “pitch”, em que os artistas devem apresentar a história quadro a quadro, não só narrando, mas atuando e entregando emoção para os desenhos estáticos. É quando a equipe consegue compreender de fato se aquilo está funcionando. É quando o verbo encontra a imagem e se concretiza a ideia mais completa de um filme. O filme coloca o próprio Walt Disney como um grande “pitcher”, que conseguia encantar qualquer um quando contava um storyboard que acreditava.

Assim como acontece em qualquer pitch de startup, em que o founder vai na frente de investidores, tendo a missão não só de ser claro, sintético e persuasivo, mas também de colocar a sua alma naquela apresentação e naquela ideia. Como dissemos em outro post, no fundo, o componente pessoal conta demais um bom pitch nunca pode deixar de entregar isso.


 Além desses 5 pontos, o filme encerra com talvez aquele que seja o maior ensinamento não só sobre storyboards, mas do próprio Walt Disney, que é o desapego. Eles contam como Disney tinha o ímpeto de trocar coisas de lugares, mexer nos quadros. Mas também como não tinha o menor pudor de acabar com cenas inteiras ou mesmo um filme inteiro quando sentia que aquilo não estava funcionando.

Ao mesmo tempo que isso pode escorregar para o preciosismo, na medida certa, é uma grande virtude. A virtude de buscar algo realmente de qualidade e não ficar levando em frente muito tempo algo em que não se está confortável. Cometemos muito esse erro, com medo de ter perdido tempo ou jogado coisas com valor fora. Mas, na prática, isso não nos levará a um bom lugar no final das contas. É bom aprender com o mestre.