Estratégia e como lidar com riscos

 

Em um contexto empresarial cada vez mais complexo e dinâmico, a gestão de riscos emerge como uma pedra angular para a sustentabilidade e o sucesso organizacional. Desde startups promissoras até conglomerados multinacionais, todas as empresas estão sujeitas a uma miríade de riscos que podem comprometer suas operações e resultados financeiros. A compreensão e a mitigação eficaz desses riscos são essenciais para garantir a resiliência e a longevidade no mercado competitivo atual.

 

O que são riscos para um negócio?

Os riscos associados a um negócio são diversos e abrangem várias dimensões, desde fatores internos até elementos externos que podem afetar a operação e o crescimento da empresa. Entre os riscos mais significativos estão os riscos de mercado, operacionais, financeiros, regulatórios, de reputação, ambientais, tecnológicos e aqueles relacionados a desastres e eventos externos.

Começando pelos riscos de mercado, as empresas enfrentam a constante ameaça de concorrência. Um exemplo marcante é o impacto da entrada da Amazon em diversos mercados. Empresas tradicionais de varejo, como a Sears, não conseguiram se adaptar rapidamente à mudança trazida pelo comércio eletrônico e acabaram enfrentando dificuldades financeiras severas, culminando em pedidos de falência. Além disso, a demanda por produtos pode ser volátil. A indústria de tecnologia, por exemplo, experimenta ciclos rápidos de demanda com a chegada de novos dispositivos, enquanto setores como o de moda precisam lidar com tendências em constante mudança.

No que diz respeito aos riscos operacionais, falhas internas podem causar interrupções significativas. O exemplo da Toyota, em 2010, ilustra bem isso. A empresa enfrentou um enorme recall de milhões de veículos devido a problemas nos aceleradores, o que não apenas gerou custos diretos de reparo, mas também afetou gravemente a reputação da marca e a confiança dos consumidores.

Riscos financeiros são igualmente críticos. Um exemplo claro é o da Lehman Brothers. Em 2008, a gigante do setor financeiro colapsou devido à sua excessiva exposição a títulos hipotecários de alto risco, contribuindo para a crise financeira global. A falta de liquidez e a incapacidade de cobrir suas obrigações levaram à sua falência, destacando como a má gestão financeira e a exposição a ativos de risco podem devastar uma empresa.

Mudanças regulatórias e legais também representam um risco substancial. A indústria financeira é um exemplo claro disso. Após a crise financeira de 2008, regulamentações mais rígidas foram implementadas globalmente, afetando bancos e instituições financeiras que tiveram que se adaptar a novos requisitos de capital e conformidade, o que muitas vezes resultou em custos operacionais mais elevados e menor flexibilidade.

A reputação de uma empresa é um ativo intangível, mas extremamente valioso e frágil. O escândalo da Volkswagen, conhecido como “Dieselgate”, é um exemplo clássico. Em 2015, foi descoberto que a Volkswagen havia manipulado testes de emissões em seus veículos a diesel. A repercussão foi devastadora, resultando em bilhões de dólares em multas, reparações e uma perda significativa de confiança dos consumidores.

Os riscos ambientais e sociais estão ganhando importância crescente. A BP, em 2010, sofreu um dos maiores desastres ambientais da história com o derramamento de petróleo no Golfo do México. As consequências foram desastrosas, com custos astronômicos de limpeza, indenizações e um enorme impacto negativo na imagem da empresa.

Os avanços tecnológicos podem ser tanto uma bênção quanto uma maldição. Empresas que não conseguem acompanhar a inovação, como a Blockbuster, acabam sendo superadas por novos modelos de negócio. A Blockbuster não conseguiu se adaptar ao streaming de vídeo, o que permitiu que a Netflix dominasse o mercado.

Finalmente, desastres naturais e eventos externos podem interromper operações e causar prejuízos significativos. A pandemia de COVID-19, por exemplo, desestabilizou cadeias de suprimentos globais e forçou empresas de diversos setores a revisarem suas operações. Empresas aéreas, como a Delta Airlines, enfrentaram quedas massivas na demanda, levando a grandes perdas financeiras e reestruturações.

Gerenciar esses riscos de forma eficaz é essencial para a longevidade e o sucesso de qualquer negócio. Estratégias de mitigação, como a diversificação, a inovação constante, o planejamento de continuidade de negócios e políticas de governança robustas, são fundamentais para navegar em um ambiente de negócios cada vez mais complexo e dinâmico.

 

Por que somos tão ruins para avaliar riscos?

A incapacidade humana de acessar e avaliar riscos de forma precisa é um problema generalizado, fortemente influenciado por vieses cognitivos. Esses vieses não só distorcem nossa percepção dos riscos, mas também têm implicações práticas em diversas áreas, especialmente nos negócios.

Uma das razões pelas quais somos tão ineficazes na avaliação de riscos é o fenômeno de ignorar as “taxas base”. Por exemplo, estudos mostram que as pessoas tendem a ignorar a baixa incidência de uma doença ao subestimar a chance de um teste positivo ser um falso positivo. Em um experimento, participantes foram informados que havia 30% de chance de chover em Seattle e Phoenix. Quando perguntados sobre a probabilidade de levar um guarda-chuva em uma viagem a essas cidades, eles acreditavam que era mais provável chover em Seattle, apesar de a previsão já ter levado em conta a maior taxa base de chuva em Seattle. Esse erro cognitivo pode ser desastroso em negócios, como quando um investidor subestima a probabilidade de falência de uma empresa por já acreditar que sua indústria é geralmente segura, ignorando as taxas base que indicam o contrário.

Outro viés comum é a falha em compreender medidas em unidades desconhecidas. Em nossa sociedade, frequentemente precisamos avaliar medições em unidades como calorias, toneladas métricas ou pontos de taxa de juros. Muitas pessoas não têm uma boa noção do que essas unidades significam. Por exemplo, um aumento de 2% em toneladas métricas pode ser compreendido, mas o impacto de um aumento de 2% nas taxas de juros pode ser subestimado. Em negócios, isso pode levar a decisões ruins, como subestimar o impacto de um pequeno aumento nas taxas de juros em um empréstimo corporativo, que pode ter consequências financeiras significativas.

A linguagem ambígua também contribui para a má avaliação de riscos. Termos como “improvável” e “pouco provável” são vagos e interpretados de maneiras diferentes. Pesquisas indicam que as pessoas associam um evento “pouco provável” a uma chance de 10%-30% de ocorrer, mas quando confrontadas com uma distribuição de resultados, elas tendem a ver eventos com uma chance próxima de 0% como “improváveis”. Em negócios, isso pode ser particularmente problemático em comunicações internas e externas. Por exemplo, se um gerente de risco descreve a probabilidade de um projeto fracassar como “improvável”, os stakeholders podem subestimar esse risco de forma perigosa, não tomando as precauções necessárias.

Além disso, o fenômeno da sobrecarga de informações dificulta ainda mais a avaliação precisa de riscos. Processamos uma enorme quantidade de informações diariamente, e nossa capacidade de tomar decisões racionais diminui à medida que aumentam as exigências cognitivas. Em um contexto de negócios, isso pode resultar em decisões precipitadas ou baseadas em informações incompletas, como quando um executivo decide rapidamente sobre um investimento sem considerar todas as variáveis relevantes devido à pressão do tempo.

Viés motivacional é outro fator crítico. Esse viés ocorre quando os objetivos pessoais ou organizacionais influenciam a avaliação de riscos, levando as pessoas a manipular ou distorcer dados para alinhar com seus interesses. Por exemplo, um gestor pode minimizar os riscos de um novo projeto para obter aprovação de financiamento, ignorando deliberadamente dados negativos. Esse comportamento pode levar a consequências catastróficas, como projetos que fracassam e resultam em perdas financeiras significativas para a empresa.

A complexidade cultural também desempenha um papel na forma como avaliamos riscos. Normas e valores sociais influenciam nossas percepções, e o que é considerado arriscado em uma cultura pode não ser em outra. Em um ambiente de negócios global, essa diversidade pode levar a conflitos e mal-entendidos. Por exemplo, uma empresa multinacional pode subestimar os riscos de entrar em um novo mercado devido a uma compreensão inadequada das normas culturais locais, resultando em falhas operacionais e estratégicas.

Esses vieses cognitivos, combinados com a complexidade e a subjetividade inerente à avaliação de riscos, tornam a tarefa desafiadora. As falhas na percepção e gestão de riscos estão frequentemente presentes em incidentes de segurança, violações de dados e crises financeiras, ilustrando a importância de compreender como nossos processos mentais nos conduzem a decisões erradas. Assim, a conscientização sobre esses vieses é crucial para qualquer organização que busca mitigar riscos de maneira eficaz e tomar decisões mais informadas.

 

Como gerenciar os riscos?

Na atualidade, a gestão de riscos é um dos pilares fundamentais para a sustentabilidade e o sucesso de qualquer empreendimento. Desde pequenas empresas até grandes corporações multinacionais, todas estão sujeitas a uma série de incertezas e adversidades que podem comprometer suas operações, reputação e resultados financeiros. Neste contexto, a adoção de uma abordagem estruturada e proativa para identificar, avaliar e mitigar os riscos é essencial. Vamos explorar alguns passos-chave para uma gestão de riscos eficaz dentro de uma empresa.

Identificação dos Riscos Relevantes. O primeiro passo para uma gestão eficaz de riscos é a identificação daqueles que podem ter o maior impacto no negócio. Isso envolve uma análise criteriosa dos diversos tipos de riscos aos quais a empresa está exposta, incluindo riscos operacionais, financeiros, estratégicos, regulatórios, de reputação, entre outros. Por exemplo, uma empresa de tecnologia pode enfrentar riscos relacionados à segurança de dados, enquanto uma empresa de manufatura pode estar mais exposta a riscos operacionais, como falhas de equipamentos.

Priorização e Avaliação dos Riscos. Nem todos os riscos identificados exigem a mesma atenção e recursos. É essencial priorizar aqueles que apresentam maior potencial de dano e probabilidade de ocorrência. Uma abordagem comum para isso é utilizar uma matriz de riscos, que relaciona o impacto potencial de um evento com a sua probabilidade de ocorrência. Dessa forma, os riscos que estão tanto no quadrante de alto impacto quanto de alta probabilidade devem ser tratados com prioridade máxima.

Estratégias de Mitigação e Gerenciamento de Riscos. Uma vez identificados e priorizados, os riscos devem ser abordados por meio de estratégias adequadas de gestão. Existem quatro opções principais para lidar com os riscos. O primeiro é evitar totalmente o risco. Quando possível, a melhor maneira de lidar com um risco é evitá-lo completamente. Isso pode envolver a eliminação de certas atividades, a retirada de determinados mercados ou a não participação em certos projetos que apresentem riscos inaceitáveis. O segundo é mitigar o risco. Se não for viável evitar completamente um risco, é possível tomar medidas para reduzir sua probabilidade de ocorrência ou seu impacto. Isso pode incluir a implementação de controles internos mais robustos, a diversificação de fornecedores ou a melhoria de processos.. O terceiro é o compartilhamento do risco. Alguns riscos podem ser transferidos para terceiros, como seguradoras ou parceiros de negócios, por meio de contratos ou apólices de seguro. Isso pode ajudar a mitigar o impacto financeiro de certos eventos adversos. Por fim, os riscos podem ser retidos. Em alguns casos, pode ser mais vantajoso para a empresa aceitar o risco e reservar recursos financeiros para lidar com suas consequências, caso ocorra. Isso é especialmente verdadeiro para riscos de baixa probabilidade ou impacto relativamente baixo.

Desenvolvimento e Implementação de Planos de Contingência. Mesmo com medidas preventivas em vigor, é essencial estar preparado para lidar com eventuais crises ou eventos inesperados. Nesse sentido, a criação e implementação de planos de contingência desempenham um papel crucial. Esses planos devem incluir a definição clara de responsabilidades, procedimentos a serem seguidos em caso de emergência, comunicação eficaz com todas as partes interessadas e a alocação de recursos necessários para lidar com a situação. Além disso, é importante que esses planos sejam regularmente revisados e atualizados para garantir sua eficácia contínua.

Monitoramento e Revisão Constantes. A gestão de riscos é um processo contínuo e dinâmico que requer monitoramento constante e revisão periódica. À medida que as condições do ambiente de negócios mudam e novos riscos surgem, é crucial adaptar as estratégias e medidas de mitigação conforme necessário. Isso envolve a avaliação regular do desempenho dos controles internos, a análise de tendências e indicadores de risco, e a revisão dos planos de contingência para garantir que estejam alinhados com as necessidades atuais da empresa.

 

Exposição ao risco e o dilema do estrategista

Em um cenário onde os recursos são escassos e cada decisão de investimento conta, surge a pergunta fundamental: até que ponto devemos nos preocupar em mitigar os riscos existentes e proteger o que já temos, em comparação com o quanto devemos nos aventurar no desconhecido, investindo em inovação para impulsionar o crescimento?

A resposta não é simples. Mitigar riscos é crucial para a sobrevivência a longo prazo de qualquer negócio. Identificar e lidar proativamente com ameaças potenciais, seja competição acirrada, mudanças regulatórias ou instabilidades econômicas, é fundamental para manter a estabilidade e a resiliência. No entanto, uma abordagem excessivamente conservadora pode sufocar a capacidade de crescimento e estagnar a empresa em um estado de complacência.

Por outro lado, investir em inovação é o motor do progresso. Empresas que se destacam são aquelas que não têm medo de desafiar o status quo, que se aventuram em novos territórios e que abraçam a mudança. A inovação não apenas impulsiona o crescimento, mas também fortalece a posição competitiva, aprimora a eficiência operacional e constrói uma base sólida para o futuro.

Empresas emergentes e de menor porte frequentemente exibem um apetite considerável pelo risco. Com menos a perder e uma necessidade premente de conquistar uma posição relevante no mercado, elas veem a inovação como uma ferramenta essencial para impulsionar o crescimento e garantir sua sobrevivência. Para essas empresas, a aversão ao risco pode ser um luxo que simplesmente não podem se dar ao luxo de ter.

No entanto, a volatilidade é uma companheira constante das empresas em estágios iniciais. Uma exposição excessiva ao risco pode se revelar fatal, levando a consequências devastadoras, incluindo o fechamento das portas. Assim, embora a disposição para assumir riscos seja uma característica marcante das startups, a gestão cuidadosa desses riscos ainda é crucial para evitar armadilhas potenciais.

Por outro lado, as empresas estabelecidas e consolidadas tendem a adotar uma abordagem mais cautelosa em relação ao risco. Com uma posição mais sólida no mercado e uma base de recursos mais robusta, essas organizações estão menos inclinadas a correr grandes riscos em busca de inovação. Em vez disso, tendem a priorizar a estabilidade e a proteção dos ativos existentes.

No entanto, mesmo essa descrição não conta toda a história. Empresas grandes e consolidadas podem ter mais capacidade de absorver os impactos negativos de decisões arriscadas, mas ainda estão sujeitas a consequências significativas. Um erro estratégico ou uma aposta mal calculada pode resultar em perdas substanciais de receita, danos à reputação e até mesmo declínio no valor das ações.

Assim, o dilema persiste: até que ponto devemos nos concentrar em mitigar os riscos existentes e proteger o que já temos, em comparação com o quanto devemos nos aventurar no desconhecido, investindo em inovação para impulsionar o crescimento? Esta questão desafia os líderes empresariais a explorar as complexidades da gestão estratégica. Não há resposta fácil ou solução definitiva; é um dilema que continua a intrigar e instigar reflexões profundas. A busca por um equilíbrio delicado entre a gestão de riscos e a promoção da inovação é uma jornada contínua, marcada por escolhas difíceis e análises cuidadosas.

Em última análise, o dilema entre mitigar riscos e investir em inovação é uma das muitas encruzilhadas enfrentadas pelos estrategistas empresariais. A complexidade dessa questão ressalta a importância de uma abordagem holística e adaptativa à gestão estratégica, onde a agilidade e a capacidade de resposta se tornam ativos vitais em um mundo de mudanças constantes.

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